O Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos da Fundação Perseu Abramo (Noppe) tem apontado, em seus boletins e em análises divulgadas aqui na Focus Brasil, que o segmento com menor renda garante altos índices de reprovação ao governo Bolsonaro e uma dianteira significativa para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos cenários eleitorais. Com a divulgação de novos dados dos institutos IPEC (antigo Ibope) e Datafolha, além de outras lançadas em setembro, é possível traçar um panorama atualizado sobre a questão.

Em ambas as pesquisas, é marcante a relação diretamente proporcional na aprovação do governo Bolsonaro se analisarmos as faixas de renda. No levantamento do Datafolha, por exemplo, quanto maior a renda, maior a aprovação. São 17% e 36%, respectivamente, nas faixas até 2 salários mínimos (SM) — R$ 2,2 mil — e mais de 10 SM — R$ 11 mil — de renda familiar mensal. Em relação à reprovação, ocorre o inverso: na primeira faixa são 56% que consideram o governo ruim ou péssimo, número que é de 46% na faixa de renda maior que 10 salários mínimos. Segundo o instituto, houve queda na reprovação na faixa de maior renda desde maio: de 63% para 46% desde maio.

Nos cenários de intenção de voto para o primeiro turno, no Datafolha, Lula tem melhor desempenho quanto menor a renda do eleitor — 54% entre os que possuem renda até 2 SM, e 23% para os que possuem renda maior que 10 SM. Já a intenção de voto em Bolsonaro cresce quanto maior a renda — 20% renda até 2 SM e 42% renda mais que 10 SM.

Lula tem vantagem de 34 pontos percentuais para Bolsonaro entre os mais pobres, e de 6 pontos percentuais no segmento com renda de 2 a 5 SM, os dois mais numerosos do ponto de vista demográfico. Já Bolsonaro tem vantagem de 17 pontos na renda de 5 a 10 SM, 19 pontos com renda maior que 10 SM. Entre os outros candidatos, o desempenho de Doria melhora entre os mais ricos — vai de 4 para 8 pontos. Ciro chega aos 12% na faixa de 2 a 5 SM. O melhor segmento de Mandetta também é entre os mais ricos — 6 pontos.

Na pesquisa IPEC, a vantagem de Lula para Bolsonaro no segmento de menor renda é de 38 pontos percentuais (56% a 18%), enquanto Bolsonaro tem seu melhor desempenho na faixa de renda maior que 5 SM – 40% contra 29% de Lula.

A vantagem de Lula no segmento de menor renda é substancial e, no momento, maior do que na última eleição disputada pelo ex-presidente. Lula chegou às vésperas do primeiro turno de 2006 com vantagem de 16 pontos percentuais sobre o candidato Geraldo Alckmin (PSDB). Neste sentido, Lula mantém hoje vantagem maior sobre Bolsonaro do que quando foi reeleito.

No segundo turno, segundo o Datafolha, Lula amplia a vantagem nos dois segmentos de menor renda da população: 41 pontos na renda até 2 SM, 12 pontos na renda até 2 a 5 SM. Já Bolsonaro tem vantagem de 12 pontos tanto entre 5 a 10 SM, quanto na renda maior que 10 salários. O IPEC não divulgou simulações de segundo turno.

Ambos os institutos mediram a opinião dos brasileiros sobre a situação do país. Sob o recorte de renda, destaque para o número de 61% dos entrevistados com renda menor que 2 salários mínimos que afirmaram que a situação econômica pessoal piorou, número que é de 34% no segmento mais rico. Somente 8% dos entrevistados do segmento de menor renda sentiram melhora na situação econômica do Brasil, número que chega a 22% entre os mais ricos. Em relação à piora, também persiste essa distinção: 70% dos mais pobres da amostra e 62% entre os mais ricos.

O instituto aponta também que 88% dos entrevistados com renda familiar mensal menor que dois salários mínimos tiveram redução no consumo de algum tipo de alimento desde o início do ano – 73% deste segmento reduziram o consumo de carne bovina, por exemplo. Entre os mais ricos, 36% diminuíram o consumo deste mesmo alimento. De acordo com o IPEC, há maior percepção de que o Brasil está no caminho errado entre os mais pobres: 73% no segmento com renda menor que 2 SM, enquanto que entre o segmento mais rico, o número que é de 58%.

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