O Brasil chega aos mil dias do governo Bolsonaro respirando por aparelhos. O balanço do desgoverno envolve uma catástrofe sanitária, social e econômica. A tragédia humanitária na condução da pandemia com 597.749 mortos está sendo acompanhada pela devastação do meio ambiente, o desmonte do estado de bem-estar social, a retirada de direitos dos trabalhadores, o ataque à democracia com degradação das instituições e o isolamento do Brasil na comunidade internacional. 

Uma das faces mais cruéis desses mil dias de escuridão é a volta da fome, da miséria e o agravamento da desigualdade. São 116,8 milhões de pessoas em condições de insegurança alimentar e 19,1 milhões passando fome. Além disso, cerca de 2,2 milhões de famílias estão na fila do Bolsa Família, que não é reajustado desde 2016.

A desestruturação do mercado de trabalho é muito profunda. São 14,4 milhões de desocupados, 5,6 milhões de desalentados e 32,2 milhões de subutilizados. Tudo isso em um cenário de volta acelerada da inflação, que acumula alta de 15,2% com Bolsonaro, e de retração do PIB, que ficou em -0,1% no 2º trimestre deste ano, acompanhada por um acelerado processo de desindustrialização e fuga de empresas do país. 

A Petrobras, uma empresa estratégica para o desenvolvimento nacional, está totalmente submetida a maximizar o lucro dos acionistas minoritários, com o indexamento do preço do combustível ao dólar e ao preço internacional do barril de petróleo. O resultado são preços abusivos no diesel, na gasolina e no gás de cozinha.  Esses preços elevados impactam a estrutura de transporte e alimentam a inflação, também pressionada pelos elevados preços da energia elétrica, que atravessa uma grave crise hídrica e erros de gestão do sistema, que projetam riscos crescentes de um apagão.

É contra todos esses retrocessos que  as centrais sindicais, o movimento negro, a juventude, os estudantes, as organizações em defesa da moradia, as mulheres, os trabalhadores e as trabalhadoras, as pessoas LGBTQIA+ e todos os partidos de esquerda tomaram as ruas do país neste dia 2 de outubro. Estive pessoalmente na Paulista e vi de perto toda a energia, a alegria e a força de uma das mais vigorosas mobilizações das forças progressistas desde as campanhas das diretas.

Os desafios da reconstrução do Brasil são gigantescos, mas há um novo caminho que deverá exigir o protagonismo do Estado como coordenador e indutor do processo de reconstrução e transformação do país. Nos Estados Unidos, há uma dura disputa para rever o papel do Estado e na União Europeia, um novo programa inovador e estratégico, Next Generation, busca respostas para a superação do modelo neoliberal.

Não será com mais do mesmo que vamos superar essa dramática situação do Brasil. Os candidatos da chamada terceira via ou apoiaram Bolsonaro ou se omitiram diante da tragédia anunciada. São, em sua maioria, antibolsonaristas tardios que seguem apoiando aberta ou envergonhadamente o neoliberalismo de Guedes. 

A alternativa para o Brasil não é a terceira via, mas é a melhor via, que fez o que prometeu e que entregou os melhores resultados que o Brasil já teve na história contemporânea. É a via que provou ser possível combinar estabilidade com crescimento econômico, soberania, sustentabilidade, cidadania, democracia, distribuição de renda e justiça social. Por isso, Lula segue liderando e crescendo fortemente em todas as pesquisas e ampliando as alianças políticas pelo país.

A disputa será entre o atraso, o obscurantismo e a violência,  patrocinados por Bolsonaro, e a democracia e um novo modelo de desenvolvimento justo, solidário e sustentável, representados por Lula. Nessa disputa entre a barbárie e a civilidade, o povo na rua e a liderança de Lula são as luzes no fim do túnel nesses tempos de escuridão.

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