“Alternativas e caminhos na luta em defesa da democracia” foi o tema de debate ocorrido nesta terça-feira, dia 11 de dezembro, em São Paulo, no encerramento da conferência internacional realizada pelo Partido dos Trabalhadores e pela Fundação Perseu Abramo. Participaram a ex-presidenta da República do Brasil Dilma Rousseff, o vice-secretário geral do Partido Socialista Europeu (PES), Giacomo Filibeck, a vice-presidenta do Partido da Esquerda Europeia (PIE), Maite Mola, e o ex-deputado do movimento Revolução Cidadã do Equador, Virgílio Hernández. A diretora da Fundação Perseu Abramo, Rosana Ramos, coordenou a mesa.

Segundo Hernández, o tema é desafiador. “Falta construir alternativas e elaborar como podemos enriquecer a democracia, que hoje está ameaçada”, disse. Em sua análise, destacou que as forças progressistas chegaram ao governo e descobriram que a mudança da correlação de forças possibilita provocar grandes transformações. “Percebemos que o espaço da democracia era dos conservadores. Nós entramos e ganhamos no espaço deles, por isso a direita já não quer que participemos e dá um jeito de nos eliminar seja por golpe ou outros caminhos. Portanto nos resta defender as regras do jogo democrático e com elas todas as conquistas sociais, que são direitos fundamentais”. Ele afirmou ainda que nos últimos anos a Justiça passou a ser controlada por setores mafiosos e que os meios midiáticos fazem política irresponsavelmente porque não são controlados. “No Equador, nos bloquearam politicamente”.

Maite Mola afirmou que a questão que ocorre na América Latina não é isolada e citou exemplos como a guerra da Síria, a situação na Ucrânia, Nicarágua, Cuba, Filipinas, Líbia e Rússia como parte de um plano. “O imperialismo pretende recuperar o terreno perdido e evitar que surja um contrapoder que coloque o planeta e seus recursos humanos, científicos, culturais e naturais a serviço dele mesmo”, afirmou. Ela mencionou, dentro desse objetivo, o uso do aparato judicial como instrumento de interesse político para impedir que líderes como o ex-presidente Lula participem de eleições e para criminalizar os movimentos sociais. E também uma tremenda ofensiva midiática para confundir o povo e estimular valores conservadores, patriarcais e consumistas que interessam ao capitalismo.

“É necessário construir uma resposta coletiva de classe dos trabalhadores que conjugue uma alternativa social e política com a ativação dos movimentos sociais. Apresentar propostas concretas para construção de uma alternativa socialista”. Ela afirmou ainda a importância de promover a unidade da esquerda e a aproximação com setores que não se consideram de esquerda mas são progressistas.

Giacomo Filibeck afirmou que hoje na União Europeia as pessoas não enxergam o projeto de unidade como resposta para seus problemas. Ele citou o caso atual dos protestos dos “jaquetas amarelas” na França. “O que alguns progressistas não estão entendendo é que aumentar o preço da gasolina para fazer uma transição ecológica gera uma contradição explícita quando faz os setores mais fracos pagarem o preço em benefício dos favorecidos que moram em bairros melhores”, afirmou. Para ele, “não podemos mais prometer políticas que prejudicam a maioria em benefício de poucos, ou nossa credibilidade estará perdida”. Filibeck acredita que devem se reagrupar os partidos socialistas europeus, ambientalistas e verdes para defender as conquistas do pós-guerra. “Mais de setenta anos de paz representam um ganho sem precedentes na história da Europa”, disse.

A ex-presidenta Dilma Rousseff afirmou que vivemos desde 2016 um Estado de exceção que corrói a democracia por dentro e provoca uma imensa desvalorização da política. “Acredito que há de se radicalizar a luta democrática ao mesmo tempo que se radicaliza o neoliberalismo”, afirmou.
Dilma mencionou as novas mídias tecnológicas que possibilitaram a um candidato sem partido, sem participação nos debates e sem tempo na tevê ganhar as eleições. Segundo ela, essa mídia social cria um novo espaço no qual não há diálogo coletivo e atua em um território onde não estávamos presentes. “A radicalização da democracia tem de passar pelas mídias sociais”, concluiu.
A secretária de Relações Internacionais do PT, Monica Valente, fez o encerramento da Conferência com agradecimentos aos convidados e a todos que acompanharam o evento. “A reflexão e o aprofundamento de temas como a democracia, os direitos civis, políticos e sociais são fundamentais para a defesa da democracia e de um mundo mais justo”, disse.

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