Quem manda na Funai? Definitivamente é a bancada ruralista
Pela segunda vez em menos de um ano esta bancada influenciou diretamente a demissão de um presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai). Em maio de 2017, o então presidente Antônio Costa foi exonerado ao trocar farpas com o, à época, ministro da Justiça, Osmar Serráglio, que era líder da bancada ruralista e estaria influenciando o órgão a nomear pessoas ligadas a ele para cargos estratégicos do órgão, e sem conhecimento da área. Agora foi a vez do já ex-presidente Franklimberg de Freitas.
Longe de ser considerado um presidente exemplar da Funai, devido às críticas de lentidão na apuração de recentes massacres de indígenas, ao ideário de agrobusiness para estas comunidades e ao fato de ser um militar, instituição que também massacrou milhares de índios no período da ditadura, o general manauara e de ascendência indígena, Franklinberg, mantinha um diálogo considerado razoável com lideranças e entidades indígenas críticas ao órgão, e havia conseguido efetivar a nomeação de mais de duzentos concursados da Funai.
O general, no entanto, vinha batendo de frente com alguns interesses da bancada ruralista, como influência na demarcação de terras indígenas e cargos na instituição. Havia rumores de sua substituição pelo seu então imediato, Francisco Ferreira, nome preferido dos ruralistas. Com o anúncio de sua futura exoneração em 24 de abril, o ex-presidente se antecipou, exonerando Francisco Ferreira e nomeando para seu lugar o antropólogo Rodrigo Paranhos, que ocupava a Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável do órgão, e solicitou a própria exoneração logo em seguida, no simbólico 19 de abril, dia do Índio.
Assim como os anteriores, o presidente da Funai que acaba de ser nomeado, Wallace Bastos, veio dos quadros do Partido Social Cristão (PSC), partido de orientação evangélica, algo que por si só já é uma ameaça à cultura indígena (um bom retrato da influência negativa do evangelismo sobre a cultura indígena é o recém premiado documentário Ex-Pajé). Desta forma, a prática do lobo cuidar das ovelhas deve continuar, pois Wallace, que até então era subsecretário do Ministério dos Transportes, não possui em seu currículo qualquer experiência relacionada à população indígena. Seu nome foi desejo unânime da bancada ruralista e do PSC.