Por Vanda Pignato

por Vanda Pignato*

Daniel Ortega regressa ao poder passados 27 anos da Revolução Sandinista. A volta não foi fácil. Seu partido, FSLN (Frente Sandinista para a Libertação Nacional), teve que sofrer por várias metaformoses, entre as quais, a mudança de suas cores originais (o vermelho e preto apareceram muito pouco nestas últimas eleições); o famoso hino quase não foi executado; muitos de seus líderes do passado abandonaram o partido e fundaram o Movimento de Renovação Sandinista, alianças estratégicas com ex-inimigos, entre outras mudanças.

Na realidade, a vitória de Daniel já era anunciada. Ele costurou importantes alianças e apoios, alguns deles duramente criticados, como foi o caso do apoio da bancada Sandinista no Congresso para a aprovação da revogação a Lei que permitia o Aborto Terapêutico. Essa era uma antiga reivindicação da Ala Conservadora da Igreja Católica. Mesmo com todo seu esforço por parecer mais ¨ligth¨, os resultados demonstram que o fator mais relevante para sua vitória foi a divisão dos partidos de direita (PLC, que até agora obteve 22.93% e ALN-PC 30.94%, que juntos somariam 53.87% suficientes para derrotar no primeiro turno a FSLN).

O avanço da direita nicaragüense pode dificultar o futuro governo sandinista, segundo as últimas noticias ( até agora somente foram apurados 61.2% dos votos) a bancada sandinista diminui de 38 para 37 (de um total de 90 deputados). A Aliança direitista Liberal Nicaragüense- ALN junto com o PLC somariam cerca de 49 deputados e o Movimento de Renovação Sandinista – MRS cerca de 6 deputados. Segundo esta aritmética a correlação de forças anti-sandinistas seriam fortes. Daniel terá que governar com muitas pressões.
Há que se destacar o papel intervencionista de alguns partidos e líderes da direita centro-americana, entre eles a salvadorenha, que se deu ao trabalho de enviar dois ex-presidentes à Nicarágua para fazer campanha contra Ortega. Estavam em jogo nessas eleições interesses empresarias locais, de importantes Grupos Familiares da Oligarquia regional.

Outro fator importante que deve ser mencionado foi o papel lesivo dos meios de comunicação controlados por grupos da extrema direita. Apesar de todos os esforços da mídia nicaragüense por impedir a vitória da Frente, a imprensa tendenciosa também saí derrotada. Fica a lição de que existe um poder obscuro regional (mídia) que deve ser, urgentemente, regulamentado e democratizado, pois ao contrário as esquerdas estarão em sérios problemas.

Também foi lamentável o papel dos observadores norte-americanos liderados por seu embaixador na Nicaragua, Paul Trevilli, conhecido aliado do partido direitista ALN. O comunicado publicado logo depois de fechada as urnas afirmava que as eleições foram recheadas de anomalias e que eles não estavam em condições de afirmar que foram realizadas com transparencia e imparcialidade. O mais absurdo da historia é que o Centro Carter, a OEA (com mais de 200 observadores, entre eles vários ex-presidentes latino-americanos) e a União Européia emitiram um comunicado completamente contrário. Para eles, as eleições foram ¨pacificas, massiças e ordenadas“. Por mais que a delegação norte-americana tenha reclamado, a presença de mais de 18.000 observadores internacionais (a maior já realizada na América Latina), garantirá o respeito à vontade do povo nicaragüense.

A vitória de Daniel é uma boa notícia para a região centro-americana, mas não se deve criar grandes expectativas pois a condições internas são muito difíceis, por isso o Brasil pode e deve jogar um papel protagonista ajudando esse novo governo, fortalecendo sua aliança com a região centro-americana desta vez através de um governo democrático.

*artigo publicado no portal do PT em 08/11/2006


*Vanda Pignato
integra o coletivo da Secretaria de Relações Internacionais do PT e é diretora do Centro de Estudos Brasileiros em El Salvador

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