Um olhar sobre o mundo
Leia sobre as eleições na Colômbia, Peru, México, Equador e EUA. Saiba também sobre a mobilização estudantil no Chile, as reuniões do MERCOSUR, G-8 e do Conselho de Direitos Humanos da ONU, além de outros assuntos que envolvem as questões mais importantes da política no mundo.
Eleições presidenciais na Colômbia
Eleições presidenciais no Peru
México
As eleições do segundo semestre
Mobilização estudantil no Chile
Chanceleres preparam reunião dos presidentes do MERCOSUR
Autonomia catalã
Massacres no Iraque, suicídios em Guantánamo, morte de Zarqawi e as eleições parlamentares nos EUA
Situação na Palestina
Irã
A revolta de Soweto cumpre 30 anos
Conflitos no Timor Leste
Reunião do G-8
UE decide adiar implantação da Constituição
China freia crescimento
Primeira Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU
Eleições presidenciais na Colômbia
O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, foi reeleito no dia 28 de maio passado com 7,4 milhões de votos, equivalente a 62,2% dos votos válidos. Em 2002, ele havia alcançado 5,8 milhões (53%). No entanto, a abstenção eleitoral ampliou-se de 53,6% em 2002 para 54,8%, atualmente, o que significa que Uribe obteve concretamente o aval explícito de 27% do eleitorado contra 25% de quatro anos atrás.
Na Colômbia o voto é facultativo e tradicionalmente também não existia o direito a reeleições. Porém, Uribe, assim como vários outros presidentes no continente já haviam feito, conseguiu maioria no congresso para mudar a Constituição do país, para permitir-lhe disputar mais um mandato. Ele inicia seu segundo mandato numa posição política favorável, pois além de reeleito em primeiro turno, conta com maioria parlamentar sólida.
Por outro lado, foi dado um passo importante na consolidação de um campo político de esquerda com o resultado obtido pelo candidato do Pólo Democrático Alternativo, Carlos Gavíria. Ele obteve o segundo lugar com 2,5 milhões de votos (22%), deixando o candidato do Partido Liberal, Horácio Serpa em terceiro com 1,4 milhões (12%). Em 2002, o mesmo Serpa havia chegado em segundo lugar com 3,5 milhões de votos (35%) e o candidato do Pólo Democrático, Luís Eduardo Garzón – “Lucho” em terceiro com 6%. Porém desta vez, além do crescimento da esquerda, vários setores do Partido Liberal bandearam para o lado de Uribe, desde o início da campanha, ele mesmo um dissidente deste partido.
No entanto, apesar da votação modesta do Pólo em 2002, foi a primeira vez que a esquerda conseguiu se apresentar unida para uma eleição em torno de um programa comum e consistente, disputando com a direita e diferenciando-se politicamente da guerrilha. Nas eleições de governos locais no ano seguinte, elegeu os prefeitos de várias cidades importantes, bem como o governador do estado de Valle onde venceu o candidato do Partido Liberal, apoiado pelo Pólo, Angelino Garzón. O próprio Lucho Garzón foi eleito prefeito da capital Bogotá.
Os dois “Garzón’s” possuem origem sindical tendo, ambos, sido no passado presidentes da CUT da Colômbia, a maior central sindical do país. Não deixa de ser surpreendente que este resultado tenha sido atingido num país assolado há muitos anos por um processo de luta armada, pois em alguns outros lugares onde isto ocorreu como no Peru, houve uma polarização entre guerrilha e governo, sobrando pouco espaço de atuação para a esquerda democrática. No entanto, foi a própria CUT, quando Lucho Garzón era presidente, que junto com outras organizações sociais e a igreja católica, articulou uma iniciativa conhecida como a Assembléia Permanente pela Paz que gerou uma grande mobilização e colocou uma cunha política entre a dicotomia governo e guerrilha.
A guerrilha colombiana tem origem na guerra civil que assolou a Colômbia no final da década de 1940 com mais de 200.000 mortos e que opôs conservadores e liberais. Este conflito repetiu a disputa pela hegemonia política existente na maioria dos países latino americanos entre a burguesia rural e a classe industrial urbana. O primeiro grupo guerrilheiro foi formado por camponeses envolvidos nesta guerra, mas que foram excluídos dos acordos de paz.
O início das ações deste grupo data de 1948 e tornou-se o núcleo que deu origem a novos grupos insurgentes influenciados a partir da década de 1960 por diversas visões ideológicas originárias do PC colombiano, do maoísmo, da esquerda católica e da revolução cubana, surgindo principalmente as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – FARC, Exército de Libertação Nacional – ELN e Exército Popular de Libertação – EPL.
O EPL e o Movimento 19 de Abril – M – 19 negociaram acordos de paz com o governo e se integraram à institucionalidade política colombiana no início dos 1990, mas muitos de seus quadros foram assassinados, como por exemplo, Carlos Pizarro, importante e popular dirigente do M-19. O alto risco de vida dos ex-guerrilheiros foi um desestímulo para posteriores acordos de paz.
Neste meio tempo se instalaram os grupos paramilitares, inicialmente como instrumento de proteção aos proprietários rurais ameaçados pela guerrilha e depois como uma força política e armada de direita que chegou a dominar vários territórios, denominadas “Autodefensas Unidas de Colômbia” – AUC. Com a consolidação da Colômbia como o principal país produtor e exportador de cocaína, os diversos cartéis de narcotraficantes também passaram a interferir na política. Há acusações que tanto os paramilitares quanto as FARC se envolveram com financiamentos do narcotráfico, embora estas o neguem veementemente.
Embora os diferentes grupos insurgentes tenham chegado a ocupar 35% do território colombiano durante o governo Andrés Pastrana (1998 – 2002) e houvesse uma trégua, não se alcançou um acordo de paz e foi aberto o caminho para a primeira eleição de Uribe, pois este apareceu perante o eleitorado como o político enérgico e decidido capaz de acabar com o conflito. O fim da trégua e o reforço das Forças Armadas por meio do Plano Colômbia provocaram um recuo da guerrilha, embora esta continue atuante.
Uribe demonstrou-se hábil politicamente para conquistar seu segundo mandato. A política de combate à insurgência foi denominada “segurança democrática”, embora tenha ocorrido graves violações dos direitos humanos. Há um sentimento popular que o governo deveria promover negociações de paz e Uribe acabou fazendo um acordo de desarmamento com os paramilitares e há negociações em andamento com o ELN. Sua política econômica é neoliberal, mas o crescimento da economia mundial aliado à sensação de maior segurança interna no país provocou também o crescimento do PIB colombiano. Por fim, ele exibiu também uma incrível capacidade de se isolar das irregularidades que envolveram áreas de seu governo.
No entanto, apesar da maioria parlamentar que dispõe, há expectativas criadas que podem lhe criar dificuldades. Por exemplo, a anistia e o acordo de incorporar os integrantes das AUC às forças armadas regulares podem fracassar devido à intenção do poder judiciário de processar aqueles que foram responsáveis pelas violações mais graves de direitos humanos, como torturas, seqüestros, assassinatos individuais e vários massacres. Quase 31.000 pessoas se declararam membros das AUC, porém apenas 17.000 entregaram suas armas.
Além disso, a Colômbia é um dos países no mundo com o maior número de refugiados internos, cerca de dois milhões de pessoas, perdendo somente para o Afeganistão, Congo e a região de Darfur no Sudão.
Eleições presidenciais no Peru
De acordo com as previsões, Alan Garcia sagrou-se vitorioso no segundo turno das eleições presidenciais do Peru, alcançando 54% dos votos contra 46% de Ollanta Humala. No entanto, a diferença entre os dois candidatos vinha diminuindo ao longo das últimas duas semanas anteriores à eleição e os indecisos em 31 de maio ainda representavam 14% dos eleitores, o que chegou a levantar o ânimo na última semana no comitê central da campanha de Humala. Este venceu nas regiões mais pobres e em 16 dos 24 departamentos do país.
Conforme registramos anteriormente Garcia governou o Peru entre 1986 e 1990 e saiu-se mal. Na economia, talvez mais pelas suas virtudes do que pelos seus defeitos, pois ele terminou o mandato sob grave crise e alta inflação porque limitou o pagamento dos serviços da dívida externa a um percentual da receita das exportações e deixou de obter novos créditos externos, bem como investimentos externos diretos. Na política, lidou mal com dois fortes grupos guerrilheiros, o Tupac Amaru e o Sendero Luminoso, pois além de não conseguir neutralizá-los, acabou sendo considerado responsável por inúmeras violações de direitos humanos cometidos pelo exército.
Alan Garcia terá que lidar com uma correlação de forças extremamente desfavorável no parlamento peruano. Seu partido, a APRA, elegeu apenas 36 deputados. A esquerda tradicional, Partido Socialista e PC, nenhum. De um lado existem os deputados eleitos nas chapas de direita de Lourdes Flores e da filha de Fujimori e de outro, os 45 deputados eleitos pela coalizão “Unión Por el Peru” de Humala.
Fechar com os primeiros, significa ficar refém da direita e ter que negociar caramente cada iniciativa que queira tomar. Quanto à UPP, trata-se de um partido novo e de posicionamento ideológico desconhecido, apesar do forte discurso nacionalista na campanha, e cujos parlamentares foram eleitos em maioria no interior do país e são também pouco conhecidos. Além disto, não se sabe ainda quais são as intenções políticas de Humala em relação ao futuro e qual é a influência que dispõe sobre estes parlamentares. Suas primeiras declarações após a proclamação do resultado das eleições presidenciais do segundo turno, foram de oposição. É aguardar a posse para ver.
México
O candidato pelo PRD, Manoel Lopez Obrador, conseguiu retomar a ofensiva e volta a aparecer em primeiro lugar em algumas pesquisas, embora com pequena diferença em relação ao candidato do PAN, Felipe Calderón, o que confirma nossa avaliação que sua vitória dependerá do nível de abstenção no dia da eleição. Quanto maior o comparecimento do eleitorado, melhor para ele.
Porém, continua tendo pela frente os problemas que o levaram de candidato dado como eleito para um candidato arriscado a chegar em segundo lugar. Por um lado, enfrenta o poder econômico da elite do país e as calúnias da direita por meio de uma fortíssima campanha anti-comunista e pelo outro lado, a oposição pela esquerda dos zapatistas e aliados que propagam que os três candidatos principais são “farinha do mesmo saco”. (Ver Periscópio Internacional nº 3).
Há uma avaliação que a direita continua jogando com a carta do medo tentando demonstrar que a eleição de Lopez Obrador incentivaria mobilizações e conflitos. O episódio mais recente foi a decisão do governador de Oaxaca, Ulises Ruiz Ortiz do PRI, de enviar a polícia de choque do estado para desalojar os professores deste estado que estavam em greve e acampados na praça central de sua capital que também se chama Oaxaca.
O motivo da greve era pressionar pela implantação de um plano de carreira do magistério oaxaquenho e era dirigida pela seção local do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Educação – SNTE que é um sindicato cuja direção nacional e sua presidente, Esther Gordillo, pelo menos, sempre foram ligados ao PRI. A dispersão dos professores teve início dia 14 de junho às cinco horas da manhã com vasto uso de gás lacrimogêneo e armas de fogo. Mais de 70 foram feridos e há fortes indícios da ocorrência de quatro mortes, incluindo uma criança.
(Leia mais em “México 2006 – eleições”). Sobre o último debate eleitoral, leia mais em ““Urbane” Debate Reveals Contrasts in Mexican Candidates’ Proposals”).
As eleições do segundo semestre
Em outubro será a vez do Equador de eleger um novo presidente. O atual, Alfredo Palácio, era o vice de Lucio Gutierrez, um ex-militar nacionalista, que teve o apoio de importantes setores do movimento social e indígena equatoriano e tomou posse no início de 2003, com grande expectativa que faria um governo progressista, o que não ocorreu de nenhuma forma. Acabou sendo derrubado por uma mobilização da classe média e depois de um período de exílio acabou sendo preso. (Leia mais)
O Presidente Palácio foi recentemente empurrado pelo movimento social a adotar algumas medidas nacionalistas como a recusa em assinar o tratado de livre comércio com os EUA e o cancelamento da concessão de uma empresa petroleira americana, a Petróleo Ocidental (OXY) por não respeitar corretamente a legislação local.
Pelo menos por enquanto, o candidato favorito de acordo com as pesquisas é Leon Roldós, um político de centro-esquerda e que tem sido crítico ao acordo bilateral de comércio com os EUA e que defende uma maior aproximação do Equador com a Venezuela e demais governos progressistas do continente.
Na Nicarágua, Daniel Ortega sai na frente na preferência popular. É a quarta vez que se candidata desde que deixou a presidência do país em 1990. A direita apresentou dois candidatos, o que o favorece, porém há também um candidato dissidente do sandinismo que é Herty Lewites, ex-prefeito da capital Manágua pelo partido Movimento de Renovação Sandinista, que tem, entre seus quadros, Ernesto Cardenal e outras personalidades, além do apoio de Sergio Ramirez, um ex-comandante sandinista que deixou a Frente em 1996. A eleição será em novembro.
As eleições presidenciais na Venezuela serão no início de dezembro e, apesar de uma possível união da oposição em torno de um único candidato, Teodoro Petkoff, antigo dirigente do MAS e rompido com o governo chavista, tudo indica que o Presidente Hugo Chávez deve se reeleger com facilidade.
Mobilização estudantil no Chile
O final do mês de maio marcou a ocorrência de uma grande mobilização de estudantes secundaristas no Chile. Eles tomaram as ruas com o apoio dos seus colegas universitários, professores e de várias associações de pais e chegaram a realizar passeatas em todo o país que reuniram um milhão de pessoas.
Os protestos eram contra a legislação educacional chilena, mais uma herança da ditadura de Pinochet e as reivindicações por mais verbas para a educação, particularmente para beneficiar os estudantes mais pobres.
O governo, com o envolvimento direto da Presidente Bachelet, tratou o assunto com o respeito que o movimento social merece. Começou por demitir o comandante da polícia (carabineros) que havia reprimido uma das primeiras manifestações com violência e detido cerca de 900 estudantes.
Em seguida estabeleceu uma mesa de negociações onde apresentou uma proposta de aumento do orçamento da educação em aproximadamente US$ 200 milhões ao ano, dirigidos neste momento ao cancelamento da taxa de vestibular para os mais pobres, ampliação do horário para uso de passe escolar nos transportes públicos, aumento dos subsídios à alimentação escolar e aumento do número de bolsas escolares.
Parece que finalmente começam a ser removidos alguns dos entulhos autoritários da ditadura, pois Bachelet também enviou um projeto de lei ao congresso nacional com o intuito de substituir a atual legislação privatizante por uma concepção do direito a uma educação de qualidade para todos os chilenos.
Os estudantes que se organizam por intermédio da Assemblea Coordinadora de Estudiantes Secundários – ACES se dividiram em relação à proposta, mas ela foi aceita por ligeira maioria.
(Leia mais em ”Finaliza histórico paro de estudiantes”. E em “Estudiantes chilenos crearon una mesa alternativa –
Los estudiantes secundarios chilenos anunciaron un acuerdo estratégico con gremios docentes, organizaciones de padres y Federaciones universitarias y advirtieron que siguen movilizados para lograr cambios profundos en la educación.”)
Chanceleres preparam reunião dos presidentes do MERCOSUR
Os ministros das relações exteriores dos países do MERCOSUR se reuniram no dia 16 de junho para preparar a próxima reunião do Grupo Mercado Comum que se realizará em Córdoba na Argentina em 20 de julho. Entre as várias decisões importantes resolveram que a Venezuela passará a participar como membro com direitos plenos e decidiram encaminhar a criação de um “Tribunal do Mercosul” para resolver as controvérsias entre seus membros.
O ministro das relações exteriores do MÉXICO, Luis Ernesto Derbez esteve em visita oficial ao Brasil para discutir as relações bilaterais entre os dois países, bem como para reforçar a intenção de reforçar os vínculos mexicanos com o Mercosul. A conservadora imprensa brasileira começou a especular porque a Venezuela integraria o Mercosul como membro pleno e o México não.
Um eventual acordo de livre comércio seria até possível, porém sua adesão como membro pleno não, porque significaria a entrada livre de mercadorias dos EUA e Canadá através do México, conhecido como “Triangulação de Comércio”, pois não há barreiras tarifarias entre os países do Nafta.
O primeiro caso para o futuro “Tribunal”, será o contencioso entre Argentina e Uruguai devido à construção de duas indústrias de papel e celulose do lado uruguaio do rio que separa os dois países. A Argentina acusa o investimento de ser prejudicial ao meio ambiente e levou o caso para avaliação do Tribunal Internacional de Haia e o governo uruguaio quer que os integrantes do Mercosul tomem uma posição frente ao bloqueio argentino imposto à circulação de veículos e pessoas entre Uruguai e Argentina durante os primeiros meses do ano, que calcula ter provocado um prejuízo de US$ 500 milhões.
O Brasil assume a presidência pro-tempore durante o segundo semestre e o Ministro Celso Amorim já anunciou que empenhará uma série de esforços para que o processe seja mais vantajoso do que tem sido para o Paraguai e Uruguai. Do ponto de vista de fluxo de comércio, a relação mais vantajosa para estes dois países tem sido o comércio bilateral entre eles e não com o Brasil ou a Argentina.
(Leia mais em “MERCOSUR: Venezuela entra con bálsamo para curar heridas”)
Autonomia catalã
Após sair vitorioso da votação ocorrida no último dia 18 de junho, na qual foi aprovado o Estatuto de Autonomia da Catalunia, o governo espanhol deve ter sua agenda dominada pelas conversas de paz com o ETA.
A revisão dos estatutos das 17 regiões autônomas espanholas foi uma das promessas do Primeiro-Ministro José Luis Rodríguez Zapatero quando assumiu o governo e a negociação com o ETA está em pauta desde que o grupo anunciou um cessar-fogo permanente em março passado. A aprovação do Estatuto de Autonomia da Catalunha e o eminente início das negociações com o intuito de dar cabo à violência no País Basco, fortalecem o governo do socialista José Luis Rodríguez Zapatero.
(Leia mais em “Eta declares permanent ceasefire”)
A proposta de maior autonomia para a Catalunha, venceu com cerca de 73,9% dos votos, mas com uma abstenção de 50,59%, o que levou o Partido Popular – PP a questionar o resultado. Este partido e o Esquerra Republicana – ER haviam feito campanha pela rejeição do texto, enquanto o Partit dels Socialistes de Catalunya (PSC-PSOE), Convergència i Unió (CiU) e Iniciativa per Catalunya – Verds (ICV) apoiaram a reforma proposta. A ER fazia parte do governo provincial com o PSC e o ICV, mas rompeu com o governo de Pascual Maragál há poucos meses.
(Leio o texto do Estatuto de Autonomia da Catalunia).
Massacres no Iraque, suicídios em Guantánamo, morte de Zarqawi e as eleições parlamentares nos EUA
Circula pela internet um memorando sigiloso da Embaixada dos EUA no Iraque com descrições do tipo de situação enfrentada por seus funcionários e difere muito da aparente calma apresentada durante a visita do Presidente Bush ao país no último dia 12 de junho.
Neste documento é descrita a piora das condições para quem vive fora da zona internacional em Bagdá, que é fortemente protegida. São funcionários da Embaixada que têm que lidar diariamente com assédio em virtude de suas vestimentas ou costumes, ameaças de grupos islâmicos ou milícias e o medo constante de que seus vizinhos descubram que trabalham para o governo norte-americano.
(Leia o memorando da Embaixada dos EUA no Iraque, na íntegra, em “From the Embassy, a Grim Report – From the U.S. Embassy in Iraq, a stark compendium of its local employees’ daily hardships and pressing fears”)
Três dias após a recente visita surpresa de Bush ao Iraque, o Congresso norte-americano mergulhou num debate de 11 horas sobre as razões e direções da Guerra que já dura quase quatro anos e contabiliza 2.500 mortos entre as tropas estadunidenses e um número incerto de vítimas iraquianas. A disputa girou em torno da votação de uma resolução proposta pelos republicanos em que os Estados Unidos devem “completar sua missão de criar um Iraque soberano, livre e unido” sem que haja uma “data arbitrária para a retirada das tropas americanas”.
No Senado, os republicanos tentaram forçar os democratas a assumir uma posição definida com relação a esta votação e a Guerra, jogando com a falta de unidade dentro do partido. O senador democrata John Kerry apresentou uma emenda a esta resolução, propondo a formulação de um cronograma para a retirada das forças americanas do Iraque, que não foi aprovada, e não contou com apoio de toda a bancada de seu próprio partido.
No Congresso, a líder democrata Nancy Pelosi também luta para conseguir criar um consenso sobre o posicionamento diante da Guerra. Contudo, a estratégia do Partido Republicano é se aproveitar das divergências entre os democratas e apresentá-los como frágeis nas questões relativas à segurança nacional e defesa, usando a idéia de que a retirada das tropas do Iraque vem de uma visão derrotista desta operação.
A relutância em tomar uma posição mais forte por parte do Partido Democrata e a pressão republicana são reflexo da preocupação dos dois partidos com as eleições de 7 de novembro próximo, onde serão escolhidos os representantes para Congresso, Senado e Governo de 36 Estados. Atualmente a maioria do Congresso norte-americano é republicana e o Senado é formado por 55 republicanos, 44 democratas e um democrata que se define independente.
A baixa popularidade de Bush (cerca de 30% de aprovação nas últimas pesquisas) e os problemas relacionados à presença das tropas norte-americanas no Iraque e Afeganistão poderiam fazer com que os democratas retomassem o controle do Senado e do Congresso. Contudo, o atual cenário favorável para o crescimento da oposição, devido ao desgaste de Bush com os recentes acontecimentos no Iraque, também depende do posicionamento dos democratas frente a questões como a imigração, a união civil entre pessoas do mesmo sexo e a reação à manipulação das informações relacionadas à Guerra no Iraque.
O último dos escândalos veio com a notícia de um massacre de 24 civis na cidade iraquiana de Haditha por parte de militares norte-americanos, em novembro de 2005, que pode ter sido acobertado. Junto a este massacre, outro em Samarra e um terceiro em Ishaqi começam a vir à tona.
(Leia mais em “Why Haditha Matters”)
Além disso, no começo de junho, três prisioneiros da Base de Guantânamo cometeram suicídio chamando a atenção mais uma vez para as prisões arbitrárias cometidas em nome da Luta contra o Terrorismo.
Enquanto os democratas têm sido incapazes de capitalizar de forma eficaz sobre os problemas relacionados à presença das tropas estadunidenses no Iraque, os republicanos tentam utilizar a morte de Abu Musab al-Zarqawi, tido como o elo entre o Iraque e a Al-Qaeda de Osama bin-Laden, para dar fôlego à tentativa de convencimento dos americanos de que esta guerra é legítima e que merecem seguir no controle do Congresso, do Senado, de Governos de Estado e da Presidência.
Situação na PalestinaNo Periscópio No 3 registramos a posse do novo governo israelense e o plano de paz proposto por prisioneiros políticos palestinos da Al Fatah e Hamas. A situação na região vem se deteriorando em vários aspectos, embora haja movimentações políticas para tentar desfazer os nós.
Os EUA, Israel e UE prosseguem com a suspensão do repasse de recursos para o governo palestino para pressionar o novo governo composto pelo Hamas a reconhecer formalmente o Estado de Israel. Com esta medida, cresceram os problemas sociais no país e aproximadamente 160.000 funcionários públicos estão sem receber seus salários há alguns meses. Os três estudam agora, como repassar alguns recursos por intermédio da presidência da Autoridade Nacional Palestina sob controle da OLP pelo menos para as áreas da saúde.
Por sua vez, ampliou-se a tensão entre o Hamas e o presidente Mahmoud Abbas, pois apesar do primeiro possuir a maioria parlamentar que lhe permite nomear os ministros de governo, o segundo tem o poder de destituir o primeiro ministro e é também quem coordena as forças de segurança. O Hamas tentou criar uma milícia própria e paralela, o que acabou provocando algumas escaramuças armadas entre os dois grupos.
Abbas lançou agora uma proposta de realizar um plebiscito em julho para a população expressar sua posição frente a proposta dos prisioneiros e sobre o reconhecimento do Estado de Israel. Foi um movimento para colocar o Hamas na defensiva politicamente, pois há pesquisas que indicam que mais de 70% da população palestina apoiaria o reconhecimento. Isto permitiria também retomar a ofensiva diplomática sobre Israel, uma vez que seu novo governo se recusa a negociar com o governo palestino, alegando que este não reconhece seu direito de existir como Estado e vem afirmando que definirá as novas fronteiras unilateralmente e não de acordo com a resolução da ONU de retorno às fronteiras de 1967. Conta, inclusive, com o apoio de Bush e Blair para tanto, embora não com o aval do conjunto da UE.
Para responder a disparos de mísseis a partir da Faixa de Gaza por alguns grupos palestinos menores que não aderiram à trégua em vigor, o governo israelense retomou a política de assassinatos dirigidos por meio de disparos de mísseis e de artilharia. Num destes ataques matou uma família inteira que fazia piquenique numa praia de Gaza, causando grande comoção e levando o Hamas e outros grupos a anunciarem a suspensão da trégua.
Este fato, além de seu aspecto criminoso, fez estragos políticos por todos os lados, pois o Ministro de Defesa israelense é o trabalhista Amir Peretz, agora indiretamente responsável por um massacre de inocentes e convocar um plebiscito para reconhecer Israel e propor negociações de paz nestas circunstâncias corre o risco de não atingir o objetivo proposto.
No momento há conversações internas na Palestina em andamento e a expectativa é que pelo menos se chegue a um acordo entre OLP e Hamas para que juntos possam dar seguimento ao que foi tão duramente conquistado até aqui.
(Leia mais sobre a Palestina na Reportagem Especial da Al-Jazeera,
European Meets Israeli and Abbas on Palestinian Aid Plan, Commissioner: the EU will not recognize unilateral borders)
Irã
A novidade em relação a este processo, foi a apresentação de uma nova proposta da União Européia para evitar que o Irã continue produzindo urânio enriquecido e possa adquirir algum dia a tecnologia de produção de armas nucleares. A proposta incluiria uma série de benefícios econômicos e o apoio para sua adesão à OMC, além do fornecimento de urânio enriquecido para geração de energia ou a possibilidade do enriquecimento local de urânio sob supervisão internacional.
Antes da apresentação desta proposta, os EUA e a UE pretendiam aprovar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU solicitando ao Irã que interrompesse o enriquecimento sob pena da aplicação de sanções internacionais. Porém, a oposição da Rússia e China à possibilidade de sanções e o apoio às negociações contribuiu para a apresentação do novo pacote, inclusive com o aval americano, apesar da retórica belicista que tem apresentado.
A iniciativa, pelo menos, provocou o início de um processo de negociação até o momento.
(Leia mais em “Iran: a Manufactured Crisis”)
A revolta de Soweto cumpre 30 anos
Houve várias mobilizações e revoltas durante o enfrentamento ao Apartheid na África do Sul e a maioria delas custou vidas humanas. Por exemplo, na revolta de Sharpewille em 1960 contra os banimentos forçados e a obrigação do uso de passaportes internos pela população negra, a polícia matou 76 pessoas.
No dia 16 de junho de 1976, milhares de estudantes secundaristas de Soweto, uma das cidades dos subúrbios de Johanesburgo e habitada somente por negros, saíram às ruas para protestar contra a obrigatoriedade do ensino do “africaans” o idioma falado pela minoria branca opressora. A polícia reagiu com disparos de armas de fogo e vários foram mortos e feridos, entre eles o estudante Hector Peterson, cuja imagem sendo carregado por seus colegas atravessou o mundo na época e ajudou a sensibilizar a opinião pública mundial em relação à barbaridade da política racista do governo sul africano.
O movimento iniciado em Soweto espalhou-se pelo país e a repressão em geral provocou aproximadamente 566 mortes. Em processos como este é sempre difícil definir onde o fim começa, mas não há dúvida que o ocorrido em Soweto teve um papel fundamental nas mudanças que começaram na década seguinte e que levaram à queda do regime no início dos anos 1990.
Como o próprio Nelson Mandela reconhece no seu livro auto-biográfico “Um longo caminho para a liberdade”, os militantes jovens que participaram desta mobilização, embora seguidores das idéias dos líderes mais antigos da ANC, PC Sul Africano e de outras organizações, eram muito mais agressivos e incisivos no questionamento das atitudes dos governantes do Apartheid do que aqueles. Mandela, inclusive achou irônico que alguém como ele condenado à prisão perpétua por envolvimento com a resistência armada ao regime fosse considerado um moderado diante da nova geração de militantes.
Na verdade, era a revolta chegando às grandes massas populares urbanas e sua aproximação de onde viviam os brancos. As conseqüências que viriam de um sistema de segregação racial forçada começavam a se tornar visíveis para partes importantes da elite branca e um processo de distensão, ainda que incipiente, foi iniciado.
(Leia mais em “The long march to freedom”)
Conflitos no Timor Leste
A população timorense novamente teve que se deslocar para as montanhas, porém desta vez não foi para fugir dos soldados indonésios ou milícias pró-Indonésia como no passado da luta pela independência. Esta foi conquistada à duras penas, mas agora o conflito que levou quase 30 pessoas à morte se deu entre habitantes do próprio Timor-Lorosae, o nome oficial da antiga colônia portuguesa até 1975 e ocupada pela Indonésia até 1999.
O estopim foi a demissão de aproximadamente 600 membros das forças armadas timorenses, quase metade do exército de 1.400 homens, por terem feito greve contra os baixos soldos e alegadas discriminações nas promoções. A decisão foi do Primeiro Ministro Mari Alkatiri. Forças leais ao Primeiro Ministro reprimiram com violência uma manifestação dos soldados demitidos que se refugiaram nas montanhas prometendo iniciar um movimento de guerrilhas para depô-lo. Posteriormente, um grupo de soldados abriu fogo sobre policiais desarmados que estavam sendo escoltados por forças de paz da ONU e dez morreram. Remanescentes das milícias e outras gangues originadas da pobreza que persiste no país também se envolveram e a violência se generalizou. A Austrália e outros países enviaram tropas para intervir e acalmar a situação.
Embora o Timor seja rico em petróleo e outros recursos naturais, a pobreza estrutural continua presente e o governo eleito em 2002 não tem conseguido encontrar o caminho correto. O país ainda é tutelado pela ONU e muitas das políticas implementadas são absolutamente neoliberais, o que somente tem agravado a situação.
Além disto, há divergências profundas entre o Presidente Xanana Gusmão e o Primeiro Ministro Alkatiri que vem desde a luta pela independência. Xanana que esteve vários anos em prisão indonésia tem a origem de sua atuação política nas Forças Armadas de Libertação do Timor Leste – FALINTIL, enquanto o primeiro ministro militava na Frente de Libertação do Timor Leste – FRETILIN que englobava várias tendências.
O presidente tem apenas o poder moderador, enquanto o poder executivo é do Primeiro Ministro. No entanto este não tem demonstrado a necessária habilidade para lidar com conflitos e soluções equilibradas. Há uma visão que enquanto ex-membros das FALINTIL tiveram que se mobilizar, inclusive para serem incorporados às novas forças armadas, antigos colaboradores da Indonésia chegaram a altos postos na polícia.
O presidente avocou “estado de emergência” para assumir o controle e embora o Primeiro Ministro tenha permanecido no cargo, pelo menos no início, foram demitidos os Ministros do Interior Rogério Lobato ligado a Alkatiri e da Defesa Roque Rodrigues ligado a Xanana, respectivamente responsáveis pela polícia e pelo exército. Este último foi embaixador da resistência timorense em Angola durante a luta pela independência e esteve algumas vezes no Brasil.
Foi “uma no cravo e outra na ferradura”, mas que não resolve o problema. Um bom começo seria um projeto sério de desenvolvimento aproveitando que a população é de apenas um milhão de habitantes e que há recursos naturais que podem financiar um outro processo e tomando em conta o que disse certa vez o Ministro Roque no início do governo: “Não vamos nos embriagar com o Petróleo. Este terá que servir apenas para apoiar o nosso desenvolvimento”. (Leia mais)
Reunião do G-8
A reunião anual de 2006 do G-8 será em São Petersburgo na Rússia de 15 a 17 de julho. Os temas em pauta são basicamente os de sempre e desta vez está garantido que não haverá manifestações relevantes da sociedade civil. Será também a estréia de dois novos governantes: Ângela Merkel, a chanceler alemã e o primeiro ministro da Itália, Romano Prodi.
(Conheça o site oficial da Presidência do G8 em 2006, por parte da Federação Russa)
UE decide adiar implantação da Constituição
Na Cúpula recém realizada entre os países membros da União Européia decidiu-se adiar por dois anos uma possível implantação da Constituição Européia. A sua implantação entrou em crise com a decisão de dois referendos, na França e Holanda, de rejeitá-la, pois o entendimento da maioria da opinião pública destes países era que a Constituição ampliaria demasiadamente os poderes das instituições comunitárias em detrimento das legislações nacionais.
Também decidiu aceitar a adesão da Slovênia à zona do Euro e a Finlândia assumiu a presidência da UE para o próximo período em substituição à Áustria.
(Veja mais informações e detalhes acerca da Constituição Européia)
China freia crescimento
Não são apenas os países mais inseridos na globalização financeira que se preocuparam com os recentes recados vindos do Banco Central americano, o FED, e possíveis ataques especulativos, mas também a China. Este país acaba de enxugar a sua liquidez, retirando moeda de circulação por meio de depósitos compulsórios dos bancos. A preocupação é com a estabilidade, mesmo que freando o crescimento econômico, que ainda assim deverá ser alto.
(Leia mais em “China y la India anuncian que reabrirán sus fronteras al comercio bilateral después de 44 años”)
Primeira Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU
Foi iniciada, no dia 19 de junho, a primeira sessão do Novo Conselho de Direitos Humanos da ONU que substitui a antiga Comissão de Direitos Humanos e que foi um dos aspectos mais importantes da reforma da ONU ocorrida até aqui. A jornada dos 47 países que o compõem durará duas semanas, nas quais os delegados estabelecerão os métodos de trabalho do conselho.
Há expectativa de que nenhum caso individual seja analisado, a não ser no caso da discussão dos territórios palestinos. Em princípio devem ser adotadas resoluções mais gerais relativas a direitos dos povos indígenas e desaparecidos políticos.
Os Estados Unidos não fazem parte do Conselho e acompanham a reunião na condição de observadores.
(Para saber mais sobre o Conselho, acesse a página de notícias da ONU)