Casa de loucos
Sem rodeios e meias palavras, o Brasil está sendo governado por um amontoado de desqualificados, mal-educados, ignorantes. A situação é sofrível em quase todo alto escalão da República, a começar do presidente. O governo está tomado de pessoas ineptas, inconsequentes, sofríveis mentalmente, incapazes de lidar de forma madura com a democracia, de conduzir o país ao convívio harmônico na comunidade internacional.
É uma panaceia digna dos piores adjetivos. Mais do que vergonhosa, escatológica. Uma casa de loucos! Num dia, o presidente acusa de feia a primeira-dama da França; no outro, ataca a memória do pai da ex-presidenta do Chile, Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU, barbaramente executado por uma das ditaduras mais sanguinárias da América Latina. Na sequência, o chanceler nacional assombra a todos com a pérola infantil e falaciosa de que o mundo inveja o Brasil pela aproximação do presidente com o homólogo dos Estados Unidos que se reporta ao herdeiro do brasileiro pelo primeiro nome. Finalmente, achando pouco, o ministro da economia, não bastasse já haver dito dias antes que o país nunca precisou da Argentina para crescer, retomou o assunto da primeira-dama francesa reiterando sua suposta não beleza (que não é verdade, mas se fosse ninguém teria nada a ver com isso) para uma plateia eufórica de trogloditas da mesma laia, alucinada e machista.
Não há quem aguente. Tudo isso em meio a queimadas na Amazônia, corte em bolsas de pesquisa, retirada de direitos sociais, entrega de soberania nacional, promessas de venda de estatais, intervenção no Ministério Público, insinuações de possíveis repressões com tiros no 7 de Setembro, golden shower, fixação anal, bafafá com milícia, episódio de cocaína viajando em avião de comitiva presidencial, ministros acuados por denúncias das mais diversas. O país, por sua vez, imerso numa crise de valores políticos sem precedentes, em vias de atolar-se numa recessão econômica, ser permanentemente desmontado, arriscando sofrer reveses internacionais devido ao manejo de uma estratégia kamikaze formulada pela insanidade bestial que se apoderou do Planalto.
O que esses aventureiros pensam que estão fazendo? Por que naturalizar a descortesia e a violência verbal contra tudo e contra todos, dentro e fora do Brasil? Que tentação é essa para o exercício da burrice? Se quiserem jogar o próprio futuro fora, joguem, mas não arruínem o futuro dos outros que terão filhos condenados a viver numa nação pária, estigmatizada no planeta pela pequenez política, a mediocridade, a insignificância diante do bom senso. Basta, o Brasil não é o Pinel!
Marcelo Uchôa é advogado e professor de Direito Internacional Público. Membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) – Núcleo Ceará.