Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu pelo segundo ano seguido em 2016 e confirmou a pior recessão da história

Ano 2 – nº 12 – Março 2017

Nível de atividade

Geralmente, na ausência de dados recentes sobre o PIB, são utilizadas informações provenientes do IBC-Br para mensuração da atividade econômica no país. O IBC-Br serve como uma prévia do PIB e é calculado pelo BCB. No entanto, no início de março deste ano, o IBGE divulgou o PIB do ano de 2016. Esta se configura como a informação mais recente sobre a atividade econômica brasileira.

Assim, os dados revelam que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu pelo segundo ano seguido em 2016 e confirmou a pior recessão da história. A queda foi de 3,6% em relação ao ano anterior. Em 2015, a economia já havia retraído 3,8%. Analisando na margem (comparação de um trimestre com o imediatamente anterior), é possível ver que ao longo do ano de 2016 houve uma piora do PIB. A queda se aprofundou do segundo trimestre de 2016 para o último do mesmo ano. Ou seja, a recessão se acentuou ao longo do ano. O gráfico abaixo é ilustrativo:

Fonte: IBGE

Ademais, os três setores da economia (primário, indústria e serviços) foram atingidos. A queda na agropecuária foi de 6,6%, puxada pela agricultura. Na indústria, a retração foi de 3,8%, influenciada pela indústria de transformação; e, nos serviços, de 2,7%. O resultado catastrófico de 2016 é resultado da contração da renda da economia, do aumento do desemprego, da crescente perda de demanda da economia e perda de investimentos no setor produtivo. Claramente os dados refutam a hipótese de que o golpe teria ensejado uma mudança de expectativas empresariais em favor dos investimentos. Embora recentemente tenha ocorrido uma queda da taxa de juros, esta veio em uma cadência muito inferior à necessidade para provocar uma recuperação. Em termos reais, a redução da Selic não acompanha o ritmo de queda da inflação.

Comércio Exterior

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio, a balança comercial de fevereiro registrou um saldo positivo de US$ 4,56 bilhões. Houve um crescimento de 22,4% das exportações na comparação com fevereiro de 2016. E, nas importações, o crescimento foi de 11,8% sobre o mesmo período.

O resultado positivo de fevereiro ocorreu após o superávit de US$ 2,725 bilhões no primeiro mês deste ano.

Tal resultado positivo, também chamado de superávit, ocorre quando as exportações, vendas do Brasil para parceiros de negócios no exterior superam as importações, que são as compras do país também no exterior.

Gráfico 1 – Balança Comercial

Fonte: MDIC

O perfil dos setores que compuseram o superávit de fevereiro da balança comercial continua bem similar ao do mês anterior. Nas exportações, comparando com fevereiro de 2016, os destaques se deram nas vendas de petróleo bruto (crescimento de 326,6%), minério de ferro (126,2%), soja em grão (107%), carne suína (40%), óleos combustíveis (480,7%), veículos de carga (38,8%), ferro fundido (139%), óleo de soja bruto (109,9%) e semimanufaturados de ferro e aço (92,6%). Como é possível notar, o resultado se deve ao preço das commodities, que tem apresentado significativa recuperação no período analisado. O principal destaque para o crescimento dos seus preços, a saber, são soja em grão, minério de ferro e petróleo bruto, tal como no mês anterior.

Quanto às importações, o crescimento não se deu em setores que poderiam sinalizar uma recuperação da economia. Isto porque, na comparação com fevereiro de 2016, houve aumento na compra de combustíveis e lubrificantes (34,9%) e bens intermediários (16,3%), com expressiva retração na aquisição de bens de capital (9,8%) e consumo (4,4%). A capacidade ociosa da indústria é significativa, de forma que a retração das importações no setor de bens de capital é preocupante, pois o dado não revela um processo, por exemplo, de substituição de importações, e sim de paralisia da indústria. Resumidamente, por trás do superávit da balança comercial há uma forte retração de setores dinâmicos da economia e uma clara dependência do setor primário.

Política Monetária e Inflação

Dados do IBGE mostram que Índice de Preços ao Consumidor – Amplo (IPCA), considerado para mensurar a inflação oficial do país, ficou em 0,33% em fevereiro de 2017. O resultado veio abaixo do esperado e é o mais baixo para fevereiro desde 2000. No ano passado, para o mesmo mês, o índice havia registrado 0,90%. No primeiro bimestre, o IPCA acumula alta de 0,71%. Em uma ótica dos últimos doze meses, até fevereiro, a alta da inflação está em 4,76%. O número é próximo do centro da meta de inflação (4,5%) perseguida pelo Banco Central. É a primeira vez que o IPCA acumulado em doze meses fica abaixo de 5% desde junho de 2012. Alguns fatores explicam a representativa desaceleração da inflação, a saber, os choques referentes ao câmbio, atenuação do repasse inflacionário advindo de preços administrados e o arrefecimento dos aumentos dos preços advindos do setor de alimentos. Ademais, a acentuada crise econômica e o aumento do desemprego tendem a impactar a inflação.

Gráfico 2 – Inflação (IPCA)

Fonte: IBGE

Analisando a inflação do mês nota-se que esta foi significantemente impactada pelo grupo Educação, que apresentou alta de 5,04% e impacto de 0,23 p.p. Por outro lado, o grupo Alimentação e Bebidas apresentou queda de 0,45%, ajudando na contenção de alta do índice, tendo em vista o impacto de -0,11 p.p.

A alta de 5,04% no grupo Educação é explicada pelos reajustes frequentemente praticados no início do ano letivo, em especial os aumentos nas mensalidades dos cursos regulares, cujos valores subiram 6,99%, provocando o mais alto choque individual sobre o índice do mês (0,21 p.p.). Segundo o IBGE, regionalmente, os cursos regulares tiveram aumentos entre 4,94% (São Paulo) e 10,13% (Salvador).

Tabela 1 – Resultados dos grupos de produtos e serviços pesquisados

Fonte: IBGE

Como dito anteriormente, diante da recessão econômica no país, as projeções para a inflação neste ano vêm se aproximando do centro da meta de 4,5% mais rapidamente. Alguns analistas econômicos argumentam que o resultado é fruto de uma política monetária efetiva em conter a inflação e ancorar as expectativas. Tal visão se mostra míope quanto à identificação dos reais fatores por trás da desaceleração da inflação. Não compreende o impacto da desvalorização do câmbio nos preços. Desconsidera o efeito dos preços administrados e, mais especificamente, o efeito da recessão sobre a inflação. A política monetária extremamente adversa à retomada do crescimento agravou a recessão com impacto deletério sobre no emprego e na renda dos brasileiros.

Indústria

Dados do IBGE mostram que, em janeiro de 2017, houve queda da produção industrial quando comparada com o mês anterior. No confronto com igual mês do ano anterior, em janeiro houve alta de 1,4% na comparação com o mesmo mês de 2016. O dado representa uma interrupção de uma série de 34 meses consecutivos de resultados negativos neste tipo de comparação. As quatro grandes categorias econômicas (bens de capital, bens intermediários, bens de consumo duráveis e bens de consumo semiduráveis e não duráveis) registraram resultados positivos nesta comparação.

Na variação mensal, a queda de 0,1% da produção industrial na passagem de dezembro de 2016 para janeiro de 2017 foi registrada em doze dos 24 ramos pesquisados. Cabe destacar o recuo de 10,7% assinalado por veículos automotores, reboques e carrocerias, que cessou dois meses consecutivos de crescimento da produção, período em que acumulou ganho de 18,7%. Foram expressivas também a queda da produção de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,5%), de máquinas e equipamentos (-4,9%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-7%) e de produtos de borracha e de material plástico (-3,8%). No mês anterior, ou seja, dezembro de 2016, essas atividades haviam apresentado taxas positivas de 17,7%, 1,6%, 10,8% e 8%, respectivamente.

Ainda na comparação mensal, em uma análise das grandes categorias econômicas, bens de consumo duráveis (-7,3%) e bens de capital (-4,1%) mostraram as taxas negativas mais acentuadas em janeiro de 2017. Tal como destacado pelo IBGE, o primeiro perdeu parte do ganho de 12% acumulado nos dois últimos meses do ano passado; e o segundo acentuou o recuo de 3,8% registrado em dezembro de 2016. Por outro lado, os setores de bens de consumo semi e não-duráveis (3,1%) e de bens intermediários (0,7%) apresentaram resultados positivos em janeiro. O primeiro avançou 7,4% em dois meses seguidos de crescimento na produção; e o segundo acumulou expansão de 3,2% nos últimos três meses.

Gráfico 3 – Produção Industrial

Fonte: IBGE

Embora na comparação anual a produção industrial apresente um resultado otimista em relação a 2016, na comparação mensal, a queda da produção de janeiro traz à tona perspectivas ainda nebulosas. No atual cenário, o BCB teria de acentuar a redução da Selic e sinalizar um patamar mais adequado ao câmbio, além de volatilidade menor. O setor manufatureiro caracterizado como lócus do desenvolvimento econômico precisa ser trazido ao centro do debate para a recuperação econômica.

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