Ano 2 – nº 11 – Janeiro/Fevereiro 2017

Nível de atividade

Dados referentes à atividade econômica são divulgados com certo atraso pelo Banco Central, portanto não há dados para 2017 ainda. Desta forma, as últimas informações disponíveis mensuradas pelo IBC-Br, indicador que serve como uma espécie de prévia do PIB calculado pelo BCB, mostram que, até novembro, a atividade da economia brasileira registrou um desempenho abaixo do esperado, com grande ociosidade da indústria. Comparando o trimestre encerrado em novembro com o imediatamente anterior, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) se retraiu 0,5%. Na análise mensal, a economia cresceu 0,2% em novembro contra outubro, pelos cálculos do BC. O IBC-Br interrompeu uma sequência de três quedas, com o bom desempenho do varejo no mês. No entanto, nos últimos doze meses, o indicador acumula queda de 4,9%. Assim, é difícil traçar uma perspectiva clara sobre uma recuperação em 2017. As perspectivas ainda se encontram um pouco nebulosas, dado que esta avaliação leva em consideração os dados da economia até novembro de 2016 e não incluem os da produção industrial, que geraram algum alento para o início de 2017. Caberá aguardar informações dos próximos meses para verificar a consolidação de alguma tendência e, particularmente, a reação da economia com uma perspectiva de queda da taxa de juros.

Comércio Exterior

Segundo o MDIC, a balança comercial de janeiro registrou um saldo positivo de US$ 2,725 bilhões, crescimento de 198% em relação ao mesmo mês do ano passado. Isto se deve ao resultado das exportações, que alcançaram US$ 14,911 bilhões, e das importações, que registraram US$ 12,187 bilhões. O resultado de janeiro é o melhor para este mês desde 2006, quando a balança apresentou superávit de US$ 2,835 bilhões.
Em janeiro do ano passado, o saldo comercial havia sido de US$ 915 milhões. Em uma ótica dos últimos doze meses, ou seja, no acumulado, a balança comercial apresentou superávit de US$ 49,514 bilhões. Nesta base, as exportações totalizaram US$ 188,933 bilhões e as importações US$ 139,420 bilhões.

Gráfico 1 – Balança Comercial

Fonte: MDIC

Em termos percentuais, em janeiro, as exportações registraram expansão de 20,6% sobre o mesmo mês de 2016. Já em relação a dezembro, houve uma queda de 6,5%. Quanto às importações, ocorreu crescimento de 7,3% sobre janeiro de 2016 e de 5,7% sobre dezembro. Em janeiro, o resultado se deve à recuperação do preço das commodities que aumentaram as exportações em 30%. Três tipos de commodities tiverem forte crescimento dos seus preços, a saber, soja em grão, minério de ferro e petróleo bruto. Semimanufaturados, embora em menor escala, também afetaram positivamente o resultado das exportações, com aumento de 27,5%. Destaque para o açúcar bruto, aço e semimanufaturados de ferro. Manufaturados ainda apresentam um resultado aquém dos setores citados, com crescimento de 7,4% em janeiro.

As importações revelam um cenário ainda bastante conturbado pela recessão. Isso porque embora em janeiro tenham crescido, estas se deram em setores de compras de bens intermediários (22,8%), combustíveis e lubrificantes (15,8%) e bens de consumo (2,8%). Já no setor de bens de capital houve uma forte retração de 40,1%. Há ampla capacidade ociosa na indústria, de forma que esta queda não revela um processo, por exemplo, de substituição de importações, mas sim de contração da indústria. Em suma, o resultado “positivo” da balança comercial ainda se dá pela forte retração das importações, fruto da recessão, e uma clara dependência do setor de commodities.

Política Monetária e Inflação

Dados do IBGE mostram que índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado para mensurar a inflação oficial do país, ficou em 0,38% no primeiro mês de 2017. O resultado veio abaixo do esperado e é considerado o mais baixo para janeiro da série histórica. No ano passado, para o mesmo mês, o índice havia registrado 1,27%. Em uma análise dos últimos doze meses, a inflação apresentou desaceleração de 6,29% para 5,35%. A forte melhora indica que os choques referentes ao câmbio, a preços administrados e de alimentos de 2015 foram superados. Em parte devido à natureza deste tipo de inflação e em parte pela forte recessão da economia.

Gráfico 2 – IPCA Mensal (Variação Percentual)

Fonte: IBGE

Mesmo baixa, a inflação, quando comparada ao mês anterior, apresentou aceleração em seis dos nove grupos que compõem o indicador: Alimentação e Bebidas; Habitação; Artigos de Residência; Despesas Pessoais; Comunicação e; Educação. Por outro lado, os três grupos que apresentaram uma variação menor em relação ao mês anterior foram: Vestuário; Transportes e; Despesas Pessoais. As maiores contribuições à inflação do mês foram dadas por pelas tarifas de ônibus urbano (0,07p.p.) e ônibus intermunicipal (0,03p.p.); alta do preço dos combustíveis, gasolina (0,03p.p.) e etanol (0,03p.p.); Planos de Saúde (0,04p.p.) e Emprego Doméstico (0,02p.p.).

Tabela 1 – Resultados dos grupos de produtos e serviços pesquisados

Fonte: IBGE

Com a recessão econômica no país e a queda da Selic, as projeções para a inflação este ano vêm se aproximando do centro da meta de 4,5%. O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, argumenta que tal resultado é fruto de uma política monetária efetiva em conter a inflação e ancorar as expectativas. Esta afirmação desconsidera qualquer visão mais crível sobre as reais razões por detrás do arrefecimento da inflação. Não compreende o impacto da desvalorização de cerca de 28% do câmbio nos preços. Mais do que isso, deixa de lado o efeito da recessão sobre a inflação. O custo econômico e social de uma política monetária extremamente restritiva não foi baixo. Mas cabe esperar que, com uma inflação mais baixa, o BCB possa agora cooperar com a retomada da economia.

Indústria

Dados do IBGE mostram que a produção industrial teve queda de 6,6% no acumulado do ano de 2016. Trata-se do terceiro ano de queda seguida do segmento e ainda o terceiro pior para um ano na série histórica iniciada em 2002, perdendo apenas para 2015, com baixa de 8,3% na produção, e para 2009, com recuo de 7,1%.

Na comparação mês a mês, há perspectivas mais otimistas. Ocorreu de novembro para dezembro um aumento de 2,3% na produção industrial. Foi a alta mais expressiva desde junho de 2013, quando houve um aumento de 3,5%. Em uma análise apenas para os meses de dezembro, o resultado foi o melhor desde 2011, quando o crescimento foi de 2,7%. Comparando com dezembro de 2015, entretanto, a produção retraiu 0,1%.

Gráfico 3 – Produção Industrial

Fonte: IBGE

Cabe ressaltar que a melhora foi impulsionada particularmente pelo setor de veículos automotores. Veículos automotores, reboques e carrocerias registraram alta de 10,8%, o que intensificou o índice do mês anterior, de 6,9%. O resultado para esse segmento foi o maior desde junho de 2016, quando houve alta de 11,7%.
O resultado positivo da produção industrial em dezembro foi abrangido por outros setores pesquisados. Entre os 24 ramos investigados, dezesseis registraram crescimento em relação a novembro. Embora a produção industrial mostre um aumento de caminhões e automóveis, os estoques permanecem acima do nível desejado, e não houve mudança substancial na capacidade ociosa da indústria. Tal resultado positivo na comparação mensal pode ser apenas um “respiro” frente a uma base de comparação com níveis muito baixos. A sinalização de queda da Selic deve contribuir positivamente para o setor produtivo nos próximos meses. No entanto, cabe uma sinalização mais positiva do Banco Central quanto à estabilidade da taxa de câmbio e o seu patamar. Esperemos cenas dos próximos capítulos.

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