“É muito curioso que coisas importantíssimas no país nunca cheguem à esfera midiática’, diz pesquisadora

O acesso e o direito à informação, a transparência na gestão pública e o ativismo nas redes sociais foram temas do programa EntrevistaFPA na edição da última terça-feira (18/10), com a participação da professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Rosemary Segurado e do coordenador do Núcleo de Comunicação da Fundação Perseu Abramo (FPA), Otávio Antunes. Ambos foram entrevistados pela pesquisadora da Universidade Católica de Santos (Unisantos) Natalia Fingermann. Assista aqui entrevista na íntegra.

Rosemary destacou que hoje o acesso à informação é reconhecido internacionalmente como um direito humano, assim como a saúde e a educação, essencial ao exercício da cidadania. Segundo ela,  a mídia é um território no qual o cidadão, muitas vezes, não se sente alvo da produção e distribuição de informações. “Por ter um poder muito grande de mediar as relações sociais e políticas, a mídia exerce papel fundamental ao dizer o que as pessoas devem pensar. É muito curioso que coisas importantíssimas no país nunca cheguem à esfera midiática”, afirma.

“Além daquilo que entra e não entra na agenda pública de debates, é importante observar como entra. Os movimentos sociais frequentemente são tratados pelo grande meios de comunicação como vândalos, baderneiros, perturbadores da ordem social. Esse enquadramento é muitas vezes ainda pior do que a invisibilidade”,  concluiu.

Para Otávio Antunes, nos últimos 30 anos tem sido a grande imprensa que determina os assuntos relevantes na agenda social do país, e a concentração dos meios de comunicação forma um cenário desolador, que se agrava sucessivamente ao longo dos anos. “A grande imprensa tem testado os limites dos que as pessoas aceitam como contraponto desde o processo de redemocratização do país. E agora percebeu que não existe limite, que pode falar o que quiser e uma parcela da sociedade aceita. Hoje é muito pior do que dez ou vinte anos atrás”, afirmou.

Antunes citou como exemplo a cobertura dos grandes atos durante o processo de impeachment da presidenta Dilma, quando houve houve manipulação de fotos, de manchetes, de leads, de textos. E acrescentou que a compreensão do acesso à informação como um direito humano torna essa luta muito urgente. “Conseguimos, ainda que de forma assimétrica, avanços sociais, que porém não foram combinados com avanços da cultura democrática. E a consequência disso são o aumento do personalismo, da meritocracia, a ausência de construção de saídas coletivas em momentos de crise econômica, por exemplo. Todas as saídas são individuais e imediatas porque a comunicação não abre outra perspectiva”.

Assista à íntegra da entrevista:

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