Lançado pela Fundação Perseu Abramo em parceria com Autonomia Literária, o livro “Economia Para a Transformação Social”, de Juliana Furno e Pedro Rossi, traz excepcional abordagem para entender o cenário e o que está em jogo

Bia Abramo

Caso “Economia Para a Transformação Social” fosse apenas um manual para entender o noticiário econômico já seria de enorme utilidade. O economês tal como é “traduzido” pela grande imprensa acaba virando um cipoal de siglas, de expressões incompreensíveis e, claro, de interpretações suspeitas sobre o que rege a economia de um país como o Brasil.

Acontece que o livro de Juliane Furno e Pedro Rossi vai além de explicar em linguagem didática os fundamentos e as engrenagens da economia. Como se apresenta, em seu subtítulo como “Um manual para mudar o mundo”, o volume também se arrisca a confrontar a visão baseada na defesa do neoliberalismo e do triunfo do capitalismo e oferecer uma leitura da economia ampliada pela compreensão de suas relações políticas e sociais.

O livro, que nasceu de um dos cursos de formação da Fundação Perseu Abramo, organiza-se de forma modular em quatro partes. Na primeira, são exploradas questões teóricas e marcos conceituais, com ênfase nos temas que dizem respeito à economia brasileira, como desenvolvimento e dependência. A partir da segunda parte, entram em campo tópicos da história econômica mundial e brasileira. E é na quarta parte, “Mitos Econômicos e o Debate Brasileiro” que as imbricações entre política e economia são examinadas.

O jeito de “manual” ou de material de apoio para um curso se mantém seja pela presença das ilustrações que permeiam a leitura, seja pela lista de leituras complementares ao final de cada capítulo, mas os debates propostos por seu autores exigem uma boa dose de mergulho nos temas propostos, sobretudo nos capítulos do final do livro nos quais são desconstruídas as ideias fixas que tentam minar leituras mais emancipatórias sobre o que produz a riqueza e a pobreza no Brasil.

Aqui, o leitor vai encontrar visões críticas e consistentes sobre a retórica da austeridade fiscal, as falácias sobre excesso de gastos nos governos de Lula e Dilma, o eterno fantasma da inflação e a ideologia meritocrática. Ou seja, uma série de ferramentas para entrar nos debates que cercaram o modo petista de governar nos anos 2000 e que, novamente, se apresentam desde a campanha de 2022 e nesses seis meses de mandato de Lula.

É importante destacar que todo o esforço didático, incluindo as excelente ilustrações do coletivo A Gazetinha da Guanabara, não desrespeita a inteligência do leitor. Antes, é exatamente o que permite que “Economia para Transformação Social” consiga atingir um público diverso e amplo, mesmo tratando conceitos e correntes teóricas com rigor.

O ferramental sugerido pelos economistas Juliane Furno e Pedro Rossi para a compreensão de temas espinhosos, como as crises cíclicas do capitalismo; e urgentes, como o impacto da pandemia na economia global, tanto servem como um primeiro passo para quem se sente perdido pelo excesso de jargão dos textos de análise econômica, como um estímulo para quem quiser continuar a estudar o assunto.

Este segundo volume da Coleção Argumento, editada numa parceria entre a Fundação Perseu Abramo e a Autonomia Literária, recebeu edição caprichada e muito valorizada pelas excelentes ilustrações de A Gazetinha da Guanabara, coletivo de designers especializados em transformar em linguagem visual conceitos e processos da área da economia e da política. •

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