O dia 16 de janeiro de 2023 nasceu histórico para o Banco do Brasil, afirmou a instituição ao anunciar o nome de Tarciana Medeiros como a nova presidente do banco estatal, a primeira mulher em seus dois séculos – o BB levou mais de um século, por exemplo, para ter a primeira funcionária mulher. Tarciana foi a escolhida pelo presidente Lula para dirigir uma das maiores instituições financeiras da América Latina, uma empresa avaliada em R$136 bilhões.  Eleita pela Forbes uma das mulheres mais influentes do mundo, não titubeia ao reconhecer sua experiência. “Desde o início, sempre soube que era capaz de gerir este banco de forma diferente, causando impacto no mercado. Nunca tive ou fingi ter falsa modéstia, sabe? Sempre reconheci minha capacidade”, relata. 

Fiel às suas origens em Campina Grande, na Paraíba, e aos ensinamentos de sua avó, Tarciana descreve com naturalidade como encara a rotina de trabalho. “Eu sempre soube que poderia fazer isso, sabia que seria capaz de gerir o banco de forma inovadora e com impacto no mercado.” À frente do Banco do Brasil, o impacto de sua gestão fez o valor da ação saltar de R$ 35 a R$ 59, uma valorização de quase 80%. 

Com presença ativa nas redes sociais, Tarciana é destaque naquela que une profissionais e corporações, o LinkedIn: é chamada por lá de “top voices”, ou seja, tem o selo que garante qualidade no conteúdo e grande alcance de leitores e leitoras daquilo que ela escreve e compartilha com seus seguidores.  É formada em Administração de Empresas, com pós-graduações em Administração e Marketing, e em Liderança, Inovação e Gestão. 

Na política, se considera uma mulher de esquerda, e acrescenta que isso não entra em conflito com sua posição. “Eu não sou presidenta, estou na presidência do Banco. Tenho plena consciência disso e entendo a responsabilidade de ocupar esse espaço, assim como as consequências de agir de forma inconsequente nessa posição. É crucial abordar o capital e a ‘revolução’ com equilíbrio”. 

– O que mudou na sua vida neste ano? Quais foram os resultados positivos dessa experiência depois de um ano nessa função? 


– Primeiro, quero agradecer por essa pergunta, pois ela é realmente interessante. O que mudou na minha vida foi a própria vida. Mudou tudo. A única coisa que não mudou foi o cuidado, o carinho e a dedicação que tenho pelo banco. Isso permaneceu inalterado. Mas a vida, de fato, mudou muito. Nesses 14 meses o saldo foi completamente positivo. Conseguimos implementar um modelo de gestão no Banco com muito cuidado sobre como fazer as coisas. Desde que assumi, sempre disse com muita tranquilidade: o Banco do Brasil é uma empresa muito disciplinada na execução de sua estratégia corporativa. Nossa estratégia é desenvolvida de forma colegiada, com muitas áreas do banco envolvidas para que possamos colocá-la em prática. E ela é sempre de longo prazo. Portanto, o processo de revisão e ajuste da estratégia possui um modelo, um modo de operar que já estamos acostumados há muito tempo. Para nós, executar a estratégia corporativa do banco é o padrão, é dado. Mas a maneira como executamos essa estratégia fala muito sobre a gestão do banco. Então, eu diria que o saldo é totalmente positivo.

Só para dar uma noção desse saldo positivo, quando fui anunciada como presidenta do banco, quando meu nome foi divulgado, no dia seguinte as ações diminuíram de valor. Passaram a valer, se não me engano, R$ 35,61. E no dia 16 de janeiro, quando tomei posse efetivamente, o mercado reagiu negativamente, as ações do Banco caíram porque era o dia da minha posse. Naquele dia, eu passei uma mensagem muito clara, mas com muita tranquilidade. Falei que o Banco do Brasil apresentaria um resultado financeiro condizente com uma empresa do seu porte, mas que também entregaríamos nossa justa contribuição à sociedade. Que conseguiríamos conciliar uma atuação comercial robusta com uma atuação social responsável.

Esse “combo” vem no sentido de trabalhar intensamente o banco comercial, que é meu conhecimento há 24 anos aqui. Conheço o potencial do banco não apenas para gerar resultados, mas também para transformar vidas, promover inclusão e executar políticas públicas de maneira eficiente. Então, o resultado foi extraordinariamente positivo. Comentei sobre o valor da ação porque, no dia 16 de janeiro, estava por volta de R$ 35,61 e, em 19 de fevereiro, alcançamos o patamar histórico da ação a R$ 59,91. Então, em um ano, o Banco do Brasil valorizou quase 80%. É uma empresa que valia R$ 85 bilhões no dia da minha posse e hoje está avaliada em R$ 136 bilhões. E já há expectativas do mercado, com análises financeiras projetando o preço da ação do Banco do Brasil em R$ 78,00. É extremamente gratificante ver que implementar essa estratégia de forma séria é importante, mas mais do que isso, é poder falar do banco, dessa empresa de tamanho significativo para o mercado, e nunca deixar de cumprir nosso papel enquanto empresa que carrega o Brasil no nome. Sempre tive muito orgulho disso, de trabalhar num banco que é do Brasil. Então, o saldo é completamente positivo. Conseguimos, de fato, cumprir com a missão e o propósito do banco de maneira muito plena e afetiva.

– Como você reagiu ao receber a notícia de que foi eleita pela Forbes uma das mulheres mais iinfluentes do mundo, sendo a única brasileira indicada e uma das melhores CEOs do Brasil?

– Então, desde o início, sempre soube que era capaz de gerir este banco de forma diferente, causando impacto no mercado. Nunca tive ou fingi ter falsa modéstia, sabe? Sempre reconheci minha capacidade. No entanto, devo dizer que a notícia foi surpreendente. Ao ver aquela lista, com mulheres das quais me inspiro, como a presidente do Banco Central Europeu e outras líderes de mercado notáveis, foi uma revelação. Ali estavam pessoas que eu precisava estudar e acompanhar, todas na mesma lista em que fui inclusa. Inicialmente foi uma surpresa, mas depois percebi a lacuna de gestão feminina que eu preenchi. Te digo que temos gestoras brasileiras com potencial para estarem ranqueadas de primeiro a centésimo lugar na lista da Forbes. Quanto mais oportunidades criarmos e líderes mulheres trouxermos, mais a lista será povoada por brasileiras. Recebi a notícia com surpresa. Pessoalmente, aumentou minha responsabilidade, meu compromisso comigo mesma, em relação ao que sei que posso realizar e ainda posso fazer mais. Não posso “deixar a peteca cair”, e devo colocar em execução tudo o que planejamos. Portanto, a inclusão na lista foi uma surpresa, mas nunca duvidei da minha capacidade de estar lá. Foi um grande orgulho e felicidade representar o país como a única mulher listada pela Forbes. Foi um momento de reconhecimento de uma vida inteira de trabalho e muita dedicação. Estou muito feliz e orgulhosa por ser reconhecida como uma das melhores CEO do mercado. 

Desde o convite feito pelo presidente Lula, quando me propus a aceitar e estar CEO do Banco do Brasil, sabia que eu entrava para ser uma das melhores CEO do mercado, não aceitaria menos do que isso. Minha avó costumava dizer algo bastante interessante quando eu celebrava uma nota que ficava na média: “se a média da escola é sete, ou você precisa ou tirar muito baixo de sete para pedir ajuda, ou precisa tirar muito acima de sete. Porque em sete ninguém vai te enxergar nunca. Ficar na média não destaca ninguém”. Ela usava o exemplo da Zebrinha que um programa de domingo exibia para apresentar os resultados do campeonato brasileiro. E continuava “ou faz um grande resultado ou perde de lavada para ser notado. No meio, ninguém vê. Porque não tem chance alguma, nem de ganhar, nem de perder. Quem não perde, nunca aprende. Quem não ganha, nunca é visto. Então, nunca fique na média da tabela.” Fui sempre muito atenta a isso. Quando aceitei o convite do presidente Lula, meu compromisso já era me tornar uma das melhores CEOs do mercado, um objetivo que já tinha em mente. No entanto, jamais esperava estar na lista da Forbes.

– Como você concilia todas as inúmeras tarefas impostas à melhor CEO do Brasil com os pormenores das atividades da empresa? Você consegue, por exemplo, acompanhar o departamento de Marketing do Banco e ainda tem tempo para se envolver tão profundamente em questões específicas, como a comunicação com o mercado e a sociedade?

– Sim. Na verdade, a diretoria de Marketing, a diretoria Jurídica, a unidade de Governança e a diretoria de Estratégia Organizacional estão diretamente ligadas a mim. Por isso, acompanho de perto todas essas áreas. Lembra quando mencionei no início que não tenho falsa modéstia? Em muitas entrevistas ao longo da minha vida, me perguntavam qual era minha principal qualidade. Sempre respondi que sou capaz de montar equipes eficazes. Como as contratações no banco são feitas por concurso público, não posso escolher com quem trabalhar, consequentemente, eu, com dois anos no banco, assumi a minha primeira gerência, já são 24 anos de gestão, dos quais 22 como gestora no banco. 

Uma habilidade que desenvolvi durante todos esses anos, que acredito ter trazido um pouco da minha experiência de vida, foi a capacidade de formar, cuidar e liderar equipes de alta performance. Todas as equipes com as quais trabalhei sempre demonstraram excelência. Essa excelência vem do entendimento das características individuais de cada pessoa, possibilitando que entreguem o seu melhor. Superman é conhecido por sua força, mas sabemos que existe uma fraqueza, a criptonita, ela está lá para sabermos que ela existe. Conhecemos a Mulher Maravilha por sua invencibilidade, ela não é conhecida com a mulher tímida escondida atrás da roupa, é conhecida por sua fortaleza. Busco ver a força de cada pessoa e direcioná-la para onde possa trazer os melhores resultados. Desde o primeiro dia, organizei minha equipe e gestores, conhecendo-os muito bem. Trabalhei com praticamente todo o conselho diretor e toda a diretoria executiva. Essa familiaridade me permite alocá-los nos lugares onde sei que podem maximizar os resultados para o banco. Isso me proporciona confiança e me permite acompanhar de perto as áreas mais sensíveis, como o Marketing, minha área de formação, pois eu trabalhava anteriormente na diretoria de clientes, cuidando da comunicação banco-cliente. Por isso, acompanho de perto o posicionamento mercadológico do banco, garantindo que se alinhe à estratégia corporativa. Participo desde o início até o fim na governança e aprovação dos planos de marketing, assegurando que a mensagem transmitida seja coerente com nossos objetivos corporativos. Dentro de toda a estratégia de marketing, que é bastante ampla, tenho a preocupação de garantir que nossa comunicação esteja em conformidade com o que nos propomos a realizar.

– No seu perfil do Instagram, você se apresenta como embaixadora do ODS-10, os Objetivos de desenvolvimento sustentável para reduzir as desigualdades. Como você está combinando essas duas coisas?

– Na verdade, essas duas coisas se confundem para mim, elas não concorrem, não são concorrentes. Elas são parte da missão de gestão do Banco do Brasil, de gerir o Banco do Brasil. E eu te diria que é uma parte importante para permanecer sendo uma das melhores CEOs do Brasil.  Eu tenho tido muito cuidado de levar este Banco do Brasil, que é o banco mais sustentável do mundo, que é uma empresa em que tratamos as questões de diversidade de forma muito séria, como representante do ODS-10, com o principal compromisso voltado para a redução da desigualdade e inclusão, tenho viajado pelo mundo levando a imagem desta empresa que atua de forma tão engajada em nosso país. Buscamos investimentos que nos permitam distribuir crédito e investir de forma responsável em projetos que promovam mais inclusão, equidade, redução das desigualdades e combate à fome. O que me faz gostar tanto do ODS-10 é sua transversalidade. Você acaba, quando age, implementando iniciativas que eu chamo de acabativas. Implementa acabativas que reduzem a desigualdade e contribuímos de forma abrangente para outros ODSs e objetivos.

No ano passado, participei de pelo menos quatro missões. Fui a Nova York, uma das missões mais significativas para mim, durante a Assembleia Geral da ONU, onde o Pacto Global do Brasil organizou agendas paralelas para tratar de diversos temas com organismos bilaterais e investidores de todo o mundo. Tive a oportunidade de apresentar o modelo de gestão do Banco e nossas iniciativas para o mundo. Durante essa visita, também realizamos reuniões com investidores e clientes brasileiros em Nova York. A ação mais marcante foi o manifesto em prol da Amazônia, lançado na Times Square, sendo a primeira vez que um banco brasileiro ocupou esse espaço para falar de Brasil.

Então, falar desse Brasil, que tem muito potencial, que não é o país do futuro, é o país de agora: o banco está gerando resultado e gerando riqueza para o mundo agora e o país para receber os investimentos do mundo nesse momento: um país com uma economia dinâmica, população produtiva com potencial para desenvolvimento, enquanto combatemos as desigualdades, é uma missão diária minha. É um propósito que sigo obstinadamente. Nada melhor do que esse momento em que estou gerindo o banco mais sustentável do mundo, com práticas sólidas de governança. As práticas de sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa são parte intrínseca do Banco do Brasil, a qual está em total correlação com a agenda para um mundo mais sustentável. Participar dessas agendas tem sido fundamental. 

– Queria que você comentasse um pouco sobre o inquérito do Ministério Público Federal sobre o comportamento do banco no período do Brasil escravagista, uma questão muito importante para a sociedade brasileira.

Sobre o inquérito, estamos atendendo aos pedidos feitos pelo Ministério Público e colaborando de forma ativa para tratar de um tema de extrema relevância. Vejo essa questão como uma discussão que envolve a sociedade como um todo, não apenas o Banco do Brasil exclusivamente. Estar CEO do Banco neste momento, vejo como uma oportunidade de trazer esse assunto para a sociedade brasileira. Estamos à disposição do MPF, participando de audiências e divulgando as ações do banco nesse contexto. No entanto, a questão vai além. Desde o primeiro dia de minha gestão, a diversidade, em seu sentido mais amplo, tem sido uma prática diária. 

No ano passado, antes mesmo do inquérito e das discussões sobre ele, o Banco do Brasil já havia assinado como embaixador do Pacto Global a iniciativa “Raça é Prioridade”, pois para nós, a questão da raça é prioritária. Ao assumir o cargo, por exemplo, não tínhamos nenhum CEO negro em nenhuma de nossas empresas. Foi assim que buscamos e nomeamos o primeiro CEO negro da BBAsset na história do banco. Temos várias iniciativas para promover a diversidade racial e de gênero dentro do banco, e no dia internacional da mulher nomeamos a primeira mulher negra como superintendente estadual. 

Lançamos um programa para inclusão e aceleração do processo de lideranças negras, reconhecendo a necessidade de agir rapidamente e nomear líderes negros para atingir níveis aceitáveis de diversidade. Sabemos que a população negra e parda representa cerca de 70% da população brasileira. No entanto, essa representatividade não se reflete nos cargos de liderança e gestão das empresas. Buscar priorizar a diversidade racial em nossas relações com fornecedores, clientes e internamente no banco, junto com a nomeação de líderes negros, é um processo contínuo que iniciamos desde o primeiro dia de nossa gestão. Implementar ações que abordem a igualdade racial com seriedade tem sido uma prioridade desde o primeiro dia de nossa gestão. 

Em relação ao inquérito, vejo como um momento crucial de debate na sociedade. Estamos à disposição e trabalhamos em estreita colaboração com o Ministério da Igualdade Racial e com o Ministério dos Direitos Humanos e no âmbito do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão, criamos um grupo de trabalho com líderes de movimentos negros de todo o país para discutir e desenvolver ações inclusivas. 

Mas tinha uma coisa que sempre me deixou muito ansiosa, um debate que é muito importante e precisa ser feito pela sociedade: o que é reparação? Ao tratar das questões que eu chamo de acabativas, eu tenho muita ansiedade de ações concretas. Desde o ano passado, estivemos em discussões com o Conselho Nacional de Justiça sobre um programa chamado “Novos Caminhos”.  e firmamos um acordo de cooperação técnica para priorizar jovens que foram adotados ou criados pelo Estado e que, ao atingirem a maioridade, enfrentam dificuldades de empregabilidade. Esse programa terá um foco especial em jovens negras. Em parceria com o Ministério da Igualdade Racial, estamos implementando programas como Menor Aprendiz e Educação para Inclusão de Mulheres Negras e Lideranças Negras. Com a Fundação Banco do Brasil, lançamos um edital de empreendedorismo feminino voltado para mulheres negras. Reconhecemos a importância da inclusão, independentemente de qualquer chamado para o Banco. Sabemos da necessidade e temos um planejamento sólido nesse sentido. Estamos fiéis à execução desse plano e nunca desviamos o foco. 

Atualmente, temos uma exposição inédita no Centro Cultural do Bando do Brasil de São Paulo, com obras de 61 artistas negros ocupando os cinco andares do centro. Quando estou no aeroporto, tenho contato com os clientes, o que se torna um momento bem interessante para mim. Em uma dessas interações, ouvi de um cliente que ele jamais tinha ido ao CCBB, e que essa exposição, o levou até lá. Trazer exposições como essa para o CCBB de São Paulo e envolver jovens da periferia é muito significativo. Os artistas negros têm um grande valor para nossa cultura, que é profundamente negra. Ver esse espaço de representação é muito importante. 

No esporte, investimos em atletas como Isaquias Queiroz, Canoísta negro da Bahia. Também patrocinamos a Rayssa Leal, representante inspiradora para jovens no Nordeste. Investimos nesses atletas não apenas por suas competências, mas por servirem de espelho para outros.  No mercado de tecnologia, o Movimento de Mulheres na TI, na área de Tecnologia da Informação, uma iniciativa muito inclusiva, desafiando a predominância masculina nesse mercado. Ao promover mulheres negras na tecnologia, buscamos ampliar a presença delas no setor financeiro. O Banco do Brasil é hoje uma referência para outras empresas interessadas em entender práticas inclusivas, que acaba nos procurando para adquirir este modelo.

Então, para além de qualquer questão ou pedido formal direcionado ao banco para que se posicione ou responda a alguma situação relativa a processos ou algo do tipo, reconhecemos a necessidade e a responsabilidade que o banco, como uma empresa que leva o nome do Brasil, e como um dos maiores do sistema financeiro, tem. Nossa presença se estende a praticamente todos os municípios brasileiros, o que nos confere um poder significativo de transformação, influência e educação. Dessa forma, acredito que temos desempenhado esse papel de maneira positiva.

– Como é que a sua gestão está atuando para promoção e desenvolvimento sustentável e inclusão financeira nas regiões menos desenvolvidas do país?

– Temos trabalhado bastante em prol do desenvolvimento humano, da inclusão financeira. Nesse sentido, trabalhar a tecnologia em favor do aspecto econômico é fundamental, pois isso gera retorno financeiro. Como somos um banco, trabalhamos para o retorno financeiro. Trazer uma abordagem diversificada para todos os negócios do banco resulta em sucesso, há uma variedade de perspectivas consideradas desde o início. Estamos focados no desenvolvimento de modelos analíticos que compreendam as particularidades de cada região e as demandas de cada comunidade local. Por exemplo, hoje somos capazes de identificar que tipo de crédito é mais demandado em um estado do norte em comparação com um estado do centro-oeste. Trabalho nessa perspectiva: entregar um banco para cada cliente, levando em consideração as necessidades locais para impulsionar o desenvolvimento. Ao abordar o desenvolvimento sustentável, especialmente por meio do crédito, que é um dos maiores vetores de atuação do Banco do Brasil, enfatizo a importância da sustentabilidade desse crédito. 

Historicamente, nossos índices de inadimplência são significativamente inferiores aos do mercado. A concessão de crédito é um foco forte, especialmente para micro e pequenas empresas. No ano passado, atingimos um marco histórico de R$ 101 bilhões em crédito direcionado a micro e pequenas empresas, beneficiando um total de 282 mil empresas. Estas micro e pequenas empresas são distribuídas por todo o país, o que torna nosso crédito mais sustentável e acessível. A pulverização do crédito nacionalmente, por si só, já é uma abordagem mais sustentável. 

Além disso, ao distribuir o crédito de forma pulverizada, favorecemos mais empregos em diversas regiões do país, o que contribui para a preservação de pelo menos 4 milhões de empregos. A concessão responsável de crédito considerando a diversidade de regiões é essencial para ampliar o impacto social. Um dado relevante é que das empresas que receberam crédito, 111 mil são dirigidas por mulheres. A inadimplência é menor, a rotatividade de funcionários é menor e a relação com as empresas é duradoura, resultando em um aumento nos limites de crédito conforme o rating dessas empresas, numa tendência positiva. A concessão responsável de crédito envolve um profundo conhecimento das diversas regiões do país, considerando que estamos presentes em todos os municípios brasileiros. 

– Queria que você comentasse os projetos mais importantes no sentido de atender os objetivos do atual governo federal e também se você já tem os resultados do Desenrola BB 

– Eu diria que, dentre todos os programas, o que mais se destaca é o Pronaf, no qual o Banco participa, pois 80% dos alimentos que chegam à mesa do brasileiro provêm de pequenos produtores, da agricultura familiar. Portanto, essa atuação conjunta do governo e do Banco na agricultura familiar faz muita diferença e eu afirmaria que é nossa principal atuação dentre os programas do governo, sendo também a principal atuação do Banco. Existem outros programas nos quais atuamos de forma muito presente e próxima. Pronamp, o programa de renegociação e crédito para micro e pequenas empresas, médias empresas, também são programas nos quais o Banco atua de forma muito presente. Quanto aos fundos e à gestão dos fundos governamentais, destacamos o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste, FCO, que tem um impacto significativo para colocar crédito no Centro-Oeste. 

Também buscamos atuar junto ao governo em todos os programas que são lançados. Alguns programas não conseguimos participar, visto que também temos parceiros como a Caixa Econômica, o BNDES, o Banco do Nordeste, o BASA, mas é importante que eles também tenham espaço. O governo federal é o maior cliente do Banco do Brasil e nosso maior parceiro, é justo trabalharmos juntos. 

Em relação ao Desenrola, eu diria que é o maior programa de devolução da dignidade financeira já realizado no país. Embora o programa tenha uma data formal de encerramento até o final de março, seu legado de resolver dívidas de forma rápida e assertiva para o mercado permanece. Independente da prorrogação do programa, para o Banco do Brasil, o Desenrola foi um sucesso total. Renegociamos um total de R$ 23,8 bilhões, ampliamos a visão com o Desenrola BB, gerando um movimento significativo de renegociação de dívidas. O programa possibilitou um aumento de cerca de 200% na média de renegociações de dívidas, com muitas dívidas sendo pagas à vista. Além disso, atendemos também o público que não estava abrangido pelas normas do programa, como micro e pequenas empresas, dívidas mensais e de crédito imobiliário. 

Agora, tem um verbo que é o desenrolar. A pessoa procura os bancos para desenrolar. Eles ligam nas operadoras e dizem: “Olha, eu quero desenrolar. Como faz?” e já sabemos que é para renegociar uma dívida. Se essa pessoa cabe no programa, levamos as condições do Faixa 1 e do Faixa 2, mas se não está previsto no programa, ajudamos a desenrolar do mesmo jeito. Neste sentido, para nós, foi um sucesso, negociamos dívida de mais de um milhão de clientes. 

Um programa que foi desenvolvido ouvindo todos os atores do mercado financeiro, todo mundo foi ouvido, o mercado foi ouvido, o mercado foi convidado a participar, o mercado aderiu ao Desenrola. E eu acredito que ele deixa esse legado: se o mercado trabalha junto, conseguimos implementar soluções que beneficiam toda a sociedade, inclusive os bancos. A relevância do programa é destacada quando observamos a quantidade de pessoas e empresas que renegociaram suas dívidas, retornando ao mercado financeiro com dignidade e possibilitando o crescimento econômico. 

– O que a Tarciana quer deixar como legado da primeira mulher presidindo o Banco do Brasil?

– Eu diria que o grande legado que pretendo deixar e que já está em fase avançada de construção é que o Banco tenha na gestão, de fato, a mesma diversidade que ele possui em sua composição. O objetivo é trazer essa diversidade para todas as instâncias do Banco, de maneira ampla, além de cor, raça, gênero e etnia, incluindo também diversidade de conhecimento e capacidade de geração de valor. Além disso, aproveitando nossa presença em todo o país, buscamos refletir a diversidade regional, o Banco do Brasil é uma das poucas empresas que reflete verdadeiramente a diversidade do país, sendo um espelho da sociedade brasileira. 

Assim, o legado que desejo deixar no banco é que a gestão reflita a diversidade do país, levando em consideração não apenas questões corriqueiras, mas também uma variedade de fontes de resultado. O Banco do Brasil possui inúmeras possibilidades de diversidade em suas fontes de resultado, não se limitando apenas a gerar riqueza financeira, mas também desenvolvimento social e sustentável. Quero que o mundo reconheça o papel significativo do banco, percebendo-o como um parceiro diverso que espelha a sociedade brasileira e que orgulha o país. Desejo que a sociedade possa enxergar no Banco do Brasil não apenas uma instituição bancária, mas uma empresa que leva o país para o mundo, sendo um reflexo positivo e exemplar da diversidade e potencial do Brasil.

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