Fábio Novo avança nas pesquisas de intenção de voto em Teresina, Piauí, uma das principais apostas do Partido dos Trabalhadores, que pode garantir ao partido a governar capital e o estado simultaneamente 

Fernanda Otero

Com carreira destacada na política e no jornalismo, filho de espanhóis emigrados para o Brasil na década de 1960, Fábio Nuñes Novo, 49, entrou para a política a contragosto do pai, elegendo-se vereador ainda jovem, aos 19 anos. “Meu pai sempre dizia que não queria nenhum filho político, porque ele achava que política era coisa de gente ruim”, lembra ele. 

Presidente Lula e Fábio Novo

Filiado ao PT desde 2003, é deputado estadual no Piauí e está na vice-liderança nas pesquisas de intenção de voto para a prefeitura de Teresina, capital do estado. O deputado conversou com a Focus entre um gole e outro de café com beiju – o nome dado à tapioca em Teresina para falar sobre o pleito e a aposta na tecnologia na construção do plano de governo.  Animado para a disputa, ressaltou que sua trajetória na política foi construída com muita determinação. “Política é a arte de servir e através dela você pode melhorar a vida das pessoas”, destacou.

Como a maioria dos filhos do interior, foi estudar na capital, em um tempo em que as cidades pequenas não ofereciam oportunidades de qualificação, nem mesmo ensino médio. Quando voltava para casa durante as férias escolares na pequena Bom Jesus, sua terra natal, reunia-se com outros jovens da comunidade. Desses encontros surgiu um movimento cultural e esportivo que ganhou expressão, ocupando outros bairros do município, e Fábio Novo despontou como uma jovem liderança.

Eleito deputado estadual em três eleições consecutivas, de 2010 a 2018, foi Secretário de Cultura na gestão de Wellington Dias duas vezes. Em 2020, chegou ao segundo turno como candidato a prefeito de Teresina pelo PT.

Abaixo, os principais trechos da entrevista:

O que mais te motivou a se apresentar como candidato, deputado?

Foram quatro nomes muito fortes, quatro deputados disputando a indicação do partido para serem candidatos a prefeito. Entre eles estava o presidente da Assembleia Legislativa do Piauí, deputado estadual assim como eu, mas também havia o deputado federal, Merlong Solano. Além disso, contávamos com um deputado que é médico, representando uma novidade aqui no PT. Enfim, todos eram muito fortes. Contudo, acredito que o que realmente fez a diferença foi minha determinação de ir ao encontro das comunidades, de mostrar verdadeiramente o que eu desejava. Estou muito empenhado em ser o prefeito da cidade porque, penso eu, neste momento, a cidade possui uma oportunidade única que não teve em muitos anos, com Lula assumindo a presidência e Rafael Fonteles governador. Nunca tivemos simultaneamente um prefeito da capital alinhado com o governo do estado e com o governo federal. Teresina é a única capital que não aderiu ao programa Mais Médicos. Agora, neste exato momento, Teresina também não aderiu ao Saúde Digital, que é um caso de sucesso implantado pelo governador aqui, que zerou a fila de consultas e exames na cidade de Piripiri, que fica a 170 quilômetros daqui. Agora, esse caso de sucesso começa a ser espalhado para outras cidades e Teresina, por causa dessa diferença política, a gestão atual não teve a maturidade suficiente para entender que a cidade deve estar acima dos partidos e das ideologias. Vou lhe dar alguns exemplos bastante concretos. Bolsonaro era o presidente e o principal ministro de seu governo, Ciro Nogueira, era do Piauí. Em Teresina, tínhamos quatro projetos que esse grupo político poderia ter executado. Estava aqui o viaduto do mercado do peixe, projeto que eles não conseguiram concluir. Tínhamos a duplicação da BR que liga Teresina a Demerval Lobão, obra que também não foi finalizada. Contávamos ainda com uma obra de responsabilidade do governo do estado, que era a nova maternidade Dona Evangelina Rosa, um empreendimento de R$200 milhões. Devido à falta de parte dos recursos do governo federal, essa obra não foi concluída. A partir do momento em que Lula assume o governo e Rafael assume o governo do estado, unimos forças para concluir essas obras na capital. Assim, no primeiro ano de Lula e Rafael, a duplicação da BR foi concluída. No primeiro ano do governo de Lula e Rafael, a nova maternidade também foi concluída. Passamos a ter em Teresina a melhor maternidade pública do Brasil: 300 leitos, equipamentos de ponta, o melhor que há. Ultrassonografia 3D, na qual você pode ver o rosto do bebê, e tudo pelo SUS, gratuito para a população. E agora, está sendo concluída outra obra grandiosa. Esta sintonia política entre o governo federal e o governo do estado está finalizando aqui o rebaixamento da Avenida João XXIII, uma grande obra na altura da ladeira do Uruguai. Portanto, observe: um ano de Lula e um ano de Rafael trouxeram isso para Teresina. Em quatro anos de Bolsonaro, com o principal ministro do governo sendo do Piauí, não conseguiram realizar nada. Então, quem ganha com isso? Ganha a cidade, ganha a população. E claro, se esse projeto também estiver alinhado no nível municipal, teremos capacidade para fazer muito mais por Teresina.

A sua pré-campanha apresentou uma versão preliminar do plano de governo. Como foi o processo de elaboração e quais os pontos que gostaria de destacar?

Bom, primeiramente, estamos realizando uma ação inovadora. Em vez de simplesmente reunir os técnicos e posar para uma foto à mesa, fizemos o contrário. Abrimos uma plataforma, no endereço virtual novoplanoteresina.com.br, onde qualquer pessoa pode enviar uma contribuição para o plano de governo. Pode ser uma mensagem de texto, um áudio ou um vídeo. Recebemos quase 7 mil contribuições das pessoas. Então, neste exato momento, estamos organizando essas contribuições por temas e áreas e convocando técnicos para compilar o que as pessoas enviaram. Nesta semana, começamos a detalhar quatro questões. Atualmente, o principal problema de Teresina é a saúde. Hoje, temos na cidade quase 100 mil teresinenses aguardando na fila por uma consulta e, consequentemente, por um exame. Temos um case de sucesso, que resolveu, em dez especialidades médicas, zerar as filas de consultas e exames. Teresina possui atualmente 93 unidades básicas de saúde, dez hospitais e três UPAs.

Qual é a ideia? Interligar todo esse sistema de saúde: município, estado e governo federal. Porque, com esse case que aconteceu em Piripiri, eu consigo oferecer mais eficiência na prestação de serviços de saúde. Eu consigo realizar consultas também com a ajuda da telessaúde. Eu consigo realizar consultas presenciais. Eu consigo estabelecer uma central de exames, que vai disponibilizar exames de imagem e laboratoriais. E, com isso, zerar ou diminuir essa fila que é muito grande. Então, em seis meses de funcionamento em Piripiri, a fila para consultas de especialidades foi zerada, assim como a fila para exames laboratoriais e de imagens. Então, baseando-nos nas propostas das pessoas, queremos trazer esse case de sucesso para a capital. Como? Por exemplo, instalando quatro centrais de exames em cada zona da cidade. É assim que pensamos. Capacitar o agente comunitário de saúde, para que ele tenha um computador de mão, um tablet, uma unidade básica de saúde com internet de alta velocidade e sistemas de saúde interligados: município, estado e governo federal. Com isso, você vai conseguir, num determinado espaço de tempo, mapear e obter um diagnóstico da saúde do município. Hoje, Piripiri tem um diagnóstico. Ele sabe, com esse sistema que foi implantado, quantas pessoas têm diabetes, quantas têm pressão alta. E, a partir daí, você poderá focar sua política pública de saúde com base nesses indicadores. O outro ponto é trabalhar para que, ao longo do mandato, e até o final dele, tenhamos tarifa zero no transporte. Com o início no primeiro ano, implementamos o passe livre estudantil para todos os estudantes da rede estadual e municipal. Ter um governo aliado é uma vantagem, pois permite somar esforços. Uma parte do financiamento do passe livre estudantil aos alunos do Estado, virá de um compromisso do governador de nos apoiar nessa medida, através de uma lei que aprovamos na Assembleia Legislativa. Além disso, vamos zerar o ICMS para o óleo diesel por meio de uma lei estadual, tornando o sistema gradualmente mais barato. Aos poucos, substituiremos a frota atual por uma frota elétrica. Portanto, no planejamento que estamos fazendo, hoje temos uma tarifa cheia de R$4,00 e uma tarifa subsidiada de R$1,35 para o estudante. Nossa meta é zerar a tarifa já no primeiro ano para os estudantes das redes municipal e estadual e, substituindo a frota, monitorar os veículos e integrar tecnologia para que possamos saber precisamente qual o horário que o ônibus vai passar. Assim, como hoje temos uma cidade congestionada, a tarifa zero ajudará também a reduzir o trânsito e os engarrafamentos, com menos carros circulando e menos poluição. O planejamento inclui a mudança de frota para que, a médio prazo, seja totalmente elétrica, descarbonizando a cidade. Essa é a proposta na área do transporte. Quanto ao orçamento participativo, Teresina tem um orçamento popular que não funciona efetivamente, pois as comunidades escolhem o que querem, mas a prefeitura não consegue executar. Aqui no estado, retomamos a experiência de orçamento participativo, uma ação que recentemente ganhou um prêmio nacional por ser considerada a melhor experiência de orçamento participativo e por ser extremamente moderna. Essa experiência utiliza um aplicativo onde, inicialmente, o governador decidiu que teríamos orçamento participativo nas duas maiores cidades. Foram destinados R$40 milhões no ano passado para a capital, Teresina, e R$10 milhões para Parnaíba, nossa segunda maior cidade. O orçamento participativo que foi lançado permite que cada associação de moradores indique três propostas. Em seguida, estas voltam para a comunidade, e por meio do uso de um aplicativo, as pessoas do bairro votam nessas três propostas. A proposta que receber mais votos é a que ganha e, obviamente, é a que será executada. No ano passado, tivemos 80 propostas aprovadas, sendo 67 para Teresina e 21 para Parnaíba. Essas propostas foram aprovadas no ano passado, e ainda no mesmo ano se transformaram em orçamento; nós aprovamos na Assembleia Legislativa a lista de propostas aprovadas, e este ano, estando em abril, já conseguimos executar 61% dessas 88 propostas aprovadas em Teresina e Parnaíba. Portanto, é um sucesso, o orçamento participativo do governo do estado. Ganhou um prêmio nacional do Collab no ano passado, quando 52 mil pessoas votaram para escolher proposições em Teresina e Parnaíba, e tivemos aproximadamente 250 associações participando desse processo, incluindo conselhos comunitários e associações de moradores. Este ano, a iniciativa foi reaberta para Teresina e Parnaíba e ampliada para mais três cidades: Piripiri, Picos e Floriano. E veja, ao invés de 200 associações, mais de 500 participaram agora, apresentando um triplo de propostas em relação ao ano anterior. Assim, essa experiência de orçamento participativo é o que vamos também levar para o município de Teresina. 

Em março, o Ministério Público chegou a apresentar uma minuta de um Termo de Ajustamento de Conduta, TAC, à Fundação Municipal de Saúde de Teresina. O senhor está acompanhado este processo?

Então, na verdade, hoje enfrentamos um caos no sistema de saúde de Teresina. Nas unidades básicas de saúde, falta papel para imprimir as receitas prescritas pelos médicos. Está faltando medicamento para pressão alta, medicamento para diabetes. No principal hospital de urgência de Teresina, que deve ser o mesmo a que você se refere com essa questão do TAC, falta o insumo básico, estão faltando luvas, está faltando o essencial. As cirurgias estão suspensas porque não há insumos básicos para realizar os procedimentos cirúrgicos. Então, o sistema aqui está totalmente desorganizado. Para você ter uma ideia, não ocorrem licitações, tudo é tratado como emergencial na saúde de Teresina, nesta gestão, só para você ter uma noção, com o prefeito que busca a reeleição, tem 3% de intenção de votos e 89% de rejeição. É uma situação inédita aqui em Teresina, isso nunca aconteceu antes. Portanto, será necessário que o próximo prefeito dê um choque de gestão, decretando estado de emergência na saúde para poder lidar e resolver esse problema que, hoje, está bastante complicado. Nas unidades básicas de saúde, nas UPAs, nos hospitais, vivemos uma situação de calamidade.

Uma pesquisa recente revelou que a maior preocupação dos residentes de Teresina é com relação à segurança. Quais propostas para a área?

Olha, a segurança, em janeiro do ano passado, quando Rafael tomou posse, era o principal problema, apontado por 53% da população. Toda a política que foi implantada ao longo de um ano e três meses tem surtido grandes efeitos. Assim, esse índice caiu de 53% para 28%. Ainda é alto. Houve um forte investimento no primeiro ano do governo de Rafael. Só para você ter uma ideia, nunca na história do Piauí, em um ano, se contratou dois mil homens e mulheres para as forças de segurança como no primeiro ano deste governo. Houve um forte investimento em tecnologia, inteligência, aquisição de viaturas. Enfim, o Piauí agora é um caso de sucesso que acabou de ser destacado no Fantástico por 12 minutos, com a devolução de celulares e motos roubados. O governador foi chamado recentemente pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, para adotar o protocolo de recuperação de celulares para o restante do Brasil. Isso ocorreu há poucas semanas. Agora, o que o município pode fazer? Infelizmente, aqui o município não dialoga com o Estado, com as forças de segurança do Estado. Temos uma guarda municipal com 300 homens e mulheres, e um centro de comando que pode monitorar a cidade inteira com câmeras, um investimento de quase 40 milhões. Esse centro de comando está fechado, não funciona. A Secretaria de Segurança já tentou fazer parceria com o município para, inclusive, usar esse centro de comando para monitorar melhor a cidade. A prefeitura não aceitou essa parceria. Então, a minha ideia é que façamos essa parceria. Centro de comando, guarda municipal, que juntamente com as forças de segurança do Estado, poderão fazer mais operações, mais blitz juntos e, além disso, um investimento em equipamentos sociais, porque estamos falando da parte repressora. Portanto, vai ser necessário investir em centros de convivência, centros culturais, investimentos em esporte e um forte investimento para que também tenhamos escolas de tempo integral. Quanto mais tempo nossas crianças estiverem na escola, frequentando ambos os turnos, menos tempo terão para a ociosidade, para o envolvimento com drogas e, obviamente, para a violência. Se formarmos uma geração melhor, será melhor ainda. Portanto, no nosso plano de governo, a parceria entre a guarda municipal e as forças de segurança do Estado, o centro de comando que estará sintonizado com as forças de segurança do Estado, mais centros de convivência, mais centros culturais, esportivos e escolas de tempo integral é essencial.

Deputado, Teresina foi uma das capitais escolhidas pelo governo federal para poder receber uma casa da mulher brasileira, uma demonstração do compromisso deste governo com o Estado. De que forma as mulheres estão inseridas em seu programa de governo?

No nosso programa de governo, consta algo que já havíamos colocado desde a campanha de 2020. Assumi um compromisso público de que metade do secretariado, nos cargos de primeiro escalão, será composta por mulheres. Isso deve ser implementado, primeiramente, porque 54% da população daqui é do sexo feminino. Isso está muito claro na minha mente, assim como em postos-chave. Pretendemos escolher bons quadros e temos excelentes profissionais que podem ser aproveitadas. É isso que desejamos. Não queremos que a Casa da Mulher Brasileira seja apenas um local para atender mulheres que foram vítimas de violência. Acredito que devemos caminhar no sentido de empoderar mais as mulheres, de dar oportunidades para que elas efetivamente possam ocupar espaços de poder, para que possam se destacar. Vamos honrar esse nosso compromisso público.

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