Mineiro de Belo Horizonte, o deputado federal Rogério Correia teve pré-candidatura confirmada no dia 29 de fevereiro na corrida eleitoral para a prefeitura da cidade, uma das poucas capitais com cabeça de chapa liderada por representante do Partido dos Trabalhadores. Festejado, o evento que marcou seu lançamento contou com mais de 1200 pessoas e apoio do presidente Lula, que intensificará presença na capital para dar ainda mais gás à candidatura do petista Em entrevista à Focus Brasil, Correia fala sobre os desafios da cidade na conjuntura política nacional e de projetos

Fernanda Otero

Estado estratégico na política nacional, conhecido como o “decisor de eleições” nacionais, Minas Gerais é o estado que representa segundo maior colégio eleitoral do Brasil com mais de 16 milhões de eleitores, sendo as mulheres um total de 52% do eleitorado. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG), somente a capital, Belo Horizonte, possui mais de 2 milhões de eleitores.

Em 2022, Minas foi o único estado do Sudeste onde o presidente Lula venceu. A capital Belo Horizonte é uma das principais cidades do Brasil e representa um importante centro econômico, cultural e político na região  sudeste do país.  Conhecida por seu planejamento urbano inovador e por ser a primeira cidade planejada do Brasil, Belo Horizonte destaca-se por suas amplas avenidas, parques e a icônica Lagoa da Pampulha, projetada por Oscar Niemeyer. 

É neste cenário que Rogério Correa, nome já consagrado na política mineira, teve sua candidatura para a prefeitura da capital confirmada na noite de quinta-feira, 29, com honrarias de quem larga para vencer: o evento contou com a presença de mais de 1.200 pessoas, com peso político local e o apoio do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Além da presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR) e da secretária nacional de Finanças e Planejamento do PT, Gleide Andrade (MG), participaram do ato os ministros Alexandre Padilha (da Secretaria de Relações Institucionais), representando o presidente Lula, a ministra Luciana Santos (da Ciência, Tecnologia e Inovação), presidenta da Federação Brasil da Esperança e do PCdoB, o líder do governo Lula na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), o líder da bancada do PT na Câmara, Odair Cunha (PT-MG); os presidentes do Diretório Municipal do PT de BH, Guima Jardim, e do Diretório Estadual do PT de Minas Gerais, Cristiano Silveira, o presidente do PV, José Luiz de França, além de lideranças de movimentos sociais e sindicais, como CUT (Central Única dos Trabalhadores), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) e MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), o ex-prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias (PT-MG), hoje deputado federal, além de parlamentares estaduais e federais.

– Começo essa entrevista pedindo para que você se apresente para aqueles que ainda não o conhecem

– Sou professor por profissão, nascido e criado em Belo Horizonte no bairro Carlos Prates.  O bairro Carlos Prates já teve dois bons prefeitos de Belo Horizonte: Sérgio Ferrara e Célio de Castro. Então, é um bairro que tem tradição na luta política. Nasci em 1958, fiz o primário na escola Melo Viana, no Carlos Prates. Continuei minha formação na escola pública e fiz o ensino médio em Belo Horizonte, e, posteriormente, na Universidade Federal de Minas Gerais, cursei Física e Matemática. Iniciei minha militância política no final da década de 1970 e ajudei na fundação do Partido dos Trabalhadores. Fui também integrante e membro da direção da Central Única dos Trabalhadores. 

Fui eleito vereador em 1988, exercendo o cargo de 1989 a 1998, em três mandatos sucessivos. No meio do terceiro mandato, fui eleito deputado estadual, cargo no qual permaneci por quatro mandatos, e atualmente estou no meu segundo mandato como deputado federal, sempre pelo Partido dos Trabalhadores, do qual, como disse, sou fundador. 

Na Câmara Municipal, fiz parte da bancada que estabeleceu e aprovou a lei orgânica do município e atuei como líder do PT nos governos de Patrus Ananias e Sérgio de Castro.

Na Assembleia Legislativa, ocupei o cargo de primeiro-secretário e fui vice-líder do governo Itamar Franco, em uma coalizão contra o neoliberalismo. Apresentei vários projetos de lei que foram aprovados, tanto na Câmara de Vereadores quanto na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais.

Atualmente, como deputado federal, sou vice-líder do governo do presidente Lula. Fui relator da CPI dos crimes da Vale em Brumadinho e integrante da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Congresso Nacional, conhecida como CPI do golpe de 8 de janeiro.

Recentemente, perdi meu pai, que estava com 97 anos. Minha mãe, que também é professora, ainda vive, está com 92 anos. Após criar os filhos, ela cursou o ensino superior e lecionou para o 1º ao 4º ano do ensino fundamental. Meu pai foi sindicalista, especialmente durante o governo de João Goulart, e tinha ideais brizolistas e getulistas, o que também influenciou minha trajetória na luta sindical. Somos uma família de quatro irmãos: meu irmão mais velho já faleceu, mas ainda tenho uma irmã que é professora na Universidade Federal e um irmão que foi sindicalista e presidente do sindicato dos eletricitários em Belo Horizonte, atuante contra a privatização da CEMIG. Portanto, venho de uma família que escolheu a esquerda com forte engajamento com os movimentos sociais.

– Deputado, como foi a decisão de se candidatar? Como ocorreu o processo decisório?

Era necessária uma candidatura de esquerda, originária do Partido dos Trabalhadores, principalmente porque é um momento importante para alianças, e formaremos alianças nas duas principais capitais dos dois maiores estados brasileiros, São Paulo e Rio de Janeiro. Em São Paulo, o PT decidiu apoiar o companheiro (Guilherme) Boulos, um candidato extraordinário do PSOL, representando assim uma importante aliança à esquerda. Já no Rio de Janeiro, optou-se por uma frente mais ampla para derrotar o bolsonarismo com o prefeito Eduardo Paes, do PSD.

Diria que, no Sudeste, para o Partido dos Trabalhadores, é essencial participar da disputa nas capitais dos três maiores estados brasileiros. Assim, Belo Horizonte surge como uma prioridade para nosso partido e agora também para a federação. Isso nos levou à primeira obrigação de unir o Partido dos Trabalhadores. Sendo fundador do partido, natural de Belo Horizonte e com uma trajetória bem conhecida na cidade, além de estar atualmente como vice-líder do presidente Lula e ser reconhecido como um parceiro dele em todos os momentos, tanto bons quanto ruins, quando ele foi injustiçado, sempre estivemos juntos, isso nos faz ser bem reconhecidos na cidade. Conseguimos unificar o PT. Havia também duas outras companheiras em condições de disputar, a Beatriz Cerqueira e Macaé Evaristo, ambas deputadas estaduais e professoras, mas que julgaram que, neste momento, era melhor eu assumir esta responsabilidade.

Com o partido unificado, tanto no município de Belo Horizonte quanto no estado e nacionalmente, é importante destacar o amplo apoio que estamos recebendo da direção nacional, da presidenta Gleisi e da nossa tesoureira e secretária de Finanças, Gleide, responsável pelo Grupo Trabalho Eleitoral em Minas, o que facilitou a unidade do partido. Acredito que esse seja o primeiro passo. Sem o PT unido, é muito difícil vencer as eleições, com o PT unido, já temos meio caminho andado. Conseguimos unir a federação, no ato de quinta-feira, com o PV e o PCdoB. Acho que, com isso, vamos conseguir ampliar as alianças em BH e formar o time do Lula completo para derrotar Bolsonaro em Belo Horizonte.

– O senhor pode dar mais detalhes sobre o trabalho de pré-campanha? 

Em primeiro lugar, realizamos uma grande plenária, reunindo mais de 800 pessoas, em novembro do ano passado. Foi nesse momento que anunciamos mais abertamente a pré-candidatura. Nomes de relevância do partido estiveram presentes, demonstrando solidariedade partidária. No âmbito municipal, estamos realizando caravanas regionais.

Já definimos um slogan para a pré-campanha: “BH pode mais”. A cidade tem muito potencial, e pode muito mais em diversas áreas. Infelizmente, a prefeitura não tem conseguido realizar um trabalho dinâmico, com participação popular e resolução dos principais problemas, é uma prefeitura que ainda vê os interesses econômicos, muitas vezes, sobressaindo contra os interesses sociais e públicos. Um exemplo disso é a questão ambiental. 

Considero um absurdo que, até hoje, mineradoras possam operar na Serra do Curral, um símbolo para a nossa capital, essencial para o clima e até para o abastecimento de água. Recentemente, o prefeito apoiou uma corrida de carros em uma área protegida. Essas ações, além de revoltar a população, não refletem uma gestão municipal pautada pelas questões sociais. Mencionei o meio ambiente, mas a questão educacional segue a mesma lógica. Não podemos mais aceitar que em uma cidade rica como Belo Horizonte, as crianças não tenham creche em tempo integral, conforme a plataforma do governo federal. Por essas e outras razões estamos formatando um debate sobre Belo Horizonte para redirecionarmos o rumo de nossa capital.

Além disso, a cidade tem contabilizado alto índice de casos de dengue. Está evidente o descuido. Não podemos permitir que, no lugar do atual prefeito, de centro e do PSD, se estabeleça o bolsonarismo, uma direção ainda pior. Isso significaria a escolha da cidade por um ‘ultra capitalismo’, ‘ultraliberalismo’, distante das questões sociais, autoritário e voltado para a perseguição de setores da sociedade com pautas preconceituosas bolsonaristas. Portanto, derrotar o bolsonarismo também é uma de nossas obrigações. É por isso que estamos formando esta frente. Estamos dialogando também com o PSOL, PSB, Rede, PDT e planejamos conversar com outros partidos da base aliada. Enfim, o objetivo é criar uma frente para vencer as eleições.

– Como a sua longa experiência no Legislativo contribuirá, caso o senhor seja eleito prefeito?

– Olha, a participação popular é essencial no processo de administração, e isso inclui manter uma boa relação com o Legislativo, pois ele está próximo das pessoas, ele é a casa do povo. Devemos respeitar isso, como o presidente Lula está fazendo. Temos uma Câmara de Deputados e Deputadas onde somos minoritários, o que nos obriga a negociar. E é o que temos feito para poder governar e garantir governabilidade. Estamos trabalhando intensamente por uma Câmara de Vereadores e Vereadoras progressista, e eu espero ser prefeito com este cenário e, se assim for, teremos que dialogar sobre como ampliar a participação popular na cidade. As regionais de Belo Horizonte foram praticamente abandonadas, resultando em um processo muito centralizado na figura do prefeito. Descentralizar é importante para ouvir opiniões da população e suas demandas. Descentralizar é também crucial para criar conselhos populares e retomar o orçamento participativo, uma iniciativa do Partido dos Trabalhadores. Certamente, minha experiência no Legislativo e nos movimentos sociais vai ajudar a construir uma cidade com participação popular mais efetiva nas demandas e que resolva seus problemas de maneira coletiva.

– O senhor ficou conhecido nacionalmente pelo enfrentamento que tem feito, sem meias palavras, ao bolsonarismo. Como é que o senhor pretende lidar com essas figuras?

– O bolsonarismo, eu diria, é uma espécie de doença na sociedade. Ele absorve o que o capitalismo produz por meio do individualismo, da transgressão às leis sociais e ambientais, e transforma isso em política, em ideologia. Isso representa um retrocesso para a humanidade: uma corrente política como o bolsonarismo, que, a meu ver, é um caminho para o fascismo no Brasil, nega, por exemplo, a vacina. A sociedade está regredindo a um tempo em que a humanidade já havia superado certos problemas. O exemplo da vacina é apenas um dentre vários outros aspectos que demonstram retrocesso, inclusive nas relações humanas. Assim, o preconceito e as medidas tomadas contra segmentos da sociedade, sejam a comunidade LGBTQIA+, a população negra, esse preconceito fomentado por essa corrente de direita é um grande retrocesso, o qual não pode prevalecer, logo, deve haver um combate permanente e constante. 

No caso de Belo Horizonte, apesar da força significativa que cresce nesse modelo capitalista e individualista, nessa política que, em vez de ser humanitária e social, se mostra individual, precisamos contrapô-la com um programa para a cidade também. Portanto, o enfrentamento do bolsonarismo deve ser realizado em cada município com um programa muito concreto de participação popular e de melhorias na vida das pessoas, do ponto de vista de programas sociais e políticas públicas. É isso que apresentaremos como continuação da luta que travamos de forma incisiva contra essa corrente neofascista que cresce no Brasil neste momento.

– Como o senhor pretende combinar e contribuir ainda na condição de deputado, para o crescimento do PT no estado? O senhor tem expectativa de que ocorra um crescimento do partido em Minas Gerais?

– Ah, não tenho dúvida. Por isso que o diretório do partido também priorizou uma candidatura unificada para o PT, mais ampla com os aliados em Belo Horizonte, porque isso terá repercussões no Estado. Ter um candidato do Partido dos Trabalhadores, com esse vínculo estreito com nossa militância, repercute em todo o Estado de Minas. Acredito que isso ajudará tanto a ter mais candidatos e candidatas nos municípios mineiros, quanto positivamente do ponto de vista de ganhar as eleições, já que o presidente Lula demonstrou um apoio muito grande à nossa candidatura, isso terá repercussões em Minas Gerais, com certeza. 

O fato de o presidente Lula estar no governo ajuda, é óbvio, porque as pessoas precisam que as políticas públicas cheguem até seus municípios, incluindo Belo Horizonte. E dificilmente você consegue ter uma política pública chegando aonde o município é governado pelo bolsonarismo. Não é por causa do presidente Lula, que já demonstrou uma política federalizada, democrática, o problema são eles próprios, que são contra as políticas públicas que praticamos. Então, eles não querem levar políticas sociais e públicas para esses municípios. Podemos demonstrar que é isso, o Bolsa Família, o Farmácia Popular, o Minha Casa Minha Vida, todos esses programas, as creches para crianças em período integral, o Pé de Meia, que é um programa novo, agora formatado pelo governo, todos esses programas, e são vários, só chegam ao município se o prefeito também fizer um esforço para implementá-los. Obras importantes, do PAC, por exemplo, dependem da vontade política de quem governa o município. Por isso, tenho certeza de que o PT vai eleger muitos prefeitos e prefeitas no estado todo, que trabalharão em harmonia com o presidente Lula.

– Para encerrar, peço que deixe uma mensagem como militante do PT que está trabalhando para que o projeto do partido seja vitorioso

– Nossa intenção é governar Belo Horizonte com ampla participação popular. Isso implica que as políticas públicas contarão com a participação do povo em sua elaboração e valoração, defendendo-as. Pretendemos implantar em Belo Horizonte o que o presidente Lula criou em um de seus mandatos, que ele denominou de “Territórios da Cidadania”. nos locais mais carentes do país, experimentamos essa abordagem, especialmente por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Inclusive, em Minas Gerais, atuei como delegado do MDA no governo do Presidente Lula. 

A ideia é estabelecer esses “Territórios da Cidadania” nas periferias de Belo Horizonte, de modo que todas as políticas públicas sejam formuladas e implementadas a partir dos desejos e da organização da população local. Para isso, iremos utilizar conselhos populares e garantir a participação ativa da comunidade na avaliação de cada programa. Queremos verificar a eficácia do Bolsa Família, se está atendendo às famílias necessitadas, e se há necessidade de complementos por parte da Prefeitura. Verificaremos o significado e a implementação da escola em tempo integral, assegurando que todas as crianças estejam em creches em período integral. Caso contrário, identificaremos as lacunas e demandas. Analisaremos a situação da saúde pública e a possibilidade de construção de mais unidades de atendimento e postos de saúde, bem como a necessidade de reforço nas equipes de saúde da família. Abordaremos ainda questões de segurança nas áreas periféricas, verificando se há iluminação adequada, garantindo que as mães se sintam seguras ao deixar seus filhos nas escolas e que possam trabalhar com tranquilidade. Pretendemos discutir e aprimorar cada aspecto das políticas públicas, com foco especial nas periferias urbanas, onde a movimentação social é maior. Ademais, buscaremos combater preconceitos e promover políticas de proteção para as mulheres, LGBTQIA+ e outras minorias, visando a segurança e inclusão social. 

Acreditamos que, por meio do debate coletivo, a população se envolverá na construção da cidade que ela quer. Em outras palavras, não consideramos viável um bom governo apenas com a aplicação de recursos, mas sim com a participação ativa da população nos programas e na defesa de seus direitos.

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