Apelo do secretário de Estado é solenemente ignorado por Netanyahu, que voltou a insistir que Israel manterá pressão em Gaza e se recusa a promover um cessar-fogo. Na sexta, ambulâncias foram atingidas pelas forças israelenses

Israel-Hamas: Secretário de Estado dos EUA pede pausas humanitárias
PRESSÃO Secretário do Departamento de Estado, Anthony Blinken desembarcou em Telavive, para pedir um cessar-fogo a Israel. Foi ignorado

Enviado pelo presidente Joe Biden ao Oriente Médio pela quinta visita a Telavive, o secretário do Departamento de Estado, Antony Blinken, voltou a manter conversas com líderes na sexta-feira, 3, para insistir na necessidade de “pausas humanitárias” nos combates em Gaza. Ele disse que Israel deve “fazer mais para proteger os civis palestinos”. Mais uma vez, foi ignorado.

Em um comunicado aos repórteres ainda na sexta-feira, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que Israel continuaria sua campanha em Gaza com “todo o seu poder” e  se “recusa a promover um cessar-fogo temporário que não inclua o retorno de nossos reféns”. Falando à imprensa depois de se encontrar com Netanyahu, Blinken disse que os Estados Unidos tinham sido claros que importa “como Israel conduz esta campanha para derrotar o Hamas”.

O secretário chegou a Israel em meio à crescente preocupação internacional com o número crescente de mortos em Gaza, onde as autoridades de saúde locais dizem que mais de 9.500 palestinos foram mortos desde que Israel começou seu bombardeio aéreo do enclave empobrecido, depois do dia 7 de outubro, revidando a incursão do Hamas ao território israelense, em que promoveu uma matança que resultou na morte de 1,4 mil pessoas, incluindo mulheres e crianças.

Blinken abordou algumas dessas preocupações após sua reunião com Netanyahu, dizendo que os EUA estavam focados em “estabelecendo condições para uma paz duradoura e sustentável”. “O melhor caminho viável — de fato, o único caminho — é através de uma solução de dois estados”, disse.

Autoridades de saúde de Gaza disseram que várias pessoas foram mortas na última sexta quando uma explosão atingiu um comboio de ambulâncias do lado de fora do hospital al-Shifa, na cidade de Gaza. Os militares de Israel disseram que atingiram uma ambulância que estava sendo usada por combatentes do Hamas. A imprensa ocidental se limitou a dizer que não ficou imediatamente claro se o porta-voz das Forças de Defesa de Israel estava se referindo ao mesmo incidente.

As agências de ajuda alertaram para uma catástrofe humanitária à medida que a área fica sem comida, água, remédios e combustível. Blinken descreveu as pausas humanitárias como “arranjos no terreno que aumentam a segurança dos civis e permitem a entrega mais eficaz e sustentada da assistência humanitária”. Disse o secretário: “Em última análise, acreditamos que este pode ser um mecanismo crítico para proteger os civis, permitindo que Israel atinja seus objetivos de derrotar o Hamas”.

A última viagem de Blinken ao Oriente Médio vem em meio a sinais de que o apoio político nos EUA às táticas de guerra de Israel começou a desaparecer, e à medida que as autoridades americanas se concentram em um final para o conflito. 

Na quinta-feira, 2, o senador Chris Murphy, um respeitado democrata do comitê de Relações Exteriores, disse que a ofensiva de Israel estava “causando um nível inaceitável de danos civis e não parece provável que atinja o objetivo de acabar permanentemente com a ameaça do Hamas”. Outros principais apoiadores de Israel no Partido Democrata, incluindo o senador Dick Durbin, levantaram preocupações semelhantes nos últimos dias.

“Não sabemos quanto tempo a campanha vai demorar, mas será um período em que vamos recuar [e] você tem que ter algo em vigor”, disse o senador Ben Cardin, presidente do comitê de relações exteriores do Senado.

A viagem do secretário de Estado a Israel, a primeira etapa de uma turnê pela região, veio quando Hassan Nasrallah, líder da organização militante libanesa apoiada pelo Irã, Hezbollah, dirigiu-se aos seguidores em seus primeiros comentários públicos desde o início da guerra entre Israel e o Hamas. A preocupação que está crescendo em Israel é que o discurso possa anunciar a abertura de uma segunda frente no conflito.

Após ataques aéreos em Gaza, as Forças de Defesa de Israel (FDI) lançaram incursão terrestre no enclave há uma semana e anunciaram que cercaram a cidade de Gaza, base do Hamas.

Blinken disse que os EUA apoiam Israel, acrescentando que “não apenas têm o direito, mas a obrigação, de se defender”. Ele disse que seus esforços diplomáticos estão focados em evitar a escalada do conflito. Acha que consegue proteger os civis palestinos e aumentar o fluxo de ajuda humanitária para Gaza. “Nós passamos de zero para agora mais de 100 caminhões entrando em Gaza através da travessia de Rafah [entre o Egito e Gaza] todos os dias, mas isso ainda não é suficiente”, apontou. 

Ele declarou que disse aos líderes israelenses sobre “medidas tangíveis” que poderiam ser tomadas para aumentar o fluxo de assistência humanitária, incluindo combustível, e garantir que ela não fosse desviada para as mãos do Hamas. O porta-voz das FDI, Richard Hecht, disse que, tendo concluído o cerco da Cidade de Gaza, as FDI estavam agora envolvidas em uma “luta urbana complexa”.

“É um combate muito próximo entre nossas tropas e os agentes do Hamas”, declarou, acrescentando que os militantes do Hamas estavam emergindo rapidamente de túneis e disparando foguetes de posições próximas a áreas civis. Hecht disse que a próxima etapa da ofensiva era “começar a lidar com a infraestrutura do Hamas dentro da cidade de [Gaza]”, acrescentando que uma brigada de infantaria já estava lá.

As forças de Israel assumiram o controle de vários redutos do Hamas durante a noite de quinta-feira, anunciando ter apreendido grandes estoques de armas, incluindo granadas, cargas explosivas e equipamentos de comunicação. Outro porta-voz das FDI, Daniel Hagari, disse que as forças estavam em um “alto estado de preparação operacional na fronteira norte”, após uma série de trocas de tiros com o Hezbollah na fronteira norte.

Israel também anunciou que enviou 2.000 cidadãos que estavam trabalhando em Gaza quando a guerra eclodiu de volta ao território. “Israel está desintegrando todo o contato com Gaza”, disse o escritório de Netanyahu em um post na plataforma de mídia social X, anteriormente conhecida como Twitter. “Não haverá mais trabalhadores palestinos de Gaza”.

Os trabalhadores foram devolvidos através do cruzamento de Kerem Shalom, para as “zonas seguras” da faixa sul. Estima-se que 3.300 trabalhadores de Gaza com licenças estavam em Israel em 7 de outubro. Os números restantes serão devolvidos em rodadas futuras. •