O segundo turno das eleições presidenciais mobiliza os dois candidatos que se enfrentarão em 19 de novembro.  De centro-esquerda, Massa angaria apoios da maioria dos governadores, enquanto Javier Milei atrai Macri e Bulrich

DEMOCRATA Candidato peronista, Sergio Massa representa o campo popular nas eleições presidenciais do país vizinho
Foto: Divulgação/PR

As eleições presidenciais argentinas, que ocorrem no próximo dia 19 de novembro, define o futuro do país,  mas também terá forte impacto nas relações com os democratas de todo o continente latino-americano. Ministro da Economia do governo de Alberto Fernández, o candidato peronista Sergio Massa representa o projeto de integração regional com justiça social e desenvolvimento que coloca a América do Sul de maneira soberana no concerto das nações. Isso é fundamental, num mundo cada vez mais complexo em que todos os dias a democracia e a paz mundial estão em risco.

A eleição na Argentina é fundamental, porque está em risco não apenas o projeto de desenvolvimento com justiça social, como há riscos à democracia com o outro nome na disputa pela Casa Rosada. Há uma clara divisão no país, mas enquanto Massa, que saiu mais forte das urnas no primeiro turno, conquista apoios de setores progressistas na Argentina e nos países vizinhos — incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, o adversário da extrema-direita, Javier Milei recebe o apoio de Maurício Macri e Patrícia Bulrich, os nomes da direita tradicional no país do tango. 

O esforço maior de Milei agora é edulcorar a sua imagem de cachorro louco e furioso — não é à toa que recebeu o apelido de “Bolsonaro da Argentina” — e passar a ser visto como um moderado. Uma tarefa difícil. Milei surgiu no cenário eleitoral rugindo contra a classe política, como um outsider que se opõe ao sistema político e econômico. Apresentava-se como um “libertário conservador”, uma figura ambígua que defende tanto o livre mercado quanto a proibição ao aborto e contra os direitos LGBTQI+. Agora, quer se exibir como um líder ponderado e domesticado, ladeado por políticos pró-mercado, como Macri. 

Uma mudança radical. Milei costumava dizer: “É impossível fazer uma Argentina diferente com os mesmos de sempre”. Isso é referência direta a Maurício Macri, a quem chamava na campanha eleitoral de “repugnante”, “medíocre” e “covarde”. No final do mês passado, ele e Macri se encontraram para um jantar em que selaram o apoio do ex-presidente ao ‘loco’. “Com Milei, temos todas as incertezas. Não o conhecemos e ele nunca governou. A única coisa que posso dizer é que, nas duas vezes que o vi e nas oito ou nove vezes em que falamos, ele nunca mentiu para mim. Massa sempre mentiu para mim”, justificou Macri.

Na semana passada, foi a vez de Patrícia Bulrich. Ex-ministra da segurança no governo Macri, ela recebeu 24% dos votos no primeiro turno das eleições argentinas em outubro. Massa obteve  37% dos votos. E Milei, 30%. Mas não teve vergonha em aderir ao outsider da extrema-direita. “No caso de Javier Milei, temos diferenças, e é por isso que competimos. Nós não os ignoramos. No entanto, nos deparamos com o dilema da mudança ou da continuação de uma governança ao estilo da máfia para a Argentina e pondo fim à vergonha do presente. Temos a obrigação de não permanecer neutros”, declarou a candidata de centro.

Enquanto isso, Massa uniu o peronismo. As lutas internas no Partido Justicialista estão congeladas e as energias concentram-se numa única direção: ganhar as eleições e manter a Casa Rosada no caminho do progressismo latino-americano. Não é pouco. Isso parecia um objetivo impossível até alguns meses atrás. Massa é ministro da Economia de um país com 140% de inflação, economia estagnada e sem dólares para pagar a dívida com o Fundo Monetário Internacional. Ele procura convencer os argentinos de que é o melhor para o país. No primeiro turno, saiu à frente na corrida presidencial. E está conquistando apoios.

Há duas semanas, o ministro da Economia liderou uma reunião de governadores para preparar a campanha eleitoral contra Milei. Estiveram presentes 18 dos 24 governadores: todos os peronistas e os de três partidos provinciais que jogarão a favor de Massa na eleição: a líder do Rio Negro, Arabela Carreras; e quem a substituirá a partir de 10 de dezembro, Alberto Weretilneck; o de Neuquén, Omar Gutiérrez; e o de Misiones, Óscar Herrera Aguad.  Governador de Santa Fé, o peronista dissidente Omar Perotti, que estava na Arábia Saudita com o governador de Córdoba, Juan Schiaretti, também anunciou apoio por videochamada.

“A República Argentina enfrenta desafios de magnitude que só podem ser resolvidos por um líder político com experiência, capacidade e convicção para enfrentar as dificuldades. Um líder que soma, que une e constrói”, destacaram os governadores em comunicado. Weretilnek foi o mais direto ao pedir o voto para Massa: “O país como o conhecemos está em risco com o outro candidato”. 

Massa também reúne simpatias e coleciona apoios de líderes e partidos de países vizinhos. No domingo, 5, o PT tornou oficial seu apoio ao candidato peronista. “Derrotar a extrema-direita, que se articula em nível mundial, é tarefa essencial para a construção de um mundo de paz”, diz a nota da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores. “Dois projetos de sociedade se enfrentam: um, representado pela candidatura presidencial de Sergio Massa, de perfil democrático e popular, com um programa de governo de desenvolvimento e justiça social; e outro, do candidato Javier Milei, representando a extrema-direita e o ultraneoliberalismo econômico do salve-se quem puder”.

No comunicado, o PT lembra o que está em risco. “Nós, brasileiros e brasileiras, conhecemos bem essa segunda alternativa de extrema-direita, que também governou nosso país no período anterior. Conhecemos toda a dor e o sofrimento que o descaso com a vida do povo significou para nosso país”. E aponta: “Não temos dúvida em apoiar a candidatura de Sergio Massa, da coalizão União pela Pátria, no nosso país irmão”. 

Pouco antes do primeiro turno, o ex-presidente do Uruguai José Mujica se mostrou preocupado com a possibilidade de o candidato da extrema-direita ganhar as eleições na Argentina. E alertou: “Acho que (Milei) é perigoso. Inequivocamente, as medidas que defende, e em uma sociedade como a argentina, acima de tudo, vão gerar uma resistência brutal e isso vai significar repressão”. Para ficar claro: Milei defendia até duas semanas atrás o livre porte de armas como medida para reduzir o crime e a venda de órgãos humanos. •

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