Os médicos Diego Ralf Bonfim, Marcos de Almeida Corsato e Perseu Ribeiro Almeida foram assassinados em quiosque na Barra da Tijuca, a 400 metros do hotel onde estavam hospedados

Três médicos assassinados a tiros no Rio, em crime suspeito de ataque politicamente motivado. Entre os mortos está irmão de Sâmia Bonfim, do PSOL, partido de Marielle Franco

A notícia correu o mundo na última semana e chocou o Brasil. Três médicos foram mortos e outro ferido em um tiroteio em um quiosque à beira-mar, na Barra da Tijuca. Autoridades do Rio de Janeiro acreditam que pode ter sido um ataque politicamente motivado. Na imprensa carioca, há relatos de que um dos médicos teria sido confundido com um bandido que integra uma milícia. 

O atentado a tiros aconteceu na madrugada de quinta-feira, 5. Os médicos ortopedistas Diego Ralf Bomfim, Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida morreram na hora. Um colega deles também foi ferido e levado com vida ao hospital. Ele foi submetido a uma cirurgia e passa bem. Daniel Sonnewend Proença, 32 anos, foi transferido para um hospital particular, também na Barra.

No momento do crime, os quatro estavam em um quiosque na orla, em frente ao hotel Windsor, onde haviam se hospedado. Segundo relatos colhidos pela mídia carioca, um grupo de criminosos chegou atirando, sem aviso ou dizer nada antes dos disparos. Nada foi roubado. A Polícia Civil do Rio de Janeiro trabalha com a hipótese de execução.

Os médicos de São Paulo estavam na cidade para uma conferência internacional de ortopedia. Entre os assassinados estava Diego Ralf Bonfim, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e cunhado do deputado federal Glauber Braga (PSol-RJ), marido da parlamentar. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota lamentando o episódio e anunciando que o Ministério da Justiça e a Polícia Federal vão acompanhar a resolução do crime. “Minha solidariedade aos familiares dos médicos e a deputada Sâmia Bomfim e ao deputado Glauber Braga. A Polícia Federal, sob determinação do ministro Flávio Dino, está acompanhando o caso”, disse Lula.

O Ministério da Justiça confirmou: “Em face da hipótese de relação com a atuação de dois parlamentares federais, determinei à Polícia Federal que acompanhe as investigações sobre a execução de médicos no Rio”, anunciou Dino. “Após essas providências iniciais imediatas, analisaremos juridicamente o caso”.

Imagens de câmeras de segurança obtidas pelo jornal carioca O Globo mostraram um grupo de homens armados vestidos de preto saindo de um carro e correndo até a mesa das vítimas no bairro da Barra da Tijuca e abrindo fogo.

O quarto médico foi ferido e levado para um hospital, de acordo com um comunicado da Polícia Civil do estado do Rio, acrescentando que o departamento de homicídios está investigando a responsabilidade pelo ataque e seus reais motivos.

Samia Bomfim e Gláuber Braga pertencem ao PSOL, a mesma legenda de esquerda da falecida vereadora do Rio Marielle Franco, morta a tiros junto com o motorista em 2018. Este crime, cinco anos depois, permanece sem solução. Dino disse em julho que parece que o assassinato está ligado a grupos paramilitares e ao crime organizado que controlam vastas áreas da cidade.

Na sexta-feira, a Polícia Civil do Rio anunciou que conseguiu recuperar um fragmento de impressão digital no carro em que estavam os corpos de três suspeitos de participarem do triplo assassinato dos médicos. 

O material estava na parte interior da porta do motorista e pode ajudar a investigação a identificar quem dirigiu o carro ou eventualmente outros envolvidos nas mortes. O veículo estava abandonado na rua Abraão Jabor, no Camorim, bairro pertencente à região administrativa da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio.

Segundo a polícia, há indícios de que o motorista deixou o local na garupa de uma moto ainda não identificada. O trabalho foi feito por papiloscopistas, profissionais especializados na identificação humana por meio das digitais. A mídia carioca disse que os corpos seriam de criminosos que integram uma das facções criminosas do Rio que teriam 

Ainda na quinta-feira, a polícia anunciou ter encontrado os corpos de quatro suspeitos do triplo homicídio 12 horas após o crime. Os cadáveres apresentavam a condição de rigidez muscular generalizada. Havia orifícios típicos de ação perfuro-contundente, provocados por disparos de armas de fogo e facadas, nas regiões dorsal, lombar, torácica, epigástrica e flanco direito. 

Horas antes de um encontro entre o governador do Rio, Cláudio Castro, e o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli comentou a morte dos médicos. “O Brasil possui leis, possui regras, tem um Estado de Direito que precisa e será respeitado. Não tem cabimento a gente dizer que organizações criminosas cometem um crime e elas mesmas resolvem esse crime”, criticou. “A Polícia Federal acompanha e colabora nas investigações, e a gente espera cooperar para a elucidação desse caso o mais rápido possível”.

A cúpula da polícia convocou a coletiva ainda na quinta e fez um pronunciamento de seis minutos, sem permitir perguntas da imprensa. Nela, entre os presentes, estavam o recém-empossado secretário de Polícia Civil, José Renato Torres, e o delegado titular da Delegacia de Homicídios da capital, Alexandre Herdy.

Horas depois da coletiva, ainda na noite de quinta-feira, os quatro suspeitos da execução foram encontrados mortos em carros. Entre os identificados pela Polícia Civil estão Philip Motta Pereira, o Lesk, e Ryan Soares de Almeida. Os outros dois ainda não tiveram a identidade revelada. •

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