Em 7 de outubro de 1967, o Exército da Bolívia capturava o líder revolucionário nas selvas da Bolívia. Ele seria fuzilado no dia seguinte e nascia a lenda que ajudou a propagar o socialismo em todo o mundo

Um dos mais marcantes personagens do século 20, que subiu a Sierra Maestra e ajudou Fidel Castro a tomar o poder em Cuba em 1959, desapareceria oito anos depois para tornar-se uma das grandes lendas da esquerda mundial. A lenda de Ernesto Guevara já era enorme ao longo dos anos 60, mas seu assassinato pelo Exército da Bolívia em 8 de outubro de 1967 o tornaria um mito.

Um dia antes, soldados do Exército boliviano, em ação conjunta com agentes da CIA, emboscam e capturam na Quebrada do Yuro, no altiplano boliviano, o revolucionário argentino Ernesto Che Guevara. Ele foi levado em seguida ao povoado de La Higuera, onde seria assassinado no dia seguinte por ordem direta do presidente Renê Barrientos. Che tinha 39 anos.

Mais conhecido líder da revolução cubana depois de Fidel Castro, Che decidiu deixar o governo da ilha em 1965 para disseminar guerrilhas revolucionárias em países do Terceiro Mundo. Dirigiu-se com um grupo de cubanos ao Congo, na África, mas a tentativa de implantação do foco guerrilheiro terminou em completo fracasso. 

Com um conjunto muito reduzido, Che voltou-se então para a Bolívia, onde esperava receber apoio do Partido Comunista local, o que jamais ocorreu. A coluna terminou isolada entre indígenas, cujo idioma os guerrilheiros desconheciam.

As circunstâncias da morte consolidaram a imagem heróica de Che Guevara, que se tornou o maior símbolo revolucionário da América Latina, reverenciado em todo o mundo. Seu assassinato reforçou o sentimento antiamericano e fez crescer a atração que Cuba já exercia sobre muitos jovens do continente. 

No Brasil, Gilberto Gil e Carlos Capinam compuseram, em sua homenagem, a canção “Soy Loco por Ti, América”, que se tornaria um grande sucesso cantada por Caetano Veloso em 1968.

O mito do guerrilheiro heroico impulsionou a formação de grupos revolucionários em diversos países. A base teórica de muitos deles foi o livro “Revolução na Revolução”, do jornalista francês Regis Debray, que acompanhou Che na Bolívia. 

Utilizando conceitos simplistas, que não consideravam as diferenças reais entre a ilha de Cuba nos anos 1950 e os demais países latino-americanos, o livro de Debray estimulou aventuras revolucionárias que terminaram em fracasso. 

No Brasil, uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro adotaria a sigla MR-8, Movimento Revolucionário 8 de Outubro, numa homenagem ao líder argentino. O MR-8 seria destroçado pela ditadura militar e outra corrente saída do PCB — a Dissidência da Guanabara — adotaria a sigla e a tornaria mundialmente famosa ao sequestrar o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, em 1969. •

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