30 de setembro de 1937 – Governo e exército forjam o Plano Cohen

O governo Vargas anuncia a descoberta do Plano Cohen, pelo qual os comunistas pretendiam atacar o país, incendiar prédios públicos, promover fuzilamentos, greve geral, saques e desordem. O plano teria sido elaborado pela 3ª Internacional Comunista (“Komintern”). O documento chega às mãos de Getúlio depois de circular pelos quartéis.

Tudo mentira. O Plano Cohen, anunciado pelo governo como se fosse uma grave ameaça ao país, fora arquitetado pelo capitão Olímpio Mourão Filho, organizador das milícias da Ação Integralista Brasileira e lotado no setor de inteligência do Estado-Maior do Exército.

Tratado como verdadeiro, o “plano” foi divulgado pelo programa radiofônico oficial, com o intuito de reacender a histeria anticomunista e preparando a opinião pública para aceitar uma ditadura — o que não demoraria a acontecer. Em 1º de outubro, a Câmara Federal aprovaria, por 138 votos a 52, a implantação do estado de guerra. No dia 10 de novembro, Getúlio anunciaria ao país e ao mundo a instituição do Estado Novo.

Só em 1945 os brasileiros saberiam que o Plano Cohen não havia passado de uma grosseira falsificação. Muitos anos mais tarde, o mesmo Mourão Filho, já promovido a general, seria responsável pela deflagração do golpe militar de 1964. 

25 de setembro de 1956 – O mito de Orfeu e Eurídice sobe o morro

Entra em cartaz, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, “Orfeu da Conceição”, história da mitologia grega adaptada para as favelas cariocas, em parceria inédita do poeta Vinícius de Moraes com o músico Tom Jobim.

O Municipal recebeu cenários de Oscar Niemeyer, que ocupou o palco com rampas e escadas para representar as subidas e descidas dos morros do Rio, onde se passa a história de amor de Orfeu e Eurídice.

O protagonista é um sambista negro. Na leitura de Vinícius, Orfeu, filho de um músico e de uma lavadeira, apaixona-se por Eurídice. A paixão desperta o ciúme e a ira de Mira, sua ex-namorada, que manipula Aristeu, apaixonado por Eurídice, a matá-la. 

Numa terça-feira de Carnaval, Orfeu desce o morro à procura de Eurídice — uma alusão à descida ao Inferno do mito original. De volta à favela, Orfeu é morto por Mira e por outras mulheres.

Ronaldo Bôscoli aproximou os diálogos do linguajar popular dos morros. Os atores eram negros: Haroldo Costa interpretou Orfeu, Lea Garcia deu vida a Mira, Dirce Paiva foi Eurídice, e Abdias Nascimento, Aristeu. A peça ficaria em cartaz durante uma semana, com casa lotada todos os dias — mas a temporada foi curta demais para cobrir os gastos.

Uma das canções do espetáculo, “Se Todos Fossem Iguais a Você”, já prenunciava a bossa nova. 

Em 1959, o diretor francês Marcel Camus dirigiria “Orfeu Negro”, com roteiro de Jacques Viot adaptado de “Orfeu da Conceição”. O filme receberia a Palma de Ouro e o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Apesar da visibilidade internacional que a película deu à sua peça, Vinícius não aprovou o resultado, pois trazia uma visão europeia do Brasil, marcada pelo exotismo e por estereótipos.

Nenhuma das canções de Vinícius e Tom para o teatro foi aproveitada — a dupla compôs três músicas inéditas para o filme, entre elas, “A Felicidade”, gravada por Agostinho dos Santos. Mas o sucesso internacional ficou com “Manhã de Carnaval”, de Luís Bonfá e Antônio Maria.

O poeta assistiu ao filme pela primeira vez ao lado do presidente Juscelino Kubitschek. Irritado, abandonou a sessão antes que as luzes se acendessem.

25 de setembro de 1987 – Maconha para todos. o verão da lata leva a juventude à loucura

O “verão da lata” foi o último suspiro libertário da contracultura no Brasil. Em setembro de 1987, latas semelhantes às de leite em pó são encontradas boiando no litoral entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Cada uma tinha um conteúdo surpreendente e inusitado: 1,5 kg de maconha.

Descobriu-se depois que as latas eram transportadas pelo navio Solana Star, procedente de Cingapura com destino a Miami. A embarcação tinha escala programada para o Rio de Janeiro. Diante da suspeita de que a Polícia Federal faria uma vistoria a bordo assim que o navio atracasse, a tripulação lançou 15 mil latas ao mar sem contar que elas boiariam até alcançar a praia.

Divulgada a descoberta, usuários da droga passaram a fazer incursões ao litoral em busca de latas perdidas, dando origem ao mais improvável verão brasileiro – o “verão da lata”.

O episódio inspirou algumas canções, muitas gírias e algumas lendas urbanas. Também marcou o último suspiro da contracultura no país.

Setembro de 1972 – Anistia relata a tortura no Brasil

A Anistia Internacional divulga relatório sobre violação dos direitos humanos no Brasil e lista os nomes de 472 torturadores e de 1.081 torturados. O documento trazia um estudo sobre a legislação repressiva desde o golpe militar, depoimentos de presos e perseguidos políticos, de advogados e representantes da igreja católica. Também descrevia as técnicas de tortura e identificava muitos locais onde os presos eram seviciados.

A entidade concluiu que a tortura de presos políticos no Brasil era praticada de forma crescente e sistemática desde 1968. A divulgação de notícias sobre a Anistia Internacional foi proibida pela censura brasileira.

29 de setembro de 1992 – Impeachment é teste para a democracia

Por 441 votos a 38, o plenário da Câmara dos Deputados aprova a abertura do processo de impeachment de Fernando Collor de Mello. O presidente é afastado de suas funções por 180 dias, prazo para a conclusão do processo a ser conduzido pelo Senado, conforme previsto na Constituição.

A decisão da Câmara foi resultado do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista, que apurou denúncias feitas por Pedro Collor de Mello, irmão do presidente. Pedro revelara a existência de um esquema de cobrança de propinas e desvio de recursos públicos comandado por Paulo César Farias, ex-tesoureiro da campanha de Collor, dentro do governo. A CPI concluiu que o presidente estava envolvido em crimes comuns e de responsabilidade.

As revelações da comissão haviam causado grande indignação na população. Os presidentes da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Barbosa Lima Sobrinho, e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcelo Lavènére, haviam apresentado ao presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, um pedido de abertura de processo de impeachment contra o presidente. A União Nacional dos Estudantes (UNE) convocou grandes manifestações em que jovens saíram às ruas de caras pintadas de verde e amarelo.

Acuado pelas denúncias, Collor conclamou o povo a defendê-lo, saindo às ruas de verde e amarelo num domingo, às vésperas da votação do relatório da CPI. As multidões responderam vestindo roupas pretas em manifestações de protesto em várias cidades e capitais. 

Muitos líderes do Congresso hesitaram inicialmente em apoiar o pedido de impeachment, como o deputado Ulysses Guimarães (PMDB-SP), temendo uma crise institucional. Os parlamentares acabariam concluindo que a democracia brasileira estava madura e passaria pelo teste.

Collor seria levado a julgamento pelo Senado em 29 de dezembro, data em que foi aprovado o impeachment, com a perda do mandato presidencial e a suspensão de direitos políticos por oito anos.

30 de setembro de 1982 – UNE escolhe a sua primeira presidenta

O 34º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Piracicaba (SP), elege pela primeira vez uma mulher, Clara Araújo, para a presidência da entidade. O congresso foi monitorado pela repressão. A Operação Pira, cujos registros permaneceram nos arquivos do Dops, foi montada especificamente para fazer a “vigilância” do evento, com agentes infiltrados entre os participantes.

Setembro de 2005 – ‘Deixa sangrar’ é a aposta da oposição

A crise política decorrente das denúncias de corrupção envolvendo membros do governo Lula e da base aliada inaugura um novo cenário na política brasileira. A um ano da eleição presidencial, a oposição, que vinha perdendo popularidade desde 2002, vê surgirem novas oportunidades de crescimento político e eleitoral.

Partidos da oposição, sob a liderança do PSDB e do DEM, seguiam uma estratégia de enfraquecimento do governo, com investigações, denúncias e CPIs. Nos bastidores, suas lideranças falavam em “deixar o governo sangrar”, para que ele chegasse enfraquecido às eleições de 2006, permitindo o retorno da oposição ao comando do país.

Apesar da queda da popularidade do presidente e de seus aliados no segundo semestre de 2005, a oposição não conseguiria, no entanto, construir lideranças fortes capazes de catalisar a confiança dos descontentes. Lula (e a esquerda, de modo geral) recuperaria sua popularidade e chegaria à reeleição em 2006.

Setembro de 2005 – Novo tempo. Internet altera as vias da visibilidade do humor nacional

O artista plástico, poeta e quadrinista André Dahmer, conhecido pelas tiras que, desde 2001, publica em seu blog, lança seu primeiro livro, “Malvados”, pela editora Gênesis.

Integrante da nova geração de cartunistas que surgiram com a popularização da internet, o autor deve seu sucesso àquilo que publicava autonomamente nas redes sociais. Com suas tirinhas de humor ácido, com críticas mordazes sobre a nova era da informação, Dahmer se tornaria um ícone do período, em conjunto com uma série de cartunistas de diferentes estilos, como Carlos Ruas, Vítor Teixeira e Carlos Latuff.

A internet alteraria a lógica da visibilidade do trabalho de artistas de diversas áreas. A possibilidade de criar e publicar tirinhas de maneira independente em blogs e redes sociais, sem custo adicional, favorece a multiplicação dos artistas na primeira década do século 21.

Além de cartunistas, escritores e cronistas, também ganhariam visibilidade os vloggers e “youtubers” — jovens que atrairiam grande quantidade de fãs nas redes sociais com seus vídeos contendo análises, percepções e críticas de diversos temas.

Outro fenômeno na produção artística do período, que se estendeu inclusive à música e ao audiovisual, foi a bandeira do “copyleft” —criação de obras sem direito autoral, baseado em construção coletiva. É também no período que surge o movimento Creative Commons, partindo das mesmas premissas: liberdade de criação e disseminação de conteúdos no mundo digital.

Depois de “Malvados”, Dahmer publicaria “O Livro Negro de André Dahmer” (2007), “Malvados” (2008), “A Cabeça e a Ilha” (2009), “Rei Emir Saad: O Monstro de Zazanov” (2011), “Minha Alma Anagrama de Lama” (2013) e “Vida e Obra de Terêncio Horto” (2014). Suas tirinhas iriam para as páginas do “Jornal do Brasil”, “Folha de S.Paulo” e “O Globo”.

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