A série “Cangaço Novo”, dirigida por Aly Muritiba e Fábio Mendonça e sucesso no Amazon Prime, entra na lista das produções mais assistidas em 49 países. E conta a história de um mundo cercado pelo crime e a violência desmedida

Novo cangaço” é a designação das polícias para o aparecimento de bandos fortemente armados que cercam pequenas cidades no sertão do Nordeste, explodem caixas eletrônicos, assaltam bancos e tocam o terror entre a população local. A série de oito capítulos, que teve estréia oficial no último Festival de Cinema Gramado,  inverte os termos para contar a história da constituição de um desses bandos. 

“Cangaço Novo” gira em torno da história de três irmãos. Ubaldo (Allan Souza Lima), ex-militar e recém demitido de um banco, retorna ao Ceará para reaver uma herança, onde encontra suas irmãs, Dinorah (Alice Carvalho), líder de um grupo criminoso, e Dilvânia (Thainá Duarte).

Os irmãos Vaqueiro são filhos de um bandido local, Amaro Vaqueiro,  respeitado e temido em Cracatá, uma cidade imaginária e genérica à exemplo da Bacurau do filme homônimo de Kleber Mendonça Filho.  O conflito se instala no exato momento em que a explosiva Dinorah nega ao irmão não apenas o direito à herança como a qualquer relação com ela ou a irmã. Ubaldo, a pretexto de custear o tratamento do pai adotivo, passa a brigar com Dinorah pelo dinheiro ou às terras a que teria direito. 

De início reticente e chocado com a violência e a crueza do bando de Dinorah, Ubaldo acaba por se integrar ao grupo, tanto pelo fato de ter uma semelhança física notável com o pai como pela experiência como militar e bancário.

A série não poupa espectadores de ação frenética e cenas de violência muito bem coreografadas. Já na trajetória dos personagens, as coisas vão menos bem. O personagem de Allan Souza Lima cumpre uma trajetória clássica de séries criminais norte-americanas: a do homem comum que, premido pelas circunstâncias, acaba por descobrir sua aptidão para o crime. 

O exemplo mais acabado e de grande sucesso nesse sentido é “Breaking Bad”. Só que em “Cangaço Novo”, ele disputa a liderança com ninguém menos que a própria irmã e, de certa forma, com a memória do pai com quem guarda enorme  semelhança física. 

Parece faltar um pouco de atenção tanto à transformação de Ubaldo quanto a de Dinorah, que acaba por aceder ao irmão homem e mais velho, depois de ser apresentada com uma bravura e uma agressividade notáveis. 

Já a personagem da irmã mais nova, Dilvânia, que para de falar na infância por ter testemunhado a violência de perto, torna-se uma fanática religiosa, como que para contrastar com a terra arrasada em que vivem os outros dois irmãos. 

A série conta com um excelente elenco de apoio com Ricardo Blat, Marcélia Cartaxo e Hermila Guedes. Esta última, que protagonizou o excelente “O Céu de Suely”, faz o papel de uma candidata cuja campanha é financiada pelo produto dos assaltos a banco, elencando outro tema recorrente abordado na série, as relações entre a política e o banditismo.

“Cangaço Novo” pode ser visto diretamente no portal da Amazon Prime Video. Chamada no exterior de ‘New Bandits’, a série alcançou a liderança de público da plataforma no Brasil e entrou no Top 10 de 49 países, sendo 24 da África, 13 da América Latina e nove da Ásia. Entre os países nos quais ela foi mais assistida, estão Portugal, Canadá, Angola, Moçambique, Quênia, Costa do Marfim, Paraguai e Emirados Árabes Unidos. •

Sequestro de avião vira filme

A história de um sequestro de avião ocorrido no Brasil logo após o fim da ditadura ganhou o cinema. Em setembro de 1988, um desempregado de 28 anos decidiu sequestrar um avião e tentar jogá-lo contra o Palácio do Planalto. A manobra deu errado e a bravura de Fernando Murilo, um piloto de avião da Vasp. A história está na película “O Sequestro do Voo 375”, dirigido por Marcus Baldini. O filme estreia em 5 de dezembro.

Naquela manhã de 29 de setembro de 1988, 88 passageiros haviam embarcado no voo 375 da Vasp para o Rio, mas o homem no assento 3C tinha um destino diferente em mente. Enquanto o Boeing 737-300 saía da pista, Raimundo Nonato Alves da Conceição estava sentado em silêncio, segurando uma mochila com uma caixa de munição e um revólver calibre .32 escondido dentro.

Enfurecido com a turbulência econômica e a hiperinflação que convulsionavam o Brasil ao emergir de duas décadas de ditadura militar no final da década de 1980, o desempregado de 28 anos decidiu lançar um avião contra o palácio presidencial do Planalto, em Brasília, para matar José Sarney. Nonato Cmatou o copiloto Salvador Evangelista e forçou o comandante Fernando Murilo a alterar a rota da aeronave em direção à capital.

O que se seguiu deve ser classificado como um dos episódios mais bizarros e perturbadores da história da aviação sul-americana. Durante as quase três horas seguintes, o piloto lutou para salvar os seus passageiros – e o presidente do Brasil – com uma impressionante exibição de acrobacias aéreas que fez com que a aterragem do voo 1549 da US Airways no Rio Hudson, em 2009, parecesse inofensiva.

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