Dando continuidade à sua política de reconstrução dos laços do Brasil com o continente africano, Planalto estreita parceria econômica e cultural com Luanda, abandonada depois do Golpe de 2016. E anuncia campanha mundial contra a desigualdade

O Brasil está de volta à Africa para estreitar ainda mais os laços com o continente. Depois da visita a Joanesburgo, na África do Sul, onde participou da 15ª Cúpula BRICS, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a Luanda na última quinta-feira, 24, para uma visita oficial de dois dias com agenda intensa a fim de retomar a relação com Angola, abandonada depois do Golpe de 2016. 

“Um país irmão, com quem compartilhamos a mesma língua, muita história e laços de sangue e cultura em comum”, disse. “Temos um potencial enorme em nossas relações, que tinham sido negligenciadas nos últimos anos”. Lula participou de reuniões com o presidente João Lourenço, visitou a Assembleia Nacional, assinou acordos de cooperação e ainda participou de seminário com 500 empresários angolanos e brasileiros.

Ele foi condecorado com a Ordem Dr. António Agostinho Neto por João Lourenço. “É muito honroso, para um homem que faz política há 50 anos, aos 77 anos, receber uma condecoração que leva o nome de Antônio Agostinho Neto”, disse Lula, lembrando que o líder político liderou a luta pela independência de Angola. “Vou carregar essa medalha com o compromisso de que quem tem uma causa não pode parar de lutar”.

Lula assumiu um compromisso:  “Essa ordem aumenta a minha responsabilidade. Agora, eu estou assumindo o compromisso de tentar fazer uma campanha mundial contra a desigualdade”. Ele declarou que a honraria e a medalha no peito permitam a ele um feito. “Quem sabe alimentado pela inteligência e pelo pensamento revolucionário do Augustinho Neto, eu possa conseguir o intento de convencer a humanidade a se indignar contra a desigualdade”, disse.

A visita de Lula a Angola é reflexo da elevada prioridade que o governo brasileiro atribui à relação com o continente africano de forma geral, e com Angola em particular. Isso faz parte da estratégia de Lula de avançar nas relações com países do Sul Global. Ele declarou que o Brasil quer apoiar Angola no esforço de diversificar a sua economia”. O líder brasileiro disse que o Brasil é o parceiro ideal para fazer a revolução agrícola em Angola, garantir o crescimento econômico e a segurança alimentar da população. 

E enfatizou que Angola agora é um país do Sul Global. A expressão já havia sido usada pelo presidente na saída de Joanesburgo, na quinta-feira, 24. “Eu não sei se vocês se lembram, nós éramos chamados de terceiro mundo. Depois começaram a chamar a gente de países em vias de desenvolvimento”, disse. “Agora nós somos o Sul Global. Veja a mudança de nome, pomposo que é. O que é importante é que o mundo está mudando”.

A história de amizade e de cooperação entre Brasil e Angola tem se desdobrado em iniciativas no campo da cooperação em defesa, saúde, educação e no campo econômico. É a primeira vez que Lula faz uma visita oficial como chefe de Estado a um país africano depois de assumir o seu terceiro mandato. Desde 2010, os laços com o país vizinho do outro lado do Atlântico foram elevados ao patamar de parceria estratégica, assim como a África do Sul. 

Ele já esteve em Angola três vezes em seus governos anteriores e foi o primeiro presidente brasileiro a visitar o país, em 2003, no seu primeiro mandato. O país tem 35,6 milhões de habitantes e um PIB de US$ 125,7 bilhões. Mas o Brasil é o quinto maior fornecedor de produtos aos angolanos, com participação de 4,7% no mercado, de acordo com dados de 2021 divulgados pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). 

O Fórum Econômico Angola-Brasil reuniu executivos brasileiros dos setores de alimentos, produtos farmacêuticos, aviação e máquinas agrícolas. O evento tratou dos desafios e oportunidades de negócios nas áreas de segurança alimentar e agricultura, transição energética, infraestrutura, mineração, saúde, educação e desenvolvimento humano. O Brasil exporta automóveis, calçados, carnes de aves, açúcar, melaço, trigo e centeio não moídos para Angola. Já o Brasil importa petróleo e derivados, que têm como destino a Bahia.

Angola já é importante mercado para as exportações brasileiras de proteína animal (carne bovina congelada, suína e de aves). Entretanto, soma-se a um grupo importante de países da África e do Oriente Médio, como Egito, África do Sul e Arábia Saudita, que impuseram barreiras às importações de produtos agrícolas como medida de fomento à economia nacional. A oferta de cooperação técnica na área agrícola e a promoção de investimentos brasileiros têm sido objeto de solicitações do governo angolano.

O porto de Luanda é o principal canal de comércio internacional do país, por onde passam cerca de 80% das importações do país. É um dos portos de crescimento mais rápido na África e já funciona como uma porta de entrada para os países vizinhos sem litoral, como a República Democrática do Congo, Zimbábue e Zâmbia. Além disso, no ramo da aviação, a TAAG Angola Airlines é a companhia aérea nacional e uma das mais bem-sucedidas da África. O maior desafio enfrentado pelo setor é a segurança, que é prioridade para o governo. 

A infraestrutura angolana foi gravemente danificada pela guerra civil que terminou em 2002. Entretanto, graças às reservas de petróleo, Angola tem os recursos financeiros necessários para expandir a malha de transporte, a fim de melhor conectar suas cidades. A infraestrutura do país está principalmente concentrada em torno da capital Luanda e ao longo da costa.

Uma das prioridades na pauta de cooperação bilateral entre Brasil e Angola é o setor de saúde, que conta com três projetos em execução:  criação de Banco de Leite Humano, inaugurado em Luanda, em 2019;  implementação de medidas para prevenção e controle do câncer; e aquelas voltadas à atenção integral a pessoas com doença falciforme. 

Além disso, estão em negociação novos projetos, que versam sobre diagnóstico de hanseníase, formação médica em cardiologia e combate a HIV/AIDS e tuberculose. Em abril de 2023, durante reunião da Comissão Mista bilateral, foi assinado memorando de entendimento entre os ministérios da Saúde dos dois países.

Atualmente, Brasil e Angola mantêm sete projetos de cooperação ativos e Lula e Lourenço assinaram outros dez acordos nas áreas de saúde e educação, meio ambiente, geoprocessamento, geologia, saúde, energia, urbanização e segurança pública. Além de Angola, o presidente esteve no domingo, 27, em em São Tomé, capital de São Tomé e Príncipe, participando 14ª Conferência de chefes de Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). •

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