No discurso de despedida, em 31 de agosto de 2016, Dilma alertou que o país passaria por um período de retrocessos históricos, com piora da vida do povo. Mas anteviu: voltaremos!

A aprovação do Senado Federal pelo impeachment de Dilma Roussef, em 31 de agosto de 2016, levou-a a aceitar o afastamento da Presidência da República, mas não sem antes denunciar o processo como um golpe não apenas contra si e o PT, mas sobretudo contra a população e a democracia brasileiras.

“Hoje, o Senado Federal tomou uma decisão que entra para a história das grandes injustiças. Os senadores que votaram pelo impeachment escolheram rasgar a Constituição Federal. Decidiram pela interrupção do mandato de uma Presidenta que não cometeu crime de responsabilidade. Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar”, denunciou.

“Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta do Brasil, sem que haja qualquer justificativa constitucional para este impeachment. Mas o golpe não foi cometido apenas contra mim e contra o meu partido. Isto foi apenas o começo. O golpe vai atingir indistintamente qualquer organização política progressista e democrática”, profetizou.

“O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser reprimido”, apontou a então presidenta.

O Brasil pós-golpe foi um festival de atrocidades institucionais e de ataque a direitos consagrados do povo brasileiro. Movimentos populares e sindicais sofreram toda ordem de ataques a seu financiamento e até em sua legitimidade. Nem mesmo a ditadura militar depois de 1964 havia golpeado de maneira tão profunda direitos consagrados, como férias e salário digno. A reforma trabalhista tirou direitos dos trabalhadores e a reforma da Previdência restringiu as possibilidades de aposentadoria. E os programas de moradia popular do governo foram destruídos.

O Ministério da Educação virou um balcão de negociações escusas a aliados do governo, enquanto os alunos brasileiros sofriam atrasos na aprendizagem por conta da pandemia e o orçamento da pasta sofria cortes recorrentes. O Ministério da Saúde, que poderia ter usado o SUS como grande trunfo contra a covid-19, sofreu com falta de recursos, de políticas, de comando e, na prática, colaborou para a morte de milhares de brasileiros. A cultura sofreu com a perda de um ministério, que virou secretaria.

A promessa de Bolsonaro de não demarcar nenhum centímetro de terra indígena, feita ainda durante sua campanha à Presidência, foi cumprida. Os povos originários enfrentam um julgamento fundamental para sua existência: a tese do Marco Temporal está em análise no Supremo Tribunal Federal. Se aprovada, apenas grupos indígenas que estavam em suas terras na promulgação da Constituição terão direito a ter terras demarcadas.

Dilma também anteviu o triunfo da misoginia. “Às mulheres brasileiras, que me cobriram de flores e de carinho, peço que acreditem que vocês podem. As futuras gerações de brasileiras saberão que, na primeira vez que uma mulher assumiu a Presidência do Brasil, a machismo e a misoginia mostraram suas feias faces. Abrimos um caminho de mão única em direção à igualdade de gênero. Nada nos fará recuar”.

Ao mesmo tempo que Dilma, reconheceu a derrota, apontou com esperança para o futuro. “Esta história não acaba assim. Estou certa que a interrupção deste processo pelo golpe de Estado não é definitiva. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano”, destacou. Proponho que lutemos, todos juntos, contra o retrocesso, contra a agenda conservadora, contra a extinção de direitos, pela soberania nacional e pelo restabelecimento pleno da democracia”. •

`