A visita do presidente Lula ao continente africano, mais uma vez, traz à luz a identidade do nosso país com os povos que habitam aquela região. Parte fundamental da construção da nacionalidade brasileira, a África nunca teve no Brasil o reconhecimento pleno de sua importância.  

O sangue africano banhou as lavouras, as minas e matas brasileiras. Vítimas da mais ignominiosa condição: a de escravizados. Arrancados de suas terras natais e trazidos em porões de navios em condições cuja vileza é difícil de retratar.

“Era um sonho dantesco… o tombadilho/ Que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar/ Tinir de ferros… estalar de açoite… Legiões de homens negros como a noite. Horrendos a dançar…” 

A genialidade do poeta baiano Castro Alves, em seu célebre poema “Navio Negreiro”, escrito antes da abolição da escravatura e um dos mais declamados na luta abolicionista, nos dá um pequeno panorama dessa chaga brasileira que foi a escravização de seres humanos. 

“Calculo que o Brasil, no seu fazimento, gastou cerca de 12 milhões de negros, desgastados como a principal força de trabalho de tudo o que se produziu aqui e de tudo que se edificou. Ao fim do período colonial, constituía uma das maiores massas negras do mundo moderno. Sua abolição, a mais tardia da história, foi a causa principal da queda do Império e da Proclamação da República”.  

A assertiva do mestre Darcy Ribeiro em seu livro “O Povo Brasileiro”, nos mostra a magnitude da presença africana no Brasil. 

Para nós, a história da África se reveste de uma importância que a academia no país ainda não percebeu. A persistência do racismo é fruto desse verdadeiro desmazelo com o conhecimento das nossas matrizes existenciais.

É preciso romper com a lógica meramente eurocêntrica que domina o pensamento brasileiro. Os grilhões que prendiam os corpos africanos, hoje agem aprisionando pensamentos. 

É inadmissível que as ideias dominantes continuem veladamente a obscurecer uma parte preponderante do que nós somos.

Lula, eleito pelo progressismo, está fazendo a sua parte. Façamos a nossa.

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