Morre Milan Kundera
Escritor tcheco, autor de “A insustentável leveza do ser” e “Imortalidade”, falece aos 94 anos. Obra gerou controvérsias
O escritor tcheco Milan Kundera, influente nos anos 80 e que ganhou repercussão global com romances carregados de sexualidade, morreu na terça-feira,11, em Paris. Ele tinha 94 anos. Uma porta-voz da Gallimard, editora da França, disse que ele havia morrido “depois de uma doença prolongada”.
Sarcástico retratista da condição humana, Kundera foi um dos raros autores incluídos na prestigiosa série La Pléiade (em 2011) ainda em vida. O romancista vivia na França desde que emigrou da antiga Tchecoslováquia em 1975, então sob o regime comunista.
Ele perdeu a nacionalidade depois de cair em desgraça com as autoridades de seu país durante a Primavera de Praga, o movimento reformista de 1968 esmagado pelos exércitos sob o comando soviético. Recuperou a nacionalidade apenas em 2019, embora tenha adotado a nacionalidade francesa em 1981.
Nascido em 1º de abril de 1929 em Brno, a segunda maior cidade tcheca, Kundera escreveu poemas e contos antes de publicar seu romance inovador, “A piada”, em 1967. Mas o romance que o estabeleceu internacionalmente foi “A Insustentável Leveza do Ser”, um retrato sarcástico da condição humana e um dos romances mais influentes do mundo.
Publicado em 1984, “A insustentável” foi publicado ao longo dos anos em pelo menos duas dúzias de idiomas. O romance chamou ainda mais a atenção quando foi adaptado para o cinema em 1988 estrelado por Daniel Day Lewis. O ator inglês viveu Tomas, um cirurgião tcheco que critica a liderança comunista e, consequentemente, é forçado a lavar janelas para viver.
Mas o que era uma punição acabou se tornando atrativo. Ele está sempre aberto a conhecer novas mulheres, incluindo donas de casa entediadas. Mas o sexo, assim como o próprio Tomas e os outros três personagens principais — sua esposa, um pintor sedutor e o amante do pintor — estão lá para um propósito maior. Ao colocar o romance em sua lista de melhores livros de 1984, The New York Times Book Review observou que “o verdadeiro negócio deste escritor é encontrar imagens para a história desastrosa de seu país”.
“Ele usa os quatro impiedosamente, colocando cada par contra o outro como opostos em todos os sentidos, para descrever um mundo em que a escolha está esgotada e as pessoas simplesmente não conseguem encontrar uma maneira de expressar sua humanidade.”
Kundera era visto como especialmente impiedoso com suas personagens femininas. Tanto que a feminista britânica Joan Smith, em seu livro de 1989 “Misogynies”, declarou que “a hostilidade é o fator comum em todos os escritos de Kundera sobre mulheres”. Outros críticos consideraram que expor o comportamento horrível dos homens era pelo menos parte de sua intenção. •