Barroso vira alvo do bolsonarismo
No Congresso da UNE, ministro do STF declara que o país havia derrotado o bolsonarismo e aliados do ex-presidente defendem abertamente o seu impeachment
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), tornou-se alvo do bolsonarismo na última semana, depois de ter participado do 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), na Universidade de Brasília (UnB). Em discurso, o magistrado defendeu a democracia e a liberdade, e falou em superação da ditadura e do bolsonarismo no país.
“Eu saio daqui com a energia renovada. Pela concordância e pela discordância. Porque essa é a democracia que nós conquistamos. Nós derrotamos a censura, nós derrotamos a tortura, nós derrotamos o bolsonarismo, para permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas”, afirmou. Imediatamente, deputados anunciaram o impeachment de Barroso.
Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro prometem entrar com um pedido de impeachment contra o ministro. Curiosamente, Barroso fez a declaração ao se ver alvo de vaias e críticas de um grupo de estudantes, que protestava contra a sua presença, lembrando do seu papel no impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Barroso não é o único alvo dos bolsonaristas. Somente o ministro Alexandre de Moraes é alvo de 60 pedidos de impedimento.
“Estar aqui é reencontrar o meu próprio passado de enfrentamento do autoritarismo, da intolerância e de gente que grita em vez de ouvir, de gente que xinga em vez de botar argumentos na mesa. Isso é o bolsonarismo! Quem tem argumentos, quem tem razão, quem tem a história do seu lado coloca argumentos na mesa. Não xinga, não grita. Esse é o passado recente no qual nós estamos tentando nos livrar”, disse o ministro, diante das críticas de estudantes de esquerda.
Pelas redes sociais, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL), um dos principais expoentes da extrema-direita no parlamento, afirmou que a oposição entrará com o pedido de impedimento do ministro. Ele justificou sua posição apontando que o magistrado estava exercendo “atividade político-partidária”, o que contraria a lei da magistratura. “Se, por um milagre, houver justiça nesse país, a perda do cargo é inegável”, disse o deputado bolsonarista.
Outra expoente da extrema-direita, a deputada Bia Kicis (PL-DF) caracterizou a declaração de Barroso como “atuação contra uma força política”. “É gravíssimo! Nós, da oposição, entraremos com pedido de impeachment”, anunciou.
Em nota, o STF alega que a frase foi tirada de contexto pelos bolsonaristas: “Como se extrai claramente do contexto da fala do ministro Barroso, a frase ‘nós derrotamos a ditadura e o bolsonarismo’ referia-se ao voto popular e não à atuação de qualquer instituição“, diz um trecho do comunicado.
A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Virgína Barros, repudiou a atitude antidemocrática contra Barroso. “Em um ato em memória aos 50 anos do desaparecimento de Honestino Guimarães e de defesa da democracia estas atitudes são lamentáveis”, disse. •