A semana na história – 16 a 22 de julho
16 de julho de 1934 – Promulgada a nova Constituição do Brasil
Em sessão solene é promulgada, em 16 de julho, a Carta Magna de 1934. O novo texto constitucional refletiu as disputas de oito meses de trabalho, debates acirrados e pressões de vários grupos políticos e econômicos, e estabeleceu que o Brasil continuaria sendo uma República federativa, porém com redução das prerrogativas dos estados, e Três Poderes independentes.
Getúlio Vargas e seus aliados conseguiram grande vitória, pois, nas disposições transitórias, os atos do governo provisório foram referendados constitucionalmente — ou seja, não poderiam ser contestados na Justiça. O governo central teria, a partir de então, poderes bem maiores do que na Primeira República.
O Poder Legislativo ficou com a responsabilidade de fiscalizar os atos da Presidência da República, que pode responder por crime de responsabilidade. Antes de se converter em Câmara dos Deputados, a Assembleia Constituinte elegeria o novo presidente da República, com mandato de quatro anos.
20 de julho de 1934 – Getúlio é agora presidente constitucional
Após chefiar por três anos e oito meses o governo provisório, Getúlio Vargas toma posse como presidente constitucional do Brasil para um mandato de quatro anos. Na cerimônia de posse, faz um balanço de seu governo e conclui que “a ditadura foi uma escola de administração pública”.
Ao falar dos planos futuros para este país de 37 milhões de habitantes, em sua maioria analfabetos e moradores do campo, Getúlio afirmou que “o problema do Brasil exige solução brasileira” e enumerou três prioridades, agora que “a revolução integrou o país nas concepções do Estado moderno”: sanear, educar e povoar.
18 de julho de 1936 – Espanha dividida: começa guerra civil
Militares espanhóis entram em guerra contra a coalizão de esquerda que governa o país. As tropas comandadas pelo general Francisco Franco controlam o Marrocos espanhol, onde se concentravam as forças de elite, enquanto várias guarnições militares se sublevam em território espanhol, em apoio ao golpe.
A Espanha, que enfrentava uma crise política havia décadas, estava dividida desde a vitória da Frente Popular nas eleições de fevereiro. A Frente Nacionalista, que reunia os falangistas (de tendência fascista) e tinha o apoio dos setores conservadores, da Igreja Católica, dos monarquistas e dos grandes proprietários rurais, queria implantar uma ditadura fascista. Já a Frente Popular, republicana, era apoiada pelos sindicatos, socialistas, comunistas, anarquistas e democratas em geral.
A Alemanha nazista e a Itália fascista apoiaram o golpe prestando ajuda militar e financeira. O ditador português Antônio de Oliveira Salazar também ficou do lado dos falangistas. Já a União Soviética deu seu apoio à Frente Popular, enquanto França e Inglaterra se declararam neutras.
Progressistas de todo o mundo mobilizaram-se. Foram organizadas as Brigadas Internacionais, com 40 mil voluntários de 50 países. Entre eles, os brasileiros Alberto Bomilcar Besouchet, Apolônio de Carvalho, Carlos da Costa Leite, David Capistrano da Costa, Delcy Silveira e Dinarco Reis, entre muitos outros.
18 de julho de 1945 – Multidão em festa recebe os pracinhas
O Brasil parou. Aproveitando o feriado nacional decretado pelo governo, uma multidão enche as ruas da capital da República para saudar os primeiros pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) , vitoriosos na campanha da Itália. Trens, bondes e barcos trazem milhares de pessoas, vindas de todos os bairros, dos subúrbios, dos morros, da capital, de Niterói e de outras cidades para homenagear os heróis que ajudaram a derrotar o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial.
Logo cedo, os sinos das igrejas de Nossa Senhora da Glória do Outeiro e do Sagrado Coração de Jesus anunciaram a chegada do navio. Getúlio foi recebê-los no cais. De lá, seguiu com autoridades civis, militares e religiosas para o palanque montado na avenida Rio Branco.
O desfile durou a tarde inteira. Das janelas dos edifícios, e de todos os cantos, a multidão saudava os heróis de guerra, que desfilaram da praça Mauá até o Obelisco. Aviões, nos céus, encantavam a multidão, que batia palmas e agitava bandeiras do Brasil.
17 de julho de 1945 – Governo cria o PSD de olho em oligarquias
Nasce o Partido Social Democrático (PSD), na mesma convenção que lança, oficialmente, a candidatura do general Eurico Gaspar Dutra à Presidência da República, em 17 de julho de 1945. O partido foi uma das duas faces do getulismo. O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) conversaria com as grandes massas urbanas favorecidas pela política social do governo Vargas. Por seu lado, o PSD agregaria os interventores do Estado Novo, que substituíram as velhas oligarquias no interior. O PSD reuniria prefeitos, industriais, proprietários rurais, comerciantes e funcionários públicos. Teria votos na área rural e se favoreceria do “coronelismo”.
17 de julho de 1945 – Cisão da Alemanha é decidida em Potsdam
Em 17 de julho de 1945, inicia-se a Conferência de Potsdam, que reúne as principais potências vitoriosas na Segunda Guerra Mundial, para decidir como administrar a Alemanha, que havia se rendido nove semanas antes. Estavam lá o primeiro-ministro Winston Churchill (Inglaterra), Josef Stalin (União Soviética) e Harry Truman (EUA).
Como resultado da conferência, realizada em território alemão, a Alemanha foi dividida em duas zonas administrativas — a oriental, sob influência soviética, e a ocidental, capitalista –, marcando o início da chamada Guerra Fria. Berlim, situada no território do que se tornaria a Alemanha Oriental, também foi dividida.
Essa partilha da Alemanha se estenderia ao mundo, cujos países se posicionariam sob a liderança de uma das duas superpotências que emergiram no cenário pós-guerra — os Estados Unidos e a União Soviética.
Até 1989, quando a queda do Muro de Berlim marcou o fim do bloco socialista, o mundo viveria num equilíbrio precário entre as duas superpotências, que se manteriam em permanente e aberto confronto ideológico, político e estratégico e alimentariam uma guerra clandestina entre seus serviços de inteligência.
21 de julho de 1946 – Dick Farney lança o disco ‘Copacabana’
A gravadora Continental lança a música “Copacabana”, de Braguinha e Alberto Ribeiro, na voz do novato Dick Farney, no lado A de um disco de 78 rpm (rotações por minuto). A canção marca a consagração de um gênero, o samba-canção. “Copacabana” figuraria por um ano e meio nas paradas de sucesso e se tornaria a trilha sonora do país da segunda metade dos anos 1940 ao início dos anos 1950.
O samba-canção é lento, suave, com frases musicais mais longas e letras narrativas, quase sempre sobre um amor infeliz ou malsucedido. Diferente do bolero, é produto da canção romântica brasileira do século 19 (a modinha, a seresta e a marcha-rancho) e do samba do início do século 20.
21 de julho de 1949 – Escritor Albert Camus vem ao Brasil
Chega ao Brasil, para uma série de conferências, o escritor, romancista, ensaísta e filósofo Albert Camus, nascido na Argélia e criado na França, um dos mais importantes intelectuais da França e da Europa. Sua visita inclui Rio de Janeiro, Recife, Salvador, São Paulo e Porto Alegre, de onde segue para Uruguai e Chile.
Camus, futuro Prêmio Nobel de Literatura de 1957, não se empolgaria muito com o Brasil, mas afirmaria ter gostado do Recife e das conferências que fez — em Recife e no Rio —, em especial das moças que lotaram a plateia. As conferências forneceram material para o conto “A Pedra Que Cresce”, publicado em “O Exílio e o Reino”.
16 de julho de 1963 – Jango adota o método Paulo Freire
O governo João Goulart lança a Campanha Nacional de Alfabetização e cria, para coordená-la, a Comissão de Cultura Popular (CCP), sob a presidência do educador Paulo Freire. O objetivo da campanha é disseminar pelo território nacional o método desenvolvido pelo Movimento de Cultura Popular (MCP) em Pernambuco, testado em vários estados do Nordeste e levado ao Rio, São Paulo e Brasília pelo Centro Popular de Cultura (CPC), da União Nacional dos Estudantes (UNE).
O presidente João Goulart (foto) fora atraído pelos impressionantes resultados obtidos pela Pedagogia do Oprimido — como Freire designou o seu método — nas experiências de Angicos e Mossoró (RN) e João Pessoa (PB). Em Angicos, 300 trabalhadores foram alfabetizados em 45 dias.
Na presidência da CCP, Freire prepararia as bases de um amplo programa nacional, fazendo o levantamento do número e da localização dos analfabetos — 20,4 milhões de pessoas entre 15 e 45 anos em todo o território nacional — e a montagem de cursos de preparação dos professores. Em 21 de janeiro de 1964, Jango anunciaria o início do Programa Nacional de Alfabetização.
16 de julho de 1950 – Uruguai vence a Copa e cala o Maracanã
Com um gol a 11 minutos do fim da partida, o Uruguai vence de virada a Seleção Brasileira, anfitriã do campeonato de futebol, e conquista a Copa do Mundo de 1950. O público no Maracanã, incrédulo, assiste a tudo com profunda tristeza. É o fim do sonho do Campeonato Mundial de Futebol.
O Uruguai conquista seu segundo trunfo, pois já levara a Copa de 1930, jogando em casa. Os gols saíram no segundo tempo: Friaça abriu o placar para o Brasil aos 2 minutos. E, aos 21 minutos, Schiaffino empatou para a Celeste. Aos 34 minutos, o carrasco Ghiggia selou a tragédia brasileira. O jornalista Mário Fiho escreveu: “o maior velório da face da Terra”.
18 de julho de 1968 – CCC volta à cena em ataques a teatros
O Teatro Galpão, em São Paulo, é atacado e depredado por duas dezenas de integrantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), grupo paramilitar de extrema-direita criado um ano antes do Golpe de 1964 e integrado por militares, policiais e jovens ligados a políticos de direita. O elenco da peça “Roda Viva” (foto), de Chico Buarque, foi espancado e humilhado.
Segundo o coronel Luiz Helvécio da Silveira Leite, o grupo tomou a decisão de intensificar suas ações numa reunião realizada naquele ano no Centro de Informações do Exército (CIE). “Resolvemos agir contra a esquerda. Definimos qual o campo mais fraco e decidimos que era o setor de teatro”, disse. O Teatro Galpão foi o primeiro.
Em julho, no Rio, o teatro Maison de France, que encenava “O Burguês Fidalgo”, de Molière, foi alvo de atentado. Os integrantes do CCC consideraram a obra de conteúdo comunista.
Em 5 de agosto, também no Rio, o CCC atacou o Teatro Gláucio Gil, que tinha em cartaz a peça “Juventude em Crise”.
Em 3 de outubro, véspera da estreia de “Roda Viva” em Porto Alegre, o grupo paramilitar ameaçava a integridade física dos atores em panfletos distribuídos.
16 de julho de 1984 – PMDB decide fazer a transição por cima
Reunidos em Brasília os governadores do PMDB lançam Tancredo Neves candidato a presidente na eleição indireta marcada para 15 de janeiro de 1985. A direção conta com os votos da Frente Liberal para fazer maioria no Colégio Eleitoral. O maior partido da oposição desiste da bandeira das Diretas Já, defendida pelo PT e movimentos sociais. O governador do Rio, Leonel Brizola, do PDT, também resiste ao acordo.
O pacto com a Frente Liberal seria firmado três dias depois, num encontro do presidente do PMDB, Ulysses Guimarães, com o senador José Sarney, ex-presidente do PDS e um dos chefes da dissidência. O acordo previa a indicação do vice-presidente pelos frentistas – e o escolhido foi Sarney.
18 de julho de 1967 – Castelo morre em acidente de avião
Quatro meses depois de deixar a Presidência da República, o general Castelo Branco morre num acidente aéreo próximo a Fortaleza. Um caça Lockhead da FAB atingiu a cauda do bimotor Piper Aztec em que o ex-presidente viajava, derrubando-o ao solo. Dos seis ocupantes do bimotor, apenas o copiloto sobreviveu à queda. O caça voltou à base e pousou em segurança. Castelo retornava de uma visita à escritora Rachel de Queiroz, numa fazenda em Quixadá (CE).
A investigação oficial isentou a tripulação da FAB de responsabilidade, mas as circunstâncias do acidente – numa manhã de sol com ótima visibilidade – alimentaram desconfianças de que o primeiro general presidente teria sido vítima de um atentado.
22 de julho de 1967 – Hélio Fernandes critica Castelo e é preso
Dois dias depois do acidente aéreo que matou Castelo Branco, o jornalista Helio Fernandes escreve editorial na primeira página do jornal carioca “Tribuna da Imprensa”: “Com a morte de Castelo Branco, a humanidade perdeu pouca coisa, ou melhor, não perdeu coisa alguma. Com o ex-presidente, desapareceu um homem frio, impiedoso, vingativo, implacável, desumano, calculista, ressentido, cruel, frustrado, sem grandeza, sem nobreza, seco por dentro e por fora, com um coração que era um verdadeiro deserto do Saara”. O jornalista ficaria preso por longos 60 dias.