Empresa montadora de automóveis e de engenharia anunciam investimentos no país. A China Railway vai dar início ao primeiro projeto ferroviário e uma fábrica de carros elétricos vai injetar US$ 2 bilhões, gerando 5 mil empregos diretos na Bahia

Chineses apostam no Brasil

O Brasil voltou a ser um porto seguro para investimentos estrangeiros. Algumas empresas chinesas anunciaram sucessivamente nos últimos meses apostas no país ou e deram início a projetos de infraestrutura. O exemplo mais recente é a China Railway Number 10 Engineering Group Co. Na segunda-feira, 6, a gigante participou de uma cerimônia na Bahia para anunciar o início da construção de seu primeiro projeto ferroviário no país.

Outras empresas chinesas, como PowerChina, China Energy Co, filial brasileira da State Power Investment Corporation (SPIC), também revelaram que estão promovendo novos investimentos no Brasil. Além destas, a principal montadora chinesa, BYD, também prometeu investir US$ 2,07 bilhões, no Brasil até 2025, e seus negócios incluem energia solar, além da produção e montagem de veículos elétricos.

À frente dessas iniciativas do governo está a confiança dos investidores no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na última semana, em um ato festivo em frente ao Farol da Barra, em Salvador, com a participação do Olodum e Ilê Aiyê, a BYD celebrou a implantação daquela que será a primeira indústria de carros elétricos do Brasil. A expectativa é de geração de novos 5 mil empregos diretos, sendo 1 mil deles já na primeira fase de operação da fábrica, prevista para o quarto trimestre de 2024.

O complexo será composto por três fábricas. Uma será dedicada à produção de carros elétricos e híbridos, com capacidade estimada em 150 mil unidades ao ano na primeira fase, podendo chegar a 300 mil unidades. A segunda vai produzir chassis para ônibus e caminhões elétricos. A terceira será voltada ao processamento de lítio e ferro fosfato e atenderá ao mercado externo, utilizando-se da estrutura portuária da Bahia.

A BYD é a líder indiscutível, ultrapassando a Volkswagen como a marca de automóveis mais vendida na China. Na China, a BYD vendeu cerca de 704 mil veículos de nova energia, cerca de metade dos quais eram híbridos, no trimestre de junho. Essas foram vendas trimestrais recordes e quase o dobro do número do ano anterior. A empresa, apoiada pelo investidor estadunidense Warren Buffett, fabrica suas próprias baterias, o que ajuda a reduzir custos e controlar a qualidade do produto. A empresa também se moveu decisivamente para garantir o acesso às principais matérias-primas.

Sobre a China Railway, Lula parabenizou na segunda o início oficial do projeto e enfatizou em seu discurso a importância da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), o primeiro projeto do Plano Anual de Contratações (PAC) para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. O ramal da linha ferroviária tem como objetivo unir a cidade de Caetité, no sudoeste da Bahia, à cidade de Ilhéus, situada no sul do estado.

“Eu gostaria de fazer um apelo aos empresários: é necessário que vocês entreguem a ferrovia antes de 31 de dezembro de 2026. Se for preciso, trabalhem além do horário normal e até mesmo aos fins de semana para que possamos inaugurá-la o mais rápido possível”, disse Lula. “Caso contrário, corremos o risco de permitir que outra ‘coisa negativa’ retorne ao nosso país, e a ferrovia em questão fique paralisada novamente”.

Após quatro anos de governo Bolsonaro, o Brasil recuou da sexta economia mundial para a 13ª. “Uma demonstração de que o nosso país caiu no mundo obscuro e a gente perdeu noção da grandeza do que esse país poderia fazer pelo seu povo”, apontou Lula. Falando a empresários, o presidente defendeu três pilares para a volta do crescimento com justiça social: estabilidade política, econômica e jurídica. “Para isso, é preciso um presidente da República que tenha caráter, credibilidade, que não minta, que converse com o povo e com empresários sobre a realidade.”

Ele lamentou o fato de o país ter perdido espaço na infra-estrutura. “O Brasil não produz mais trilhos. Na verdade, nem dormentes são fabricados aqui”, lamentou. “Eu me recordo que criamos a maior fábrica de dormentes do mundo quando começamos a construir a Transnordestina, mas agora ela está inativa. Há 40 anos, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) produzia trilhos, mas hoje não produz mais”.

E prosseguiu: “É vergonhoso para um país do tamanho do Brasil, que deseja possuir uma extensa malha ferroviária para facilitar o transporte de sua riqueza, ter que importar trilhos de outros países. Temos uma quantidade significativa de minério de ferro e siderúrgicas em nosso território. Isso é um desafio para nós, pois o Brasil está importando trilhos quando poderia produzi-los internamente”.

A Ferrovia de Integração Oeste-Lesta é uma via de carga com extensão total de 537 quilômetros. A empresa chinesa construirá o primeiro trecho de 126 quilômetros. Uma vez concluído, servirá como uma importante artéria para o transporte terrestre e costeiro no Brasil, reduzindo significativamente o tempo e o custo do transporte de produtos agrícolas e minerais do interior para os portos do Atlântico leste.

A ferrovia promoverá as exportações de commodities a granel, criará milhares de empregos e levará a uma capacidade anual de transporte de carga de 60 milhões de toneladas, segundo o comunicado da empresa. O projeto reflete a importância estratégica da cooperação entre a China e o Brasil, disse Sun Yanfeng, diretor de pesquisa latino-americana dos Institutos de Relações Internacionais Contemporâneas da China.

Por um lado, estabelecerá um canal para escoamento dos recursos do Brasil até os portos. De outro, abre caminho para a construção da ferrovia Central Bioceânica — um megaprojeto ferroviário de 3.750 quilômetros que vai do oeste até o leste e liga os oceanos Pacífico e Atlântico.

“O Brasil tem uma demanda enorme em termos de construção de infraestrutura, enquanto a China é conhecida por suas vantagens de tecnologia, capital e talento nesse campo”, disse Wang Youming, diretor do Instituto de Países em Desenvolvimento do Instituto de Estudos Internacionais da China em Pequim.

Antes do início da construção da ferrovia, empresas chinesas como PowerChina, China Energy Co, filial brasileira da State Power Investment Corporation (SPIC) e outras anunciaram novos investimentos consecutivamente no país latino-americano nos últimos meses, segundo relatos da mídia. A PowerChina concluiu a aquisição dos direitos de ações de um projeto fotovoltaico (PV) de 344 megawatts em Mauriti, uma cidade localizada no nordeste.

A filial local da SPIC também anunciou um plano para adicionar US$ 2 bilhões em investimentos no Brasil. A geração total de energia dos dois projetos solares da empresa deve dobrar para 5 gigawatts em 2025. •