Ao assumir o bloco do Cone Sul, presidente considera “inaceitável” a previsão de sanções aos países que descumprirem o Acordo de Paris. E critica: “Parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência rotativa do Mercosul, na terça-feira, 11, e reiterou as críticas feitas na França há quinze dias sobre o instrumento adicional apresentado pelos europeus para a conclusão do Acordo UE-Mercosul. Entre outras cláusulas, a UE impõe sanções aos países do bloco que descumprirem o Acordo de Paris – compromisso mundial pela redução da emissão de gases do efeito estufa.

“Estou comprometido com a conclusão do Acordo com a União Europeia, que deve ser equilibrado e assegurar o espaço necessário para adoção de políticas públicas em prol da integração produtiva e da reindustrialização”, destacou o presidente. “O instrumento adicional apresentado pela União Europeia em março deste ano é inaceitável. Parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções”.

Segundo ele, “é imperativo que o Mercosul apresente uma resposta rápida e contundente”. “Faz 13 anos que fui presidente do Mercosul e há compromissos que não podem ser adiados. Precisamos concluir o acordo com a UE. Já não há mais explicações sobre tantos anos de espera. Amanhã vou falar com Pedro Sánchez [presidente da Espanha] e vou tentar ver se a gente consegue avaliar uma reunião de ministros para definir o texto que precisamos enviar”, disse.

Outro ponto do instrumento adicional criticado por Lula é o que abre espaço para produtos europeus nas compras governamentais do Brasil. Segundo o presidente, isso seria altamente prejudicial para as empresas brasileiras. “É inadmissível abrir mão do poder de compra do Estado – um dos poucos instrumentos de política industrial que nos resta”, ressaltou. “Não temos interesse em acordos que nos condenem ao eterno papel de exportadores de matérias-primas, minérios e petróleo”.

Para o presidente, a proliferação de barreiras unilaterais ao comércio perpetua desigualdades e prejudicam os países em desenvolvimento. Na visão do líder brasileiro, combater o ressurgimento do protecionismo no mundo implica resgatar o protagonismo do Mercosul na Organização Mundial do Comércio”.

O comércio com os países do Mercosul é essencial para a economia nacional. Em 2021, o volume de negócios com os parceiros do bloco já havia recuperado os níveis pré-pandemia, com cerca de US$ 35 bilhões. Em 2022, foi de US$ 40,7 bilhões. Nos cinco primeiros meses de 2023, as transações chegaram a mais de US$ 17 bilhões – aumento de 12,3% na comparação com o mesmo período do ano passado. A maior parte dos itens exportados pelo Brasil para os parceiros do bloco é de produtos industrializados, como veículos e autopeças. • Agência PT

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