O Foro de São Paulo reafirma o compromisso das esquerdas de organizar a luta por um mundo mais justo. “Crianças morrem de fome enquanto os ricos pagam passagem de foguete para procurar o novo mundo, enquanto o mundo deles é esse”, disse o presidente

Ao completar 33 anos, o Foro de São Paulo voltou a ser realizado no Brasil e, assim como da primeira vez, em julho de 1990, reuniu partidos e organizações de esquerda da América do Sul em busca de novos rumos após acontecimentos que pareciam ter decretado o ocaso de velhos sonhos. Na abertura oficial da 26ª edição do encontro, na quinta, 29, Lula recordou o início, encontrou similaridades com o passado e destacou novas oportunidades de aprendizado. Mas, sobretudo, apontou que o mundo precisa lutar contra as desigualdades.

“Nós precisamos acabar com a desigualdade no mundo. Não é possível a gente continuar com essa desigualdade na comida, no salário, na educação, na moradia. Com a desigualdade de gênero, racial”, disse o presidente. “Todo santo dia a gente vê aumentar a quantidade de pobres no planeta. Crianças morrem de fome enquanto os ricos pagam passagem de foguete para procurar o novo mundo, enquanto o mundo deles é este”.

Um ano antes da criação do Foro de São Paulo, o muro de Berlim já havia ruído e Lula tinha sido derrotado em sua primeira tentativa de eleição a presidente. Depois disso, em uma viagem em Cuba, em conversa com Fidel Castro e outros integrantes do Partido Comunista de Cuba, surgiu a ideia de criar um encontro das esquerdas latino-americanas. “Muitas lutavam em partidos pequenos, tentando fazer a revolução. Resolvemos convidar todas as organizações para discutir como, pela via democrática, chegar ao poder em nossos países”, recordou o presidente. “Foi daí que surgiu o Foro de São Paulo”, disse.

Lula fez aquela viagem acompanhado de Marco Aurélio Garcia, dirigente do PT especializado em política internacional. Garcia, falecido em 2017, foi o homenageado nesta edição do Foro de São Paulo, do qual foi um dos criadores.

Em 2023, após experiências amargas como o retorno da direita em países da América do Sul e de golpes ocorridos em Honduras, Bolívia e no próprio Brasil, que chegou a presenciar a prisão de Lula por 580 dias, o 26º Foro de São Paulo ocorre num momento de retomada de governos progressistas, repetindo o ciclo entre 2000 e 2015, que, na opinião de Lula, em grande parte como reflexo do próprio Foro, “foi o melhor momento da América Latina”.

Para o presidente, de tantas lições que podem ser colhidas de toda essa experiência, uma vem do próprio Fidel Castro. “Não podemos nos criticar publicamente. Nós nos destruímos entre nós, às vezes usando como ferramenta os meios de comunicação que são da direita” disse. “Fidel criticava pessoalmente e elogiava publicamente. Não temos tempo de ficar brigando por coisas pequenas”.

Antes da abertura oficial, o Foro sediou um seminário organizado pelas fundações partidárias Perseu Abramo e Maurício Grabois. Em duas mesas de debate, os palestrantes e o público presente – representantes de partidos políticos de países da América do Sul e Caribe, além de convidados de países como o Vietnã e África do Sul – defenderam o princípio de que a união e a cooperação econômica e social entre os países da região são a melhor forma de se defender da ingerência dos países imperialistas e de promover a autonomia política. •

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