A rainha brilha no céu
Morre, aos 83 anos, a cantora norte-americana Tina Turner, a lenda do rock. Sua estrela começou a brilhar ainda nos anos 1960, ao lado de um parceiro terrível, mas ela se reinventou e forjou uma carreira multiplatinada, que a levou aos palcos com astros como David Bowie, Mick Jagger e The Who
Uma lenda da música mundial foi brilhar no céu na última semana. A cantora Tina Turner, a estrela pioneira do rock’n’roll que se tornou uma gigante pop na década de 1980, morreu aos 83 anos após uma longa doença. Ela sofreu problemas de saúde nos últimos anos, foi diagnosticada com câncer intestinal em 2016 e teve um transplante renal em 2017. Sua fama alcançou milhões ao longo de cinco décadas.
Em um comunicado distribuído na noite de quarta-feira, 24, Bernard Doherty, relações públicas da cantora, anuncou: “Tina Turner, a ‘Rainha do Rock’n Roll’, morreu pacificamente hoje aos 83 anos após uma longa doença em sua casa em Kusnacht, perto de Zurique, Suíça. Com ela, o mundo perde uma lenda da música e um modelo a seguir”.
O comunicado não exagera. Tina Turner afirmou e ampliou a participação das mulheres negras no rock’n’roll, redefinindo essa era da música na medida em que Mick Jagger admitia ter se inspirado em suas performances ao vivo energéticas para moldar sua própria personalidade de palco. Estamos falando de uma lenda que não se esquecia de admirar outra lenda. Sua vida foi narrada em três memórias, um filme biográfico, um musical de jukebox e, em 2021, o documentário, “Tina”.
Depois de duas décadas trabalhando com seu principal parceiro — Ike Turner — um marido abusivo que a agredia e a maltratava fisica e psicologicamente —, Tina partiu em carreira solo e voou longe. Sozinha, depois de alguns falsos começos, Tina se tornou um dos ícones da música pop que definiram o som da década de 1980 com o álbum “Private Dancer”, lançado em maio de 1984. A canção-tema é uma composição do guitarrista britânico Mark Knopfler.
Tina Turner nasceu Anna Mae Bullock em 26 de novembro de 1939 e foi criada em Nutbush, no estado do Tennessee, onde se lembrou de colher algodão com sua família quando ainda era uma criança. Ela cantou no coro da igreja da pequena cidade e, quando adolescente, falou — ou melhor, cantou — entrando na banda de Ike em St. Louis. Ele recusou seu pedido para se juntar até ouvi-la pegar o microfone durante uma apresentação do Kings of Rhythm para uma versão de “You Know I Love”, do bluesman BB King.
Depois que seus talentos vocais se tornaram aparentes, Ike deu a ela o nome de Tina Turner — e registrou-o, caso ela o deixasse ou ele próprio quisesse substituí-la. O parceiro musical rapidamente se tornou abusivo. Quando ela tentou deixar o grupo no início, depois de ter tido uma noção de seu caráter, ele bateu nela com um sapato de madeira.
“Meu relacionamento com Ike estava condenado no dia em que ele descobriu que eu seria sua garantia de ganhar dinheiro”, escreveu Turner em sua autobiografia de 2018, “My Love Story”. “Ele precisava me controlar, econômica e psicologicamente, para que eu nunca pudesse deixá-lo”, explicou.
Tina fez sua estreia sob o nome de Ike e Tina Turner com o single “A Fool in Love”, em julho de 1960. O disco rompeu o Top 30 dos EUA e começou uma corrida de sucesso respeitável nas paradas. Mas foram as apresentações ao vivo que fizeram sensação. Ike excursionou agressivamente no Circuito Chitlin’ – inclusive na frente de públicos desagregados, tal era seu poder comercial. Em 1964, assinaram com a marca da Warner Bros, Loma Records, que lançou seu primeiro álbum nas paradas: “Live! The Show of Ike e Tina Turner”.
Na segunda metade dos anos 1960, a dupla foi cortejada por muitos dos maiores nomes do rock. Phil Spector produziu o single de 1966 “River Deep – Mountain High”. Eles abriram para os Rolling Stones. Estrelas como David Bowie, Sly Stone, Cher, Elvis Presley e Elton John vieram para sua residência em Las Vegas.
No divórcio, finalizado em 1978, Tina saiu com apenas dois carros e os direitos de seu nome artístico. “Ike lutou um pouco porque sabia o que eu faria com isso”, disse no documentário “Tina”. A cantora, que já havia lançado dois discos solo, continuou buscando uma carreira solo, embora demorasse até lançar seu quinto álbum, “Private Dancer”. No documentário Tina, ela descreveu o álbum de 1984 como sua estreia. “Eu não considero isso um retorno,” disse. “Tina nunca tinha chegado.”
A estrela creditou ao budismo e particularmente à prática de cantar com o impacto positivo em sua vida na década de 1980. Fora da música, estrelou “Mad Max Beyond Thunderdome”, ao lado de Mel Gibson, em 1985. Ela publicou seu primeiro livro de memórias, o best-seller global “I, Tina”, em 1986, que mais tarde foi adaptado para o filme de 1993 “What’s Love Got to Do With It?”, estrelado por Angela Bassett. Em 1995, ela cantou a música tema do filme “007 contra Goldeneye”, de James Bond.
Tina anunciou sua aposentadoria em 2000, um ano depois de lançar seu último álbum “Twenty Four Seven”, embora voltasse ao palco em 2008, se apresentando no Grammy com Beyoncé e para uma turnê final para marcar 50 anos de carreira. E foi o fim. “Eu estava cansada de cantar e fazer todo mundo feliz”, disse ao New York Times em 2019. “Isso é tudo o que eu já fiz na minha vida.” •