Cartunista, músico e um dos mais brilhantes chargistas morre aos 73 anos em São Paulo e deixa o país órfão do seu talento e humor. Lula lamenta e o irmão gêmeo Chico lembrou que os dois começaram a desenhar na infância

O Brasil perdeu um pouco da sua graça e do olhar agudo sobre os seus costumes políticos. O cartunista paulistano Paulo Caruso morreu na manhã de sábado, 4, aos 73 anos, no Hospital Nove de Julho. Ele estava internado para tratar as complicações de um câncer no intestino. Desde 1987, elaborava ilustrações e charges para o programa de entrevistas Roda Viva, da TV Cultura.

Paulo Caruso foi uma figura conhecida da cena underground paulistana, ao lado de outros desenhistas importantes como Chico Caruso — seu irmão gêmeo — Angeli, Laerte e Glauco, entre outros tantos que ilustraram a política brasileira com charges ácidas e bem-humoradas ao longo dos últimos 50 anos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do artista, a quem admirava. “Contribuiu com seu talento na luta pela democracia e por um país com direito à liberdade de expressão”, disse o presidente. “Meus sentimentos ao seu irmão, Chico, aos seus familiares, amigos e admiradores”.

Irmão gêmeo de Paulo, também o cartunista Chico Caruso lembrou que o irmão começou a fazer arte ainda criança: “Nosso avô fazia charges de brincadeira dos amigos, e levamos esse legado adiante. Eu e o Paulo desenhávamos cada um em seu caderno, e depois mostrávamos ao outro o que tínhamos criado. Passamos o resto da vida fazendo isso, mesmo trabalhando em veículos e cidades diferentes”, disse Chico. 

Paulo Caruso foi “um hippie” na juventude, como brincava. Cursou arquitetura na FAU, da Universidade de São Paulo, mas nunca exerceu a profissão. A cena dos artistas, que se juntavam às noites no bar Riviera, na Consolação, o atraiu. Bem como a imprensa, começou no extinto Diário Popular a publicação de charges, ainda no começo dos anos 70.

A ironia e acidez eram acompanhadas do humor. Publicou também em veículos lendários da imprensa alternativa, como O Pasquim, Movimento, entre outros. Foi também responsável, por anos, por uma página da revista IstoÉ, chamada Avenida Brasil, por onde fez comentários sobre a cena política, depois publicada na revista Senhor, ambas dirigidas por Mino Carta. Nesta página, fez circular caricaturas de personalidades brasileiras das décadas de 1980 e 1990, sintetizando com sátira e humor vários momentos da história política brasileira.

Caruso recebeu vários prêmios, como o de melhor desenhista, pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), em 1994. Por sua habilidade para a sátira e para a caricatura, aliada à numerosa produção, sua obra é das mais conhecidas do Brasil. Desde a estreia do programa, nos anos 1980, integrou a bancada do Roda Viva, da TV Cultura.

Suas charges acompanhavam as reações dos entrevistados do programa, um dos mais longevos da televisão brasileira. Chico repetia sempre que não tinha condições de fazer o trabalho do irmão. “O que ele fazia no Roda Viva eu jamais conseguiria fazer, desenhar naquela velocidade. Eu trabalho mais lentamente, para mim seria impossível”, disse.

O cartunista também lembrou outro talento do irmão: a música. A dupla fez sucesso em espetáculos musicais nos quais criavam paródias envolvendo situações e personagens da política nacional. Em 1985, Paulo e Chico estreavam no Salão Internacional de Humor de Piracicaba com a banda Muda Brasil Tancredo Jazz Band, que contou com a participação de outros cartunistas e escritores convidados, como Luis Fernando Verissimo, Cláudio Paiva e Aroeira. Eles gravaram discos como “Pra seu governo” (1998), “E la nave va” (2001) e “30 anos de democracia – Que país é este?” (2015). •

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