Expectativa sobre o futuro
Pesquisas indicam o que os brasileiros esperam mudanças no cenário econômico. Segundo o Datafolha, a maioria (54%) dos entrevistados teme o aumento da inflação, mesmo diante do recuo do IPCA em março — o menor índice em dois anos. A melhora não veio ainda na velocidade que o povo anseia
Os brasileiros querem mudança e a melhora de vida. E estão com pressa. É isso que apontam as últimas pesquisas sobre o humor do brasileiro. Este é o tema deste artigo, dando sequência à série do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe), da Fundação Perseu Abramo, sobre as pesquisas recentes do Datafolha, além dos resultados de outra amostragem do IPEC. Vemos aqui as expectativas por mudanças na situação econômica e o futuro do país.
O Datafolha mediu as expectativas econômicas do povo brasileiro. Comparando com o levantamento de dezembro de 2022, é possível verificar variações nas projeções dos entrevistados sobre o futuro. A força do noticiário econômico provocou uma percepção de que a situação do país vai piorar, mesmo diante de indicadores mostrando agora o contrário.
Para 54%, a inflação vai aumentar — são 15 pontos percentuais a mais que em dezembro. Mas o fato é que a inflação oficial do Brasil em março caiu para 0,71%. E só não caiu ainda mais por causa da alta da gasolina. Nos últimos doze meses, o IPCA acumula 4,65%. O menor índice desde janeiro de 2021.
Daí a estranheza que apenas 20% dos entrevistados acreditam que a inflação vai diminuir — 11 pontos a menos. Somam 44% (7 pontos a mais) os que creem que o desemprego irá aumentar, enquanto 29% (8 pontos a menos) que esperam um recuo. Os dados indicam uma reversão de expectativas, num sentido negativo, comparado ao que as pessoas esperavam do governo que viria.
No entanto, um dado pode ajudar a explicar os motivos. No governo Bolsonaro, havia uma forte reprovação puxada por uma sensação de piora econômica pessoal e do país, impera nesse momento o diagnóstico feito por uma parcela significativa da população que as coisas se mantiveram como já estavam. São 41% (6 pontos a mais) os que creem que a economia fica como estava, enquanto 35% acham que piorou — uma diminuição de 3 pontos em relação a dezembro.
Em relação à situação econômica pessoal, 50% (uma variação de 12 pontos a mais) veem que ficou como estava, enquanto diminuiu a sensação de melhora (de 31% para 23%) e de piora (de 31% para 27%). A maior parte, 46%, ainda acha que a situação econômica do país vai melhorar. O número, no entanto, é 16 pontos menor do que o da véspera do segundo turno das eleições.
O Datafolha também mensurou a percepção dos brasileiros sobre as taxas de juros e sobre a insistência do Banco Central em mantê-las elevadas. Para 71%, as taxas são mais altas do que deveriam, e 80% crêem que o presidente Lula age bem ao pressionar o BC e seu presidente para diminuí-las. São números que reforçam o porque de uma parcela significativa da população avaliar o governo regularmente: não mais a reprovação pela piora, mas sim uma avaliação mediana pela ausência de melhora.
Por fim, a pesquisa IPEC realizada no começo de abril, demonstra que não houve alteração na avaliação de governo desde o levantamento anterior, do começo de março. O governo Lula é visto como ótimo/bom por 39% dos brasileiros, como regular por 30% e como ruim/péssimo por 26%. Todas as oscilações estão dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais. •
* Cientista político doutorando pela USP, é analista do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe), da Fundação Perseu Abramo.