Matheus Tancredo Toledo

As pesquisas mais recentes divulgadas nesta semana, dos institutos Quaest, Atlas, e IPEC suscitaram extenso debate acerca da popularidade do governo federal e da avaliação das brasileiras e brasileiros sobre a situação do país. Neste artigo, traremos a análise do NOPPE (Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos da Fundação Perseu Abramo) sobre tais levantamentos – com base no acompanhamento constante que fazemos de pesquisas de diferentes institutos. Dedicamos em outro texto, para a revista Teoria e Debate, uma crítica à análise mais veiculada sobre os dados recentes, de que a queda na aprovação de governo seria resultado da denúncia de Lula sobre o genocídio em Gaza (Queda da aprovação do governo e o oportunismo da mídia – Teoria e Debate). Aqui, analisaremos os elementos que consideramos mais relevantes para explicar movimentações na opinião pública que estão evidentes desde o início do segundo semestre de 2023.

Presidente Lula e o ministro da Fazenda Fernando Haddad. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Nos textos anteriores publicados na Focus Brasil, vínhamos apontando para um cenário de estabilidade na avaliação do governo (Análise: Atlas reforça quadro geral de estabilidade na aprovação de governo – Revista Focus Brasil), com ampliação do número de brasileiros que não viam melhora econômica, o que chamamos de sinal amarelo (Análise FPA: pesquisa indica estabilidade na aprovação de Lula – Revista Focus Brasil) e com paulatina reconsolidação da polarização política no segundo semestre do ano passado (Análise: como termina 2023 na opinião pública? – Fundação Perseu Abramo).

Agora, após essas duas pesquisas, é possível apontar que o ‘sinal amarelo’ passa a ganhar novos tons. De acordo com a pesquisa Quaest, realizada entre os dias 25 e 27 de fevereiro com 2 mil entrevistas presenciais e margem de erro de 2,2 pontos percentuais (p.p.), a pesquisa Atlas, realizada entre os dias 2 e 3 de março com 3.154 entrevistas online e margem de erro de 2 p.p., e a pesquisa IPEC, realizada entre os dias 1 e 5 de março com 2 mil entrevistas e margem de erro de 2 p.p., a avaliação do governo retornou ao pior patamar de suas séries históricas (visto em abril de 2023). Se no começo do segundo semestre de 2023 tivemos o auge de aprovação ao governo, impulsionado pela percepção de melhora econômica e de um momentâneo arrefecimento da polarização, nos deparamos desde então com uma paulatina deterioração deste quadro.

Segundo a Quaest, 51% dos brasileiros dizem aprovar o governo e 46% reprovam, enquanto a Atlas traz 47% de aprovação e 46% de reprovação. Quando instigados a avaliar o governo em uma escala mais ampla (ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo), 35% avaliam o governo positivamente, 28% como regular e 34% negativamente, segundo a Quaest, enquanto na Atlas 40,6% o avaliam negativamente, 38,1% positivamente e 18,2% como regular. Já na IPEC, 49% aprovam o governo e 45% o desaprovam.

APROVAÇÃO GOVERNO LULA – GERAL

Gráfico

Ao olhar para os segmentos, chamam a atenção as seguintes movimentações, segundo a Quaest: há mais reprovação que aprovação, de forma inédita, no Sudeste (52% de reprovação), entre os jovens (50%), entre os brasileiros/as com escolaridade média (50%), com renda familiar mensal de 2 a 5 salários-mínimos (52%), entre a população com cor/raça autodeclarada branca (50%) e entre quem votou branco/nulo ou não foi votar no segundo turno das eleições presidenciais de 2022 (49%). Ainda, manteve-se uma maioria de pessoas com reprovação ao governo entre: moradores da região Sul (51%), ensino superior (53%), renda maior que 5 salários-mínimos (54%), evangélicos (62%), eleitores de Bolsonaro no segundo turno (88%). Também é destaque a perda de vantagem entre as mulheres: na pesquisa anterior, de dezembro, a diferença entre aprovação e reprovação entre elas era de 14 p.p., e agora é de 6 p.p. — entre os homens, era de 6 p.p. e agora são 4 p.p. — aproximando o patamar de ambos os gêneros. 

Em artigo anterior, já linkado acima, apontamos que um sinal amarelo havia se acendido para o governo, especialmente em relação às percepções sobre o desempenho econômico, ainda que se mantivesse relativo otimismo com a economia. Ambas as pesquisas trazem, no entanto, que houve um aumento da sensação de piora econômica a partir de outubro de 2023, mesma temporalidade da queda progressiva da aprovação até voltar ao patamar de abril de 2023, quando a percepção de piora econômica também era alta.

Ainda que o noticiário econômico tenha contado com uma alta significativa do PIB de 2023, o elemento inflacionário ganha destaque na percepção dos brasileiros, refletindo possivelmente o que já foi registrado pelo IBGE: por três meses seguidos a inflação de alimentos compôs a maior parte do IPCA mensal: 1,38% em janeiro, 1,11% em dezembro e 0,57% em novembro. O impacto, na opinião pública, é majoritário e fura, inclusive, a bolha da polarização: 73%, segundo Quaest, declaram ter sentido aumento nos preços, um aumento de 25 p.p. em 2 meses. Ainda que as pesquisas não aprofundem os elementos dessa percepção para além da perspectiva inflacionária/do poder de compra, o cenário requer atenção para este dado: a volta a um patamar visto no início do governo ocorre num contexto novo no qual o governo possivelmente conta com menos paciência da opinião pública, como quando estava em seu início.

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