A força dos emergentes
O presidentes de Brasil e China têm uma relação próxima e podem construir um caminho de paz para a guerra na Ucrânia. Eles ainda trataram de meio ambiente
O êxito da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China é inegável, mas um dos aspectos mais importantes é a relação próxima que o brasileiro e Xi Jinping mantêm, desde quando os dois estavam em outras posições. Xi foi o vice de Hu Jin Tao, o presidente da China quando Lula liderava o seu segundo governo. Apesar de a relação ser entre governos, é inegável que há uma simpatia mútua. Além da conversa entre as duas delegações, houve outra, privada, entre os dois presidentes. Prevista na agenda para durar 15 minutos, a conversa se alongou e durou bem mais de uma hora.
O mundo todo está curioso quanto aos frutos desse encontro, porque dois temas importantes dependem de iniciativas dos presidentes de Brasil e China. O primeiro deles é a guerra na Ucrânia. O segundo é o meio ambiente. São temas complexos, dependem de muita diplomacia, diálogo, mas são urgentes. E tanto Xi quanto Lula sabem que podem construir uma saída para o impasse diplomático no caso da guerra no leste europeu e das medidas que as nações precisam tomar para reduzir os impactos do aquecimento global.
No caso da guerra da Ucrânia, a posição de Lula é pela formação de um grupo de países neutros — um “Clube da Paz” — que sejam respeitados pelos dois lados, para levar Rússia e Ucrânia para a mesa de negociações. E, de todos esses países, o mais importante é a China, porque, desde as sanções contra a sua economia, a Rússia passou a depender ainda mais do gigante asiático.
“A decisão da guerra foi tomada por dois países. E agora o que estamos tentando construir é um grupo de países que não têm envolvimento com a guerra, que não quer a guerra, que desejam construir paz no mundo, para conversarmos tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia”, disse Lula. “Mas também temos que ter em conta que é preciso conversar com os Estados Unidos e com a União Europeia”, afirmou. Ele declarou que pretende envolver ainda países da América Latina.
Convencer a China a encabeçar esse grupo é também, de certa forma, assegurar que Pequim, que é a quarta maior produtora de armas do mundo, não venda material bélico para a Rússia. Caso isso ocorra, seria muito difícil ver o final do conflito que, além do enorme sofrimento produzido, tem provocado efeitos muito ruins para a economia mundial.
Rússia e Ucrânia são grandes produtores agrícolas e a guerra está causando um aumento nos preços de muitos alimentos. Tem também a questão energética. Sem comprar o gás que vinha da Rússia, os países europeus estão gastando três vezes mais para importar o gás que tem que chegar de navio. Somado ao custo de mandar armas e sustentar a enfraquecida economia ucraniana, o desembolso de dinheiro é insustentável para muitos países europeus.
Durante conversa, Xi e Lula reconheceram que as mudanças climáticas representam um dos maiores desafios do nosso tempo e que enfrentar a crise contribui para a construção de um futuro compartilhado de prosperidade equitativa e comum para a humanidade.
O Brasil e a China enfatizam a necessidade de combinar a resposta climática urgente com a conservação da natureza para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), incluindo a erradicação da pobreza e da fome, sem deixar ninguém para trás.
Na declaração conjunta Brasil-China sobre o combate às mudanças climáticas, os dois países se comprometem a ampliar, aprofundar e diversificar a cooperação bilateral em clima, bem como promover esforços conjuntos para uma governança global aprimorada sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
“Sob a UNFCCC, o Acordo de Paris nos deu um caminho para manter coletivamente o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2ºC acima dos níveis pré-industriais e para prosseguir os esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais”, diz o texto. ”Estamos determinados a fortalecer ainda mais o multilateralismo, inclusive com todos os nossos parceiros dentro do Grupo dos 77 e da China (G77+China), com vista a um modelo de solidariedade climática que seja coletivo, que rejeite o unilateralismo e as barreiras comerciais verdes e que esteja firmemente fundamentado nos valores de solidariedade e cooperação em nossa comunidade internacional”. •