O protofascismo e a barbárie
A recente tragédia ocorrida na creche de Blumenau (SC) chocou o país. A partir do mau exemplo vindo da disseminação de armas nas mãos da população, moda nos Estados Unidos, que vive uma verdadeira epidemia de chacinas, instalou-se aqui mais essa triste realidade, transportada para o Brasil com a eleição de Jair Bolsonaro.
O culto às armas com o discurso falso da autodefesa da população e a propalada facilitação da aquisição de armamentos pelos CACs — colecionadores, atiradores esportivos e caçadores, — transbordaram para o contrabando e a venda de armamento legal para as organizações criminosas pelo Brasil afora.
O aumento exponencial do número de ataques às escolas, a verdadeira chaga do feminicídio e da violência doméstica e familiar — e o crescente surto de brigas de trânsito com o uso de armas de fogo — são efeitos colaterais do quadro trágico que o protofascismo legou ao novo governo eleito em 2022.
Epicentro da espiral fascistizante foi a intentona golpista em 8 de janeiro. As imagens da destruição dos prédios da institucionalidade do Estado — o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal — correram o mundo. A não punição severa dos atos ocorridos pode agir como agente estimulador de outras aventuras.
Surpreende a sociedade a banalização de atitudes criminosas perpetradas por pessoas que aparentemente exerciam atividades normais no seu cotidiano e do nada cometem atos bárbaros. O estímulo que pode vir do submundo das mídias digitais exigirá das autoridades um aperfeiçoamento nos métodos investigativos e também uma atualização do Código Penal para punir as ações criminosas e estímulos aos atos preparatórios.
“A triste verdade é que os maiores males são praticados por pessoas que nunca se decidiram pelo bem e pelo mal”, dizia a filósofa Hannah Arendt.
Desarmar a população, punir os criminosos e exaltar a paz em detrimento da violência é o caminho que nos resta.
O resto é barbárie e anomia. Não podemos falhar. •