Em mais uma demonstração de que a gestão da pandemia foi temerária sob Bolsonaro, Ministério da Saúde revela que jogou no lixo 39 milhões de vacinas contra a Covid. Prejuízo de R$ 2 bilhões

Enquanto foi presidente, Jair Bolsonaro trabalhou o quanto pôde contra a ciência e as recomendações sanitárias da Organização Mundial da Saúde (OMS) no enfrentamento à pandemia da Covid-19. Sua negligência no governo custou caro ao país, que perdeu mais de 690 mil pessoas para a doença. Agora, seu desprezo pela saúde dos brasileiros e incompetência administrativa ficam demonstrados mais uma vez: sob a gestão de Marcelo Queiroga, o Ministério da Saúde deixou vencer 38,9 milhões de doses de vacinas. Um prejuízo de R$ 2 bilhões aos cofres públicos.

O total engloba os lotes já vencidos e incinerados pelo governo Bolsonaro, como os 2 milhões de imunizantes contra o coronavírus, perdidos em 2021, e os 9,9 milhões que venceram no ano passado. Em janeiro, quando assumiu o Ministério da Saúde, Nísia Trindade, nomeada pelo presidente Lula, 27,1 milhões perderam a validade.

“A gente pegou um governo com estoque de vacinas vencidas e para vencer, enquanto aquelas que precisávamos não tinham estoque”, declarou a secretária de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel. “Não havia nem contrato [encomendando as doses] no caso das vacinas pediátricas e bivalentes”, lamentou Maciel.

A omissão criminosa do desgoverno Bolsonaro foi confirmada pelo Ministério da Saúde, em nota divulgada no dia 15: “A atual gestão do Ministério da Saúde se deparou com um cenário de 27,1 milhões de doses de vacinas contra Covid-19 sem tempo hábil para distribuição e uso”.

“Se não fosse o negacionismo, essas doses não estariam nos estoques. Se tivesse acontecido um esforço, como estamos fazendo agora, com campanhas educativas, alinhamento com gestores municipais e estaduais, essas vacinas não teriam vencido”, criticou Ethel Maciel. Marcelo Queiroga confessou à Folha que os seus “secretários eram os responsáveis pelo controle dos estoques”.

Em junho de 2021, o Tribunal de Contas da União (TCU) alertou o governo sobre o risco de perder 28 milhões de doses. A Saúde já havia deixado vencer um estoque avaliado em R$ 243 milhões de vacinas, além de testes e outros itens.

A negligência Bolsonaro que, além do prejuízo aos cofres públicos, provocou milhares de mortes que poderiam ser evitadas, é um reflexo da estratégia negacionista do ex-ocupante do Planalto. Desde a chegada da pandemia no Brasil, em fevereiro de 2020, Bolsonaro desdenhou da letalidade da doença, chamando a Covid-19 de “gripezinha” e xingando de “maricas” aqueles que choravam a perda de entes queridos por causa do vírus. No final de 2020, o próprio Bolsonaro afirmou que não autorizava o então ministro Eduardo Pazuello a comprar vacinas da Coronavac, fabricadas pelo Instituto Butantã. O fato foi confirmado pelo próprio Pazuello, em depoimento à CPI da Covid, em maio de 2021. • 

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