Cinquenta anos do horror
A morte de Alexandre Vannucchi Leme é marcada por atos políticos e religiosos. Estudante morto por tortura nas dependências do DOI-Codi em 1973 terá biografia lançada no segundo semestre
Em 16 de março de 1973, um estudante de 22 anos foi preso nas dependências do DOI-Codi. No dia seguinte, Alexandre Vannucchi Leme, aluno do curso de Geologia da USP, estava morto. Seis dias depois de sua morte por tortura, os jornais “A Gazeta” e “Jornal da Tarde” publicaram texto que mencionava que o estudante teria sido morto por atropelamento. Era dessa maneira que a polícia política justificava, por assim dizer, as mortes de “subversivos” ocorridas em seus porões, celas e calabouços.
Esse tipo de notícia servia de senha para que os amigos ou companheiros de militância que sabiam desses “sumiços” repentinos procurassem a família e/ou advogados para reaver o corpo — ou, em alguns casos, desfazer a célula, o aparelho, o esconderijo.
Em 1973, sob o governo do general Emílio Garrastazu Médici, a repressão às organizações de oposição e de esquerda ainda não dava mostras de dar trégua. Alexandre, ainda que não estivesse militando em organização clandestina quando foi detido, foi mais uma vítima do aparato policial-militar destinado a sufocar quaisquer tentativas de confrontar a ditadura.
No caso de Alexandre, além de uma família que o procurou com muita persistência, houve um esforço repartido entre os estudantes e representantes religiosos para não aceitar a versão oficial. Para a missa de corpo ausente, celebrada na Catedral da Sé por Dom Paulo Evaristo Arns, compareceram estudantes, sobretudo os da Universidade de São Paulo, e parte da sociedade civil que, lentamente, começava a se reorganizar.
A “missa do Alexandre” marcou um ponto de não-retorno do movimento estudantil que, quando finalmente conseguiu reorganizar seu Diretório Central em 1976, decidiu homenagear o colega morto batizando o DCE como “DCE Livre da USP – Alexandre Vannucchi Leme”.
Os 50 anos do assassinato de Alexandre foram relembrados em atos organizados pelo Instituto Vladimir Herzog, pela Comissão Arns e pelo Núcleo de Preservação da Memória e da Política (NM) que organizaram uma série de manifestações para a sexta-feira, 17, incluindo uma missa na Catedral da Sé, conduzida por Dom Pedro Luiz Stringhini e Dom Angélico Sândalo Bernardino. No segundo semestre, o jornalista Camilo Vannuchi, primo em segundo grau de Alexandre, deve lançar o perfil biográfico do estudante: “Eu só disse meu nome”. •