A semana na história – 27 de fevereiro a 10 de Março
3 de março de 1936 – Graciliano Ramos é preso em Maceió
O autor de “Caetés” e “S. Bernardo”, funcionário da Secretaria de Educação de Alagoas e ex-prefeito de Palmeira dos Índios é preso em sua residência, em Maceió, sem que nenhuma acusação tenha sido formalizada. Graciliano ficaria encarcerado até janeiro do ano seguinte. De Maceió, logo foi transferido para o Recife e de lá, com outros 115 presos políticos, para o Rio de Janeiro, no navio “Manaus”.
Em 27 de outubro de 1953, a Livraria José Olympio Editora publicaria, postumamente — Graciliano havia morrido em janeiro daquele ano, aos 60 anos —, sua obra autobiográfica “Memórias do Cárcere”, o mais contundente relato das violências nas prisões da ditadura Vargas.
O relato, que narra os dez meses em que o autor esteve preso, fala de nada menos que 237 personagens (segundo levantamento do cineasta Nelson Pereira dos Santos, que levou o livro às telas em 1984), com os quais Graciliano dividiu celas. Os presos, políticos ou comuns, são retirados do anonimato: os primeiros, resgatados da violência da tortura e do cárcere; os últimos, da miséria que antecedeu a marginalidade legal.
O livro teria ampla repercussão e causaria desconforto ao PCB, por denunciar a colaboração do seu antigo secretário-geral, Antônio Maciel Bonfim (o “Miranda”), com a polícia política do governo Vargas. Também seria um incômodo para de Getúlio Vargas, que ascendera ao poder pelo voto três anos antes do lançamento do livro.
5 de março de 1936 – A Polícia prende no Rio Luís Carlos Prestes
A polícia invadiu pela manhã a residência de Luís Carlos Prestes (uma casa simples no Méier, subúrbio do Rio) e o prendeu, junto com sua mulher, Olga Benário, e a empregada da casa. Prestes foi levado para a delegacia de pijama. Filinto Müller, chefe de polícia do Distrito Federal, telegrafa a todos os governadores comemorando a prisão do líder comunista.
A polícia estava no encalço do Cavaleiro da Esperança havia muitos meses. Ele chegara ao Brasil em abril de 1935 e, desde então, vivia na clandestinidade, mudando frequentemente de endereço. Após o levante comunista de novembro, as buscas se intensificaram, com a criação da Comissão de Repressão ao Comunismo em janeiro. A polícia contou com a ajuda de Alfred Hutt, superintendente da Light (companhia de energia elétrica do Rio de Janeiro) e agente do serviço secreto inglês.
Mas foi só com violência que a polícia conseguiu localizar o esconderijo de Prestes. Inúmeros militantes do Partido Comunista do Brasil (PCB) foram barbaramente torturados para contar onde se encontrava o comandante da insurreição armada de novembro de 1935.
Em dezembro, fora preso o norte-americano Harry Berger e sua mulher, Sabo. Ambos eram cidadãos alemães ligados ao Comitê Executivo da Internacional Comunista e estavam no Brasil para prestar assistência a Prestes e à luta armada. Sabo era Elisabeth (Elise) Saborowski Ewert, e Harry, codinome de Arthur Ernest Ewert, ex-deputado pelo Partido Comunista da Alemanha.
Em janeiro de 1936, foi a vez de Adalberto de Andrade Fernandes, codinome do secretário-geral do PCB, o baiano Antônio Maciel Bonfim, também chamado de Miranda, e sua jovem esposa, Elza Fernandes – na verdade, Elvira Cupelo Colônio. Ao contrário dos alemães, Miranda entregou vários companheiros, mas não sabia do paradeiro de Prestes. O comunista argentino Rodolfo Gholdi também falou sob tortura.
Por ele, os policiais souberam que Prestes estava casado com uma estrangeira, conhecida como Olga. Também ouviram falar do comunista norte-americano Victor Allen Barron. Preso e submetido a seguidas seções de tortura, Barron acabou contando que o casal residia na região do Méier, subúrbio do Rio de Janeiro. Não falou mais nada, e foi morto pelos torturadores. A polícia já começava a montar o cerco.
Na casa onde viviam Olga e Prestes, foram encontrados documentos e uma caderneta cujas anotações ajudariam a polícia a deter outros importantes membros do partido. Prestes usava um passaporte português com o nome de Antônio Vilar, casado com Maria Bergner Vilar – na realidade, Olga Benário, militante comunista alemã que viera ao Brasil com a missão de dar apoio a Prestes. Na viagem e na clandestinidade, os dois se apaixonaram e se tornaram marido e mulher.
Aquele dia, na delegacia, eles se viram pela última vez. Prestes ficou preso por nove anos; Olga, mesmo grávida, seria deportada para a Alemanha e, de lá, enviada (com Elise Ewert) para campos de concentração nazistas.
28 de fevereiro de 1945 – Getúlio promete convocar eleições
O presidente Getúlio Vargas edita a Lei Constitucional nº 9, que promete marcar, em até 90 dias, data para eleições de presidente da República, deputados federais, senadores, governadores e deputados estaduais. Vargas já estava no poder há 15 anos. Oito anos antes, instaurara no país a ditadura que passaria à História como Estado Novo, com dissolução do Congresso e dos legislativos estaduais, nomeação de interventores para os estados e extinção dos partidos políticos.
A entrada do país na Segunda Guerra Mundial, em 1942, ao lado das maiores democracias ocidentais, tornou insustentável a ditadura varguista. A sociedade passou a se mobilizar pela democratização do país, e nem as próprias Forças Armadas, que aceitaram a ascensão dele em 1930 e o mantiveram em 1937, estavam dispostas a dar mais sustentação ao regime.
Em novembro de 1944, o general Góes Monteiro, vindo de uma missão no Uruguai, já alertara o presidente de que os oficiais do Exército não viam mais sentido na manutenção do regime totalitário. “Não se pode compreender que o Brasil, que nesse momento combate as nações totalitárias, permaneça ele próprio sendo um Estado autoritário”, ponderou o general.
A partir daí, Vargas tentou, sem sucesso, manter a abertura do regime sob seu controle. Seis dias depois de ler uma entrevista concedida por José Américo, seu ex-ministro da Viação, ao jornalista Carlos Lacerda, em que anunciava uma candidatura de oposição a uma eleição sem data marcada, o presidente assinou a Lei Constitucional nº 9.
A nova lei, porém, sofreu severas críticas da imprensa e dos setores democráticos, pois mantinha em vigor a Constituição autoritária de 1937 — a chamada “Polaca” — e definia eleições sem que fossem suspensos os mecanismos de exceção.
3 de março de 1947 – ‘Asa-branca’ põe o baião nas paradas
O sanfoneiro Luiz Gonzaga e o letrista Humberto Teixeira lançaram “Asa-branca”, terceira parceria da dupla, com o tema da migração nordestina para o Rio e para São Paulo.
“Asa-branca” faria tanto sucesso que consagraria o baião como um dos gêneros mais populares do país. O tema da canção seria constante nas composições da dupla: o exílio rural imposto aos retirantes da seca, a separação do amor, a saudade antecipada dos entes queridos e a esperança do retorno.
Gonzaga e Teixeira, eles próprios retirantes, pensaram a canção no ritmo da fuga. “’Asa-branca’ tem a cadência do povo andando, marchando. E minhas toadas também são cadência do povo retirante”, diria mais tarde o Rei do Baião — como Gonzaga ficaria conhecido.
Gonzaga tomou emprestado o baião e o lundu baiano da música regional nordestina e adaptou o som rural do sertão a uma base sonora própria. Em vez de viola, rabeca, pandeiro e botija de barro, adotou uma combinação dos sons da sanfona, da zabumba e do triângulo, dando alegria e balanço à “música do norte”.
Gonzaga também manteve expressões e temáticas regionais, que estabeleceram grande identidade entre ele e o público retirante, que também se reconheceu na indumentária peculiar usada pelo sanfoneiro durante toda a sua carreira: chapéu de couro cru, gibão de vaqueiro sertanejo, alpercata e sanfona prateada.
Março de 1956 – ‘Rio, 40 graus’ expõe o morro sem retoques
Finalmente, depois de vencer várias dificuldades, é lançado “Rio, 40 Graus”, primeiro longa-metragem do cineasta Nélson Pereira dos Santos e uma das obras mais importantes do cinema nacional. O filme tem trilha sonora de Radamés Gnattalli e Zé Ketti, fotografia de Hélio Silva e a participação de Jece Valadão como ator e diretor-assistente.
Numa época em que as grandes companhias cinematográficas perseguiam o modelo hollywoodiano, o filme inaugura uma nova linguagem, que influenciaria inúmeros cineastas e inspiraria, anos depois, movimentos como o Cinema Novo. Seria saudado pela crítica brasileira e receberia vários prêmios.
Sem interesse dos grandes produtores para o projeto, Nélson organizou uma cooperativa e vendeu cotas para realizá-lo — o que lhe valeu uma repreensão do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ao qual era filiado.
Os negativos vieram contrabandeados para o Brasil, e a câmera foi emprestada por Humberto Mauro, diretor do Instituto Nacional do Cinema Educativo (Ince).
Concluído em 1955 com baixíssimo orçamento, “Rio, 40 Graus” seria saudado pela crítica brasileira e receberia vários prêmios. Em setembro daquele ano, porém, teve a exibição proibida, em todo o território nacional, pelo chefe do Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP), coronel Geraldo de Meneses Cortes.
8 de março de 1975 – ONU oficializa o Dia Internacional da Mulher
O chamado Dia Internacional da Mulher só foi oficializado em 1975, ano que a ONU estabeleceu o Ano Internacional da Mulher para lembrar suas conquistas políticas e sociais.
O primeiro registro remete a 1910. Durante a II Conferência Internacional das Mulheres em Copenhague, na Dinamarca, Clara Zetkin feminista marxista alemã, propôs que as trabalhadoras de todos os países organizassem um dia especial das mulheres, cujo primeiro objetivo seria promover o direito ao voto feminino. A reivindicação também inflamava feministas de outros países, como Estados Unidos e Reino Unido.
No ano seguinte, em 25 de março, ocorreu um incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, que matou 146 trabalhadores – incluindo 125 mulheres, em sua maioria mulheres imigrantes judias e italianas, entre 13 e 23 anos. A tragédia fez com que a luta das mulheres operárias estadunidenses, coordenada pelo histórico sindicato International Ladies’ Garment Workers’ Union (em português, União Internacional de Mulheres da Indústria Têxtil), crescesse ainda mais, em defesa de condições dignas de trabalho.
As russas soviéticas também tiveram um papel central no estabelecimento do 8 de março como data comemorativa e de lutas. Por “Pão e paz”, no dia 8 de março de 1917, no calendário ocidental, e 23 de fevereiro no calendário russo, mulheres tecelãs e mulheres familiares de soldados do exército tomaram as ruas de Petrogrado (hoje São Petersburgo). De fábrica em fábrica, elas convocaram o operariado russo contra a monarquia e pelo fim da participação da Rússia na I Guerra Mundial.
29 de fevereiro de 2008 – MP 421 valoriza o salário mínimo
A MP, depois transformada em lei, garantiu o reajuste real do salário mínimo por meio de sua correção a partir da variação do PIB do ano anterior somada ao repasse da inflação do período. A política previa inicialmente a fórmula de valorização até 2010. Em 2011, seria renovada até 2015 e, em 2015, até 2019.
Os críticos desta política afirmavam que seus custos seriam insuportáveis para a economia, especialmente na esfera da Previdência Social. O tempo mostraria que essas críticas não tinham fundamento: os incrementos na economia e na arrecadação de tributos seriam, em média, 2,5 vezes maiores do que os custos gerados pela Previdência.
A política de valorização do salário mínimo seria uma dos principais fatores responsáveis por manter a economia aquecida durante a crise internacional iniciada em 2008 e pela ascensão da chamada nova classe C. De 2002 a 2010, o aumento real do salário mínimo atingiria a marca de 53,67%. Até 2015, chegaria a 76,54%.
De 2003 a 2010, o poder de compra do salário mínimo passaria de 1,38 cesta básica para 2,06 cestas básicas, e chegaria a 2,21 cestas básicas em 2014 (melhor poder de compra desde 1979).