Lula convida Joe Biden a lutar pela redução da desigualdade e anuncia o compromisso de fazer o Brasil chegar ao desmatamento zero na Amazônia até 2030. Casa Branca sinaliza ajuda financeira

O Brasil voltou à arena internacional disposto a mostrar que está disposto a negociar e mostrar que tem compromisso com a preservação do meio ambiente e na de defesa da democracia. Em visita a Washington, nos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a Casa Branca e abriu diálogo pelo aprofundamento da democracia, da igualdade social e da proteção do meio ambiente.

Na visita a Joe Biden, na Casa Branca, Lula defendeu a cooperação entre as duas maiores democracias das Américas. “Temos alguns problemas para trabalharmos juntos. Primeiro, nunca mais permitir que haja uma nova invasão do Capitólio, como houve aqui, e do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e da Suprema Corte, como aconteceu no Brasil”, disse.

Biden lembrou que tanto o Brasil quanto os EUA passaram por testes de força e foram alvos de extremistas. “As fortes democracias de ambas as nações foram testadas ultimamente… muito testadas”, disse Biden, no início do encontro com Lula, realizado no Salão Oval da Casa Branca. “Mas tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, a democracia prevaleceu.”

Lula disse que estava se movendo para restaurar o Brasil no cenário mundial após o mandato de Bolsonaro. “O Brasil se marginalizou por quatro anos”, lamentou o líder da esquerda nacional, que está no seu terceiro mandato à frente da Presidência da Reoública. “O mundo dele começou e acabou com notícias falsas”. Biden brincou que a reclamação de Lula “soa familiar”, numa crítica indireta a Trump.

Tanto Biden quanto Lula procuraram destacar que a democracia brasileira continua resiliente e que as relações entre as duas maiores democracias das Américas estão de volta aos trilhos. Os dois já se encontraram pessoalmente em 2009, quando Biden era vice-presidente.

Na reunião com o colega norte-americano, Lula também enfatizou que as duas nações têm um grande desafio neste século 21: combater a desigualdade e o racismo. “Especialmente a juventude negra da periferia é muitas vezes vítima da incapacidade do Estado, pois a violência que existe na periferia é a ausência do Estado com políticas públicas para garantir sonhos para a juventude”, declarou.

“A terceira coisa é a questão climática”, comentou o líder brasileiro. “Nos últimos anos, a Amazônia foi invadida devido à irracionalidade política e humana, porque tivemos um presidente que mandava desmatar, mandava garimpo entrar nas terras indígenas”, denunciou, sem citar o nome de Jair Bolsonaro. “Eu assumi o compromisso de que, até 2030, nós vamos chegar ao desmatamento zero na Amazônia”.

Após a reunião, que durou mais de uma hora e foi seguida por outro encontro do qual participaram ministros dos dois governos, Lula disse à imprensa acreditar que os Estados Unidos podem vir a contribuir com o Fundo da Amazônia, recriado em 1º de janeiro pelo governo brasileiro e com o qual já colaboram países como Noruega e Alemanha. Há duas semanas, o chanceler da Alemanha anunciou a doação de 200 milhões de euros ao Brasil para ações na defesa do meio ambiente.

“Eu tenho certeza de que os Estados Unidos, através do presidente Biden, está muito convencido da necessidade de ajudar a cuidar do mundo, sobretudo nos países que ainda têm muitas reservas florestais”, disse. Antes de encontrar o líder estadunidense, Lula se reuniu com o senador Bernie Sanders e com deputados do Partido Democrata.

“É extremamente importante para o futuro deste planeta que paremos o desmatamento da Amazônia”, disse Sanders, após sair da House Blair, onde Lula estava hospedado, em frente à Casa Branca. “Bolsonaro incentivou isso de uma forma terrível. Lula deu a volta por cima, mas o Brasil vai precisar de ajuda globalmente. A questão da Amazônia não é apenas uma questão brasileira. É uma questão global”.

A visita a Washington é a segunda viagem internacional de Lula pouco mais de um mês após tomar posse como presidente, em 1º de janeiro. No mês passado, ele visitou a Argentina e o Uruguai, fortalecendo a integração latino-americana. Em março, Lula visitará a China e, nos próximos meses, também países da África. “Estou organizando uma viagem para Angola, África do Sul e Moçambique, numa demonstração de que o Brasil vai reatar sua relação com o continente africano. É uma obrigação histórica e humanitária”, justificou.  •

`