Estrela do cinema italiano, Gina Lollobrigida deixou filmografia extensa e que merece revisão

As décadas posteriores ao final da Segunda Guerra Mundial viu um cinema de vanguarda, vigoroso e interessante emergir na Itália. Nesse cenário do fim do fascismo num país arrasado pela guerra, mais de uma geração de diretores, atores e atrizes e técnicos diversos se impôs ao cinema mundial. Além do cinema inventivo do neorealismo do imediato pós-Segunda Guerra, também vicejava um cinema popular, com fortes raízes na comédia.

Gina Lollobrigida, nascida em 1927 em Subiaco, nas montanhas a leste de Roma, foi uma das atrizes que melhor representou a efervescência do cinema italiano desse período. Ao lado de Sophia Loren e Monica Vitti,  Lollobrigida tinha a imponência física — dona de uma beleza clássica, de traços muito regulares — e o que se chama de “star quality” para virar uma diva do cinema.

Na adolescência, ela foi modelo e participou de concursos de beleza e, em 1947, ficou em terceiro lugar no concurso Miss Itália. Em seu formulário de inscrição para aquele concurso, Gina escreveu que tinha talento para atuar, mas que queria fazer algo sério com suas habilidades. 

Sua carreira começou como modelo em uma novidade daquela época, a fotonovela (ficção romântica seriada à maneira dos quadrinhos) e como figurante em filmes menores. Logo estava estreando longas-metragens como protagonista em filmes como “A Provinciana” e na comédia “Pão, amor e fantasia”.

O êxito em produções maiores na Itália impulsionou sua  carreira para além das  fronteiras de seu país, quando fez sucesso em filmes franceses como “Fanfan la Tulipe”, “Esta Noite é Minha” e “A Grande Paixão”. A participação no filme “A Mulher Mais Bonita do Mundo”, no qual ela interpreta a cantora lírica Lina Cavalieri, foi um dos seus primeiros sucessos internacionais.

Daí para chamar atenção de Hollywood, foi um pulo. Nos EUA, contracenou com Humphrey Bogart, sob a direção de John Houston, em “O Diabo Riu por Último”, em 1953. Com o cineasta Carol Reed, trabalhou em “Trapézio”. Com Jean Delannoy, deu vida à icônica e sensual Esmeralda, em “O Corcunda de Notre Dame”. E com King Vidor esteve em “Salomão e a Rainha de Sabá”.

Muitas vezes no papel de mulher sensual e voluptuosa, ela fez par em filmes com alguns dos grande atores e galãs do cinema: Marcelo Mastroianni, Frank Sinatra, Vittorio Gassman, Anthony Quinn, Sean Connery, Burt Lancaster, Rock Hudson, entre outros.

Nos anos 1970, Gina, divorciada do médico com quem estava casada desde 1949, passou a dedicar-se à fotografia e à escultura. Correu o mundo como fotojornalista, retratando personalidades das artes — Paul Newman, Salvador Dalí, David Cassidy, Audrey Hepburn, Ella Fitzgerald — e da política. Fidel Castro concedeu à Gina uma exclusiva quando já estava frente do poder na ilha rebelde. Em 1985, Gina veio ao Brasil entrevistar os atletas Paulo Roberto Falcão e Pelé para um programa de TV da RAI, o canal estatal italiano.

A atriz também dedicou-se à política e às causas progressistas. Candidatou-se ao final dos anos 1990 ao Parlamento Europeu e no ano passado para o Senado, em ambas sem sucesso. Não deixou, no entanto, de apoiar movimentos sociais, como LGBTQIAP+.

Sobre a morte de Gina, aos 95 anos, a atriz Sophia Lorena declarou-se à imprensa italiana “triste, chocada e incrédula”. A rivalidade entre as duas, alimentada pela indústria da fofoca e do jornalismo marrom levou Lollobrigida declarar-se “a número um”.

Sorte de um cinema, de um país e de um período no qual grandes atrizes, carismáticas e de carreira profícua no cinema, pudessem disputar esse pódio imaginário. Não é pouca coisa. Lollobrigida deixa o filho, Milko, e o neto, Dimitri. •

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