Celebração da democracia
Enquanto Lula cumpria sua agenda de compromissos oficiais, o dia da posse parecia não ter fim também para quem estava no gramado. Algumas estruturas amplas de tendas foram montadas na esplanada para abrigar do sol que insistia em brilhar quem ia acompanhado de crianças e idosos. Antes das barreiras policiais para a Praça dos Três Poderes, onde estão localizados o Congresso, o Palácio do Planalto e o STF, pelos gramados da esplanada, um mar de gente se movia, querendo ver o que fosse possível da presença de Lula, de novo, voltando à Presidência.
Havia o temor com relação à segurança, justificado tanto pela inação da Polícia Militar do Distrito Federal ainda no início de dezembro, quando houve o quebra-quebra no dia da diplomação de Lula e ataque à sede da Polícia Federal. Mais ainda pela descoberta, em 24 de dezembro, do caminhão-bomba no aeroporto. Mas, nas muitas horas em que os gramados entre os ministérios estiveram lotados de gente esta repórter não viu nenhuma ocorrência policial grave. O que se via era gente celebrando, com cangas estendidas no chão, circulando entre as barraquinhas de comida, achando uma sombra debaixo das árvores.
O clima de celebração tomou conta de vez às 15h30, quando o baiano Juliano Maderada, dono do grande hit da campanha de 2021 “Tá Na Hora do Jair Já Ir Embora”, entre outros que animaram comícios e atos em todo o país, entrou no Palco Elza Soares do Festival do Futuro. Maderada foi precedido da apresentação do pastor Kleber Lucas, com quem Caetano Veloso gravou “Deus Cuida de Mim”.
Enquanto isso, o clima também era de emoção no Palácio do Planalto. Depois do discurso no Parlatório, Lula ainda faria a nomeação dos 37 ministros, ainda faria a foto oficial do gabinete ministerial para só então seguir para uma recepção no Itamaraty. Para lá, ainda tinham mais convidados, incluindo alguns chefes de Estado e suas comitivas, ministros, parlamentares e membros do Grupo de Transição. Foi justamente nesse início de noite que o Festival do Futuro começou a ficar com clima de festa.
Mais uma vez, a diversidade deu o tom. E aí estamos falando de todas as diversidades que cabem na cultura brasileira. Cantaram artistas do rap, como Fióti, Gog e Ellen Oléria. Mas também do samba e da MPB — de Martinho da Vila a Teresa Cristina, passando por Maria Rita, Jards Macalé, Chico César, entre muitos outros. Também estavam lá estrelas do pop e rock, como Odair José, Paulo Miklos, Leoni e Fernanda Takai. E, claro, do funk carioca, com Valeska Popozuda.
Expoentes da moderna música brasileira, de forte raiz regional, subiram ao palco e se sucediam no comando da massa. Foi assim com a paraense Gaby Amarantos, o pernambucano Otto e a baiana Duda Beat. Ainda tinham popstars LGBTQIA+, como Pablo Vittar e Johnny Hooker. E todos os tons da matriz ancestral, negra e indígena foram plasmados nas vozes e performances de Paula Lima, Rappin’ Hood, Salgadinho e Kaê Guajajara.
Lula ainda teve fôlego para voltar, desta vez ao palco do festival, e falar ainda mais uma vez, num gesto impressionante de generosidade, que espelhou a festa de vitória na Avenida Paulista, em São Paulo. “Obrigado a vocês todos por existirem e fazer o que fizeram”, disse Lula, acompanhado ainda de Janja, Dona Lu e Geraldo Alckmin. “Estou aqui de novo subindo a rampa do Planalto mais uma vez para provar que podemos mudar esse país”. Em seguida, mandou um beijo na boca de Janja. O público delirou. Mas era apenas o preâmbulo de um novo salto nas expectativas e alegria da audiência.
Já na virada de 2 de janeiro, entrou no palco o Baiana System, que fez um show longo e dançante, com a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes. Saudada pelos gritos de “ministra, ministra”, a estrela cantou “Faraó – Divindade do Egito”, que se tornou sua marca registrada. Os shows entraram madrugada adentro, com as últimas apresentações no palco quase no raiar do dia.
No dia seguinte, nem bem tinha sido desligado o som dos palcos, Lula começaria, às 9h da manhã, o primeiro dia de do seu terceiro mandato, com muito trabalho pela frente, mas banhado da alegria que atravessou a Esplanada e ancorou no Palácio do Planalto. •