Na Justiça Eleitoral, Lula dedica o diploma de presidente eleito ao povo pela “reconquista da democracia”. Emocionado, lembrou os retrocessos e reveses: “Quero pedir desculpas pela emoção, porque quem passou pelo que eu passei nesses últimos anos, estar aqui, agora… é a certeza de que Deus existe”

A vitória da democracia e o início do processo de reconstrução nacional deram o tom da solenidade de diplomação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice Geraldo Alckmin, na segunda-feira, 12. Lula foi saudado aos gritos de “boa tarde, presidente” e ouviu, emocionado, uma salva de palmas quando o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, proclamou sua diplomação com 60,3 milhões de votos, no resultado das eleições presidenciais.

Emocionado, Lula dedicou o diploma ao povo brasileiro, que reconquistou o direito de viver em democracia. “Vocês ganharam esse diploma”, disse. Ele chegou a chorar ao proferir seu discurso. “Na primeira diplomação, em 2002, lembrei da ousadia do povo brasileiro, em conceder, para alguém tantas vezes questionado por não ter diploma universitário”, declarou, sob lágrimas.

Ele tentou se justificar diante da emoção: “Quero pedir desculpas pela emoção, porque quem passou pelo que eu passei nesses últimos anos, estar aqui, agora… é a certeza de que Deus existe e de que o povo brasileiro é maior do que qualquer pessoa que tentar o arbítrio nesse país”.

A cerimônia contou com a presença de autoridades do Judiciário, Executivo e Legislativo, entre mais de 1 mil convidados, incluindo os ex-presidentes Dilma Rousseff e José Sarney. Também compareceram os presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), além de presidentes de tribunais superiores, como Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Lula disse que o triunfo da democracia ocorreu pelo esforço dos movimentos sociais, dos militantes e líderes políticos que têm compromisso com o povo e com o próprio país. “Poucas vezes na história recente a democracia esteve tão ameaçada, a vontade popular foi tão colocada à prova e teve que vencer todos os obstáculos para enfim ser ouvida”, lembrou o presidente eleito.

Ele também destacou o papel das instituições, em especial do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para que prevalecesse a vontade popular, enfrentando “toda sorte de ofensas, ameaças e agressões para fazer valer a soberania do voto popular”.
O presidente apontou as diferenças entre seu projeto, de reconstrução do país com participação popular, e do derrotado Jair Bolsonaro, de destruição do Estado. Lula ainda destacou o papel que a frente ampla formada em torno de sua candidatura teve na vitória da democracia. “Tive o privilégio de ser apoiado por uma frente de 12 partidos no primeiro, aos quais se somaram mais dois no segundo turno”, disse.

SOLENIDADE Ao lado do vice Geraldo Alckmin, Lula recebeu o diploma de presidente eleito em cerimônia realizada no Tribunal Superior Eleitoral

“Uma verdadeira frente ampla contra o autoritarismo que hoje, na transição de governo, se amplia para outras legendas e fortalece o protagonismo de trabalhadores, empresários, artistas, intelectuais, cientistas e lideranças dos mais diversos e combativos movimentos populares do país”, elencou. “Essa frente se formou em torno de um firme compromisso em defesa da democracia, a origem da minha luta e o destino desse país”.

Lula tratou da situação de destruição das políticas públicas provocada por Jair Bolsonaro e os ataques ao poder público institucional, a partir de um diagnóstico dos 31 grupos de trabalho do gabinete de transição, reunido no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília. “Some-se a esse legado perverso, que recai principalmente sobre a população mais necessitada, o ataque sistemático às instituições democráticas”, afirmou.

O petista falou dos desafios que a democracia enfrentará, não apenas no Brasil mas em âmbito mundial, com o recrudescimento da extrema direita. “Na América Latina, na Europa e nos EUA, os inimigos da democracia se organizam e se movimentam, usam e abusam dos mecanismos de manipulações e mentiras, disponibilizados por plataformas digitais que atuam de maneira gananciosa e absolutamente irresponsável”, alertou.

O presidente falou da necessidade de uma nova governança global que estabeleça uma legislação internacional mais dura e eficiente no combate às mentiras de grupos extremistas. “A máquina de ataque à democracia não tem pátria nem fronteira”, advertiu.

COMPROMISSO Com os ex-presidentes Dilma e José Sarney, Lula disse que está empenhado em melhorar a vida do povo brasileiro já em 2023

Ele também defendeu uma comunicação democrática, inclusiva e livre de fake news. “Que fique bem claro: jamais renunciaremos à defesa intransigente da liberdade de expressão, mas defenderemos até o fim o livre acesso à informação de qualidade, sem mentiras e manipulações que levam ao ódio e à violência política”, avisou.

Ele reforçou que o período recente da história brasileira, em especial durante as eleições, deve servir de alerta para que a sociedade nunca mais permita os ataques que foram feitos à democracia. “É necessário tirar uma lição deste período recente em nosso país e dos abusos cometidos no processo eleitoral. Para nunca mais esquecermos. Para que nunca mais aconteça”, pediu.

“Democracia, por definição, é o governo do povo, por meio da eleição de seus representantes. Mas precisamos ir além dos dicionários”, explicou. “O povo quer mais do que simplesmente eleger seus representantes, o povo quer participação ativa nas decisões de governo”. E lembrou: “Democracia é ter alimentação de qualidade, é ter emprego, saúde, educação, segurança, moradia”.

“É com o compromisso de construir um verdadeiro Estado democrático, garantir a normalidade institucional e lutar contra todas as formas de injustiça, que recebo pela terceira vez este diploma de presidente eleito do Brasil – em nome da liberdade, da dignidade e da felicidade do povo brasileiro”, concluiu Lula. •

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