O jeito brasileiro de jogar vôlei

Ícone do esporte feminino, Isabel Salgado brilhou no vôlei de quadra e de praia e atuou como técnica. Esportista brilhante, integraria o grupo de Esporte da equipe de transição

 

No final dos anos 1970, quando Isabel Salgado já jogava profissionalmente pelo Flamengo, os times que dominavam as quadras eram de grandes potências esportivas: Cuba e Estados Unidos, nas Américas; Itália e Alemanha Ocidental e Oriental, na  Europa; União Soviética e Japão, na Ásia. Esporte que exige uma enorme habilidade técnica, estratégia e, sim, força física, o voleibol de alto nível tornou-se um espetáculo de movimentos graciosos, saltos inacreditáveis, salvadas de bola milagrosas: é um esporte que se presta muito a ser assistido na TV e a ter uma torcida apaixonada.

Maria Isabel Barroso Salgado participou como titular da Seleção Brasileira de vôlei das duas últimas Olimpíadas da Guerra Fria: Moscou, em 1980, e Los Angeles, em 1984. Ao lado de Jacqueline e Vera Mossa, essas jogadoras ágeis, brilhantes encantaram o mundo — e uma geração de meninas brasileiras. Se as décadas anteriores foram as do futebol, nos anos 1980, o quente era jogar vôlei — na praia, nas quadras, em rodas nas ruas e nas escolas.

Isabel começou a jogar cedo, no time juvenil do Flamengo. Com 13 anos de idade, já era titular do time e foi convocada para a Seleção Brasileira Juvenil, que conquistou o ouro no Campeonato Sul-Americano de Voleibol Feminino Sub-20, em La Paz (Bolívia), em 1976. Quando foi à primeira Olimpíada, não tinha ainda completado 18 anos.

Jogadora talentosa e versátil, Isabel exercia liderança dentro das quadras. Jacqueline Silva, companheira de seleção e com quem, mais tarde, formou uma dupla de vôlei de praia, relembra a amiga: “Jogou vôlei no mais alto nível e fez com que o esporte saísse do caráter de amador para se tornar profissional. Era musa quando o esporte ainda não era nada. Uma pessoa intensa, com uma história linda dentro e fora de quadra. Fez tudo isso ainda sendo mãe, com uma família linda”.

Mais do que apenas uma “musa”, Isabel foi um ícone do esporte feminino. Jogou grávida, levou a família toda quando se transferiu para um time na Itália, abandonou uma carreira segura no vôlei de quadras para se dedicar ao vôlei de praia, modalidade na qual o Brasil passaria a se destacar em campeonatos mundiais e Olimpíadas. E foi técnica, tanto nas quadras quanto na praia. Teve seis filhos, três dos quais são estrelas do vôlei de praia: Maria Clara, Carol Solberg e Pedro Solberg. 

Mais recentemente, integrou com Walter Casagrande o coletivo Esporte pela Democracia, coletivo de ex-atletas profissionais dedicado a discutir políticas públicas para o esporte. Por sua atuação e posições progressistas, Isabel foi convidada  a integrar a equipe de Esporte do grupo de transição do governo Lula.

Morreu aos 62 anos, em São Paulo, antes de ir à Brasília para começar a participar dos trabalhos da transição. Em sua homenagem, Aloizio Mercadante sugeriu à diretoria do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, que uma sala de cinema do espaço seja rebatizada com o nome da atleta. •