O antibolsonarismo

É na piora do cenário econômico que reside a grande rejeição à possibilidade de reeleição do presidente. Em todas as pesquisas, o índice de aversão ao modo como o governo conduz a economia ultrapassa a marca dos 55%

 

As mais recentes pesquisas de opinião divulgadas demonstram que a rejeição ao presidente Jair Bolsonaro segue alta e não dá sinais de diminuir ao ponto de elevar o teto eleitoral do candidato, como demonstramos no último artigo, publicado na edição 66 da revista Focus Brasil. Nesta semana, trazemos dados que dão elementos para entender no que consiste esse ‘anti-bolsonarismo’.

Se compararmos o patamar de rejeição eleitoral do atual presidente — o total de eleitores que dizem que não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum — com outros indicadores, é possível reforçar algo que o Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe), da Fundação Perseu Abramo vem apontando: a economia é a grande impulsionadora dessa rejeição.

É possível notar que os patamares de percepção de piora na economia brasileira e os de rejeição ao presidente sempre se aproximaram de acordo com a série história do instituto Quaest, que realiza suas pesquisas via metodologia presencial em parceria com a Genial Investimentos.

Na última rodada, 59% dos eleitores reprovam Bolsonaro e 64% veem a economia no caminho errado. A Quaest também demonstra que 54% dos brasileiros deixaram de pagar alguma conta no último período, e que para 59% a situação econômica influencia muito no voto.

Na pesquisa mais recente da FSB, realizada por meio de coleta telefônica, em parceria com o banco BTG Pactual, o número dos que rejeitam o atual presidente é o mesmo dos que veem piora econômica no país: 58%. Ainda, o instituto demonstra que o número também é igual ao total de eleitores que desaprovam a maneira a qual Bolsonaro governa o país.

O antibolsonarismo

A mesma pesquisa FSB/BTG, a mais recente divulgada entre as que o Noppe acompanha, traz elementos semelhantes aos demonstrados na semana passada. A piora no poder de compra causado pela inflação compõe uma das grandes insatisfações dos brasileiros com a economia.

Segundo o instituto, 94% dos eleitores consideram que houve aumento nos preços nos últimos três meses, sendo que 83% consideram que os preços de produtos e serviços “aumentaram muito”.

Houve uma queda na expectativa de piora da inflação no próximo trimestre, de 65% para 54%, além de 17% que esperam manutenção. A soma dos que não votariam de jeito algum em Bolsonaro, segundo o instituto, permanece no mesmo patamar desde março deste ano, quando se iniciou a série. Em janeiro eram 59%, hoje são 58%.

No momento atual, é possível dizer que, se as eleições presidenciais fossem hoje, o antibolsonarismo, impulsionado pela crise econômica, decidiria a eleição. O governo federal, ao se deparar com isso — apesar do presidente e dos bolsonaristas dizerem que não acreditam em pesquisas —, tenta uma possível última cartada na esfera econômica: a PEC do Desespero.

Com uma série de aumentos nos benefícios sociais e criação de novos programas, por meio da liberação extraordinária de orçamento às vésperas da eleição, o presidente tenta convencer a população de que seu governo pode promover algum bem-estar para os brasileiros. É uma tentativa derradeira do presidente de pedir ao país que esqueça seu comportamento e o do governo nos outros três anos e sete meses de mandato.  •