Em longo texto analítico, a agência de notícias destaca que os militares em torno de Bolsonaro se mobilizam e podem desencadear um movimento para perturbar as eleições de outubro

 

Reportagem da Bloomberg, distribuída na última semana e reproduzida na quinta-feira, 14, pelo diário estadunidense Washington Post, um dos mais influentes do mundo, destaca o clima de incerteza que ronda as eleições presidenciais no Brasil: Missão militar ameaça a democracia do Brasil.

A análise é de Clara Ferreira Marques que alerta que, desde o fim da ditadura militar no Brasil, há quase quatro décadas, generais não tinham tanta influência política. “Entre oficiais da ativa e da reserva, eles policiam a Amazônia e os zonas quentes urbanas, ocupam cargos executivos em empresas estatais, estenderam seus cargos no governo federal e até ajudaram a administrar um número crescente de escolas”, relata. 

“Agora, as Forças Armadas entraram no espinhoso debate sobre a votação eletrônica e planejam ajudar a supervisionar a eleição presidencial de outubro. Em uma democracia, é um passo longe demais”, aponta. “Mesmo para os padrões de um país que varreu os excessos repressivos dos anos 1960 e 1970 para debaixo do tapete, o presidente tem sido um torcedor das Forças Armadas”. 

A articulista aponta que, apesar de todas as ambições golpistas do presidente, um golpe nos moldes do ataque de 6 de janeiro ao Capitólio dos EUA permanece improvável. “Especialmente se, como sugerem pesquisas, o ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva vencer por ampla margem”, escreve. 

“Existem outras possibilidades tóxicas, digamos, um surto de violência que resulte em soldados sendo chamados para restaurar a ordem. Eventos isolados como o assassinato de um ativista pró-Lula neste fim de semana por um apoiador de Bolsonaro são bons motivos para alarme”, adverte. 

“A ameaça de longo prazo muito mais grave à democracia, no entanto, é menos dramática e já real: o grande número de oficiais atuais e antigos em todos os tipos de funções civis, uma presença que promove a deferência às capacidades supostamente superiores dos militares e corrói o controle dos civis. Isso inclui o rastejamento da missão eleitoral”, destaca.

Ela diz que militares há meses amplificam as alegações de Bolsonaro de fraude eleitoral. “Nunca tendo feito isso antes, as Forças Armadas começaram a levantar questões sobre o processo de votação eletrônica a partir do final de 2021 e agora apresentaram dezenas de consultas, além de sugestões de mudanças”, observa.

“As tendências autoritárias indisfarçadas de Bolsonaro não oferecem nenhuma garantia. Ele procurou reabilitar a ditadura militar, rotulou um torturador como um ‘herói nacional’, disse que só Deus o removerá do cargo e semeou conversas infundadas sobre uma ‘sala secreta’ para contagem de votos – enquanto permite que seus filhos tuitem memes de Stalin sugerindo que a esquerda vai manipular as eleições”, escreve. •

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