Na Amazônia, ativistas ambientais e líderes sociais sempre tiveram cabeça a prêmio. A diferença é que, agora, o Estado brasileiro é omisso e negligente, estimulando as atividades ilegais na floresta

 

 

É triste constatar que a vida humana no Brasil tem pouco valor e os atuais governantes dão de ombros quando uma tragédia resulta na perda da vida de ativistas sociais e ambientais, como agora na morte de Dom Phillips e Bruno Pereira. Ambos foram mortos numa Amazônia que se transformou em terra sem lei, retrato do Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro.

O Brasil está entre os países com maior número de assassinatos de defensores da terra e do meio ambiente, segundo a ONG Global Witness. Em 2020, foram 20 assassinatos no país, que ocupa a quarta posição entre 22 nações monitoradas. “É muito forte, é muito parecido”, disse à CNN a irmã do ambientalista José Cláudio Ribeiro, assassinado no Pará em 2011.

A Amazônia Legal, que se expande para além do Amazonas e engloba os estados do Pará, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso, Rondônia, Acre, Roraima e Amapá, é uma região rica em biodiversidade e abriga inúmeras comunidades indígenas – o Vale do Javari é o local com a maior concentração de povos isolados do mundo. Pela sua riqueza e localização, fazendo fronteira com sete países, é alvo de garimpeiros, grileiros, narcotraficantes, madeireiros, pescadores e caçadores ilegais.

Defensores da região e de seus povos são constantemente alvos de criminosos. Ameaças contra pessoas que trabalham na região de Atalaia do Norte, onde o indigenista e o jornalista inglês desapareceram, têm crescido, segundo relatou a auxiliar de coordenação da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Soraya Zaiden, em entrevista à CNN.

No governo Bolsonaro, outros episódio de violência contra defensores e líderes indígenas ocorreram. Em setembro de 2019, o funcionário da Funai Maxciel Pereira dos Santos foi morto a tiros  em Tabatinga (AM). Assim como Bruno, ele trabalhava no Vale do Javari. Nunca descobriram os responsáveis. Outro caso que aguarda julgamento é o do assassinato do líder indígena Paulo Paulino Guajajara, que integrava o grupo Guardiões da Floresta, no Maranhão.

Outros casos com grande repercussão internacional ocorreram em décadas anteriores, mas não pesava sobre o Estado brasileiro a cumplicidade com criminosos, como nos tempos de Bolsonaro. Em 20015, a missionária norte-americana Dorothy Stang foi assassinada e atuava na Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Anapu, no Pará.

Mesmo ameaçada de morte, Dorothy seguida com sua atividade pastoral e buscava a geração de emprego e renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas, junto aos trabalhadores rurais da área da Rodovia Transamazônica. Ela também lutava pela redução dos conflitos agrários na região.

A religiosa foi morta com seis tiros no lote 55 do Projeto de Desenvolvimento Sustentável  Esperança, em 2005. O assassinato, motivado por disputa de terras, foi encomendado pelos fazendeiros Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão, conhecido como Taradão, condenado a 30 anos de prisão.

Em 1988, o seringueiro Chico Mendes, líder sindical no Acre e fundador do PT no estado, foi assassinado em 22 de dezembro de 1988, em uma emboscada nos fundos de sua casa. Era alvo de Darly Alves, grileiro de terras com histórico de violência em vários lugares do Brasil. Ele e o Darci Alves foram condenados em 1990 a 19 anos de prisão em regime fechado. •

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