Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro posa de paladino da moralidade, mas buscou manter longe dos olhos do público que amealhou R$ 3,7 milhões em consultoria que prestou serviço a empreiteiras envolvidas na Lava Jato

 

 

Em apenas um ano como sócio da empresa Alvarez & Marsal, a consultoria americana que atuou para empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro passou de servidor público a milionário. O chefe da força-tarefa, que promoveu um conluio com procuradores da República, amealhou nada menos que R$ 3,7 milhões como consultor. Ele levaria oito anos como juiz para juntar esse dinheiro.

A informação foi confirmada pelo próprio Moro, durante transmissão ao vivo nas redes sociais realizada na sexta, 28, ao lado do deputado federal Kim Kataguiri (PD-SP), um dos líderes do movimento golpista MBL, que atuou no impeachment de Dilma Rousseff e apoiou o Golpe de 2016.

A dinheirama ganha pelo ex-juiz numa empresa de consultoria tornou-se objeto de investigação há menos de um mês, quando o Tribunal de Contas da União (TCU) questionou a contratação de Moro. Isso porque Alvarez & Marsal foi nomeada judicialmente para administrar a recuperação judicial de firmas que foram alvos da Lava Jato — em sentenças assinadas pelo próprio ex-juiz —, como a empreiteira Odebrecht.

O TCU instaurou procedimento, sob a relatoria do ministro Bruno Dantas, para averiguar suposto conflito de interesse na atuação de Moro. Além disso, parlamentares iniciaram um movimento para a instalação de uma CPI no Congresso para investigar o caso. “Nós sempre denunciamos os picaretas da República de Curitiba”, criticou o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS).

O advogado e ex-deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) lembrou que Moro não foi empregado da Alvarez & Marsal, como chegou a alegar. “Ele era sócio diretor”, alerta. “As empresas quebradas por ele contrataram a Alvarez para promover a reestruturação financeira e não mera recuperação judicial. São milhões de reais. Moro abocanhou muito mais do que diz”, sustenta o advogado.

O processo no TCU foi iniciado em dezembro, após representação dosubprocurador-geral Lucas Rocha Furtado. Ele quer esclarecimentos sobre eventuais prejuízos aos cofres públicos a partir da prática ilegítima denominada “revolving door” — na qual servidores públicos atuam como consultores na iniciativa privada nas mesmas áreas em que trabalhavam anteriormente.

Em documentos enviados ao TCU, a Alvarez & Marsal expôs que, até dezembro, recebeu R$ 42,5 milhões em honorários de empreiteiras investigadas pela Lava Jato ao administrar seus processos de recuperação judicial: Galvão Engenharia, OAS e empresas do Grupo Odebrecht.

Na última semana, o jornal Folha de S.Paulo revelou que Moro recebeu R$ 200 mil por parecer de 54 páginas que emitiu em novembro em resposta a uma consulta do empresário israelense Beny Steinmetz, em um caso de litígio internacional bilionário contra a brasileira Vale do Rio Doce. •

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