O fenômeno do rock nacional explodiu no início da década de 1980, quando estouraram os primeiros discos do que se convencionou chamar naquela época de novo iê-iê-iê ou a niuêive brasileira. E o primeiro grande sucesso foi nada menos do que o compacto “Você não soube me amar”, lançado em julho de 1982.

“Sabe essas noites que você sai caminhando sozinho/ De madrugada, com a mão no bolso”, cantava Evandro Mesquita, ao passo que Fernanda Abreu e Márcia Bulcão emendavam: “Na ruaaaaaaaaaa”. A canção ganhou as rádios do país, virou a mais pedida e não havia um jovem naquela ocasião que não soubesse cantá-la. Uma polaroide bem-humorada e certeira sobre a juventude de classe média do país.

Foi graças à Blitz, um esforço músico-poético-teatral de jovens artistas urbanos cariocas egressos de experiências diversas, como Asdrúbal Trouxe O Trombone e as mitológicas bandas de rock progressivo Vímana, A Bolha e Mutantes, na fase terminal, que a música jovem brasileira tomou de assalto o país.

O rock brasileiro feito pela banda atingiu praticamente todas as classes sociais, transformando-se no primeiro fenômeno de massa feito por jovens e para jovens. E olha que a ditadura militar ainda não havia sido sequer enterrada. A canção e a banda foram a porta de entrada para uma moçada ávida por mudança.

Embora desafiando a censura – o primeiro disco da Blitz tinha duas músicas que simplesmente foram inutilizadas para audição: “Cruel, cruel, esquizofrenético blues“ e “Ela quer morar comigo na lua“ – o grupo fez sua contribuição para a consolidação do pop/rock brasileiro.

Foi o sinal verde para músicos e gravadoras e um prenúncio de que alguma coisa nova estaria por vir e poderia ser consumida em larga escala, como demonstrara o compacto “Você não soube me amar”, que chegou a vender espantosamente 1 milhão de cópias. Isso em pleno regime militar!

Um compacto maroto, com apenas uma faixa – o outro lado não tinha uma canção propriamente dita, mas um poema-happening: a repetição exaustiva do famoso trecho de “Você não soube…”: “Nada, nada, nada, nada…”. Foi o bastante, contudo, para que fosse aberta a válvula de escape para a juventude que ainda não tinha vez e nem voz.

Em 15 de janeiro de 1982, a banda subia no palco do Circo Voador, maior casa de shows carioca da época, tocando pela primeira vez sob o nome de Blitz. O quinteto foi batizado por Lobão, baterista do grupo. 

A repercussão chamou atenção da EMI, que assinou contrato com a banda e, em 20 de julho, era lançado o primeiro single. Em três meses o compacto vendeu 100 mil cópias, tornando-se a canção de maior sucesso deles. Na sequência foi lançado o primeiro álbum, As Aventuras da Blitz 1, que vendeu 300 mil cópias e gerou grande repercussão pela mistura de canções bem-humoradas e figurinos futuristas.

O grupo estourou e se tornou o mais importante nesta primeira fase do rock oitentista nacional. O sucesso comercial rendeu turnês em todo o país e catapultou a banda ao megaestrelato. E o rock brasileiro, que então era apenas um nicho no mercado fonográfico nacional, tornou-se um movimento que renovou a música popular brasileira e abriu espaço para uma nova geração de músicos. Mas isso é outra história. •

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