Presidente eleito do Chile, Gabriel Boric escolheu 14 ministras e 10 ministros, em governo de perfil moderado. A neta do ex-presidente Salvador Allende assume a Defesa

 

O presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, promove uma revolução no país vizinho ao anunciar um gabinete de governo com presença majoritária de mulheres. Serão 14 ministras e 10 ministros, incluindo a neta do ex-presidente socialista Salvador Allende — deposto e assassinado durante o Golpe de Estado liderado pelo General Augusto Pinochet, em 11 de setembro de 1973 — Maya Fernanda Allende, que assume o Ministério da Defesa. Ela será a chefe das três Forças Armadas.

Maya é filha de Beatriz Allende Bussi, a mais política das filhas do ex-presidente, cruelmente assassinado durante o bombardeio ao Palácio La Moneda. Seu pai é o diplomata cubano Luis Fernández Oña, que integrou o Departamento de América do Partido Comunista de Cuba e fazia a relação do regime com os partidos e movimentos de esquerda na América Latina.

Bióloga, veterinária e militante do Partido Socialista, Maya nasceu em Santiago em setembro de 1971, quase um ano após a chegada do governo da Unidade Popular ao poder. Após o golpe de 1973, ela e a família passaram a viver no exílio, em Havana. Ela viveu em Cuba por 20 anos.

O presidente eleito saudou a formação do governo ressaltando a pluralidade e a diversidade. “Temos certeza que a riqueza do Chile está, justamente, na diversidade da nossa gente”, disse Gabriel Boric em pronunciamento. Aos 35 anos, ele tomará posse em 11 de março. O novo mandatário qualificou a formação ministerial como “diversa”, com pessoas de origens e formações distintas: “O gabinete tem a missão de lançar as bases para as grandes reformas que nos propusemos realizar em nosso programa”.

Entre as ministras estão Izkia Siches (Ministério do Interior e Segurança Pública), médica que chefiou a campanha vitoriosa de Boric e presidiu o Colégio Médico do Chile durante o enfrentamento da pandemia da Covid-19. A ex-prefeita e deputada do Partido Radical por Antofagasta Marcela Hernando vai para o Ministério de Mineração. Ex-presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Antonia Urrejola assumirá o Ministério das Relações Exteriores.

A deputada do Partido Comunista Camila Vallejo Dowling, ex-líder estudantil, vai ocupar a Secretaria Geral de Governo. Ela surgiu nas lutas do movimento estudantil em 2006 e ganhou reconhecimento da Anistia Internacional pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos.

A médica sanitarista Jeanette Vega assumirá o Ministério de Desenvolvimento Social e da Família. Ela foi subsecretária de Saúde Pública, diretora do Fundo Nacional de Saúde e do Instituto Nacional de Saúde Pública. A antropóloga Julieta Brodsky estará no Ministério das Culturas e a jornalista Antonia Orellana, no Ministério da Mulher.

A ex-jogadora de futebol, professora de educação física, ativista e filha de militante assassinada na ditadura, Alexandra Benado assumirá o Ministério dos Esportes. Já Marisa Rojas estará à frente do Ministério do Meio Ambiente e a advogada Javiera Toro, no Ministério de Bens Nacionais.

A médica María Begoña Yarza ocupará o Ministério da Saúde e a ex-subsecretária da Previdência durante governo Bachelet Jeanette Jara vai assumir o Ministério do Trabalho e Previdência Social. A socióloga Marcela Ríos estará à frente do Ministério da Justiça.

Dentre os homens, um dos destaques do gabinete de Boric é o atual chefe do Banco Central do Chile, Mario Marcel, que vai assumir o Ministério da Fazenda. Moderado ligado ao Partido Socialista, Marcel terá entre seus desafios promover a reforma tributária prometida por Boric.

Ainda fazem parte do governo de Boric: Giorgio Jackson (Secretaria-Geral da Presidência), Nicolás Grau (Economia), Marco Antonio Ávila (Educação), Juan Carlos García (Obras Públicas), Carlos Montes (Habitação), Esteban Valenzuela (Agricultura), Juan Carlos Muñoz (Transportes e Telecomunicações), Claudio Huepe (Energia) e Flavio Salazar (Ciência e Tecnologia). •