Governo joga o país na UTI, ao conduzir uma política econômica que deixou a inflação superando a marca 10% e o país com 14 milhões de desempregados. E vai piorar: a gasolina e o diesel subiram de novo em janeiro. É a agenda ultraliberal de Guedes

 

Ao completar três anos de governo, Jair Bolsonaro tem muito a mostrar com a adoção da agenda ultraliberal de Paulo Guedes, que já vinha sendo adotada desde que o Golpe de 2016 retirou Dilma Rousseff da Presidência da República e colocou Michel Temer no poder. O IBGE divulgou no início de janeiro o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subindo 10,06%, mais que o dobro dos 4,52% registrados em 2020.

E o fantasma da inflação permanecerá assombrando os brasileiros ao longo de 2022. Quem alimenta a alta dos preços é o próprio governo, ao praticar uma equivocada política de dolarização do petróleo, conduzida de maneira criminosa pela Petrobrás. Em 2021, a gasolina ficou 47,49% mais cara. O diesel, 46,04%. O preço do gás de cozinha subiu 36,99% no último ano. O preço do etanol está 62,23% mais caro do que no início de 2021. E a conta de luz ficou 21,21% mais cara. “Em média, os combustíveis para veículos ficaram 49,02% mais caros”, aponta o economista Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo.

E a situação vai piorar. Na quarta-feira, 12, a Petrobrás anunciou um novo ajuste, de aumento médio de 8% do preço do diesel nas refinarias e de 4,85% da gasolina nas distribuidoras, após a divulgação de inflação recorde no país. A decisão da estatal beneficia e gera mais lucros para os acionistas privados, sabotando a possibilidade de retomada do crescimento econômico e prejudicando os mais pobres ao gerar um efeito cascata sobre os preços da economia. Curioso é que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, atribui a alta da inflação no ano passado a fatores externos.

Em dezembro, todos os grupos de produtos e serviços pesquisados apresentaram alta. E todas as regiões brasileiras também. O resultado de 2021 foi influenciado principalmente pelo grupo transportes, que apresentou a maior variação (21,03%) e o maior impacto (4,19 pontos percentuais) no acumulado do ano. Essa alta está relacionada principalmente ao comportamento do preço dos combustíveis (49,02%) ao longo de 2021. A empresa dirigida pelo general Joaquim Silva e Luna anunciou no sábado, 8, que não pode “fazer política pública”.

A política econômica de Paulo Guedes mostra outro resultado impactante. O Brasil tem a segunda tarifa de energia mais cara do mundo. E, em 2022, estaremos no pódio com o kW mais caro de todo o planeta. O motivo é a sanção, por Bolsonaro, da lei que que obriga o uso de usinas termelétricas movidas a carvão mineral até 2040 em Santa Catarina.

Conforme o IBGE, ano passado, as mudanças no valor da cobrança extra sobre as contas de luz foram decisivas para o resultado do item no IPCA, especialmente em julho e setembro. No primeiro mês, foi reajustada a bandeira vermelha patamar 2, e em setembro foi criada a bandeira escassez hídrica, que deve ser mantida até abril de 2022.

Supervisora de pesquisas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Patrícia Costa denuncia que Bolsonaro quer reduzir inflação “apostando na fome do brasileiro” — diferente do que fizeram os governos do PT. “Vai ficando cada vez mais difícil para o consumidor ter acesso a alimentos básicos. O real perde valor em relação ao dólar, o que estimula a exportação”, explica.

“Os produtores vão olhando para o mercado externo que tem demanda e olham para dentro e veem um mercado interno deprimido, sem renda, em que o trabalho é cada vez mais espremido, com menores rendimentos e sem geração de empregos. E a opção deles é mandar os alimentos para fora.”

Políticas públicas como a dos estoques reguladores da Conab, que poderiam frear esse movimento, afirma a economista, foram esvaziadas. “O governo nunca deu muita bola para isso porque não houve nenhum tipo de intervenção que fosse capaz de minimizar toda essa inflação. Ele está deixando a inflação subir porque acha que em 2022 ela vai cair”, prossegue.

“A gente não pode deixar que a inflação caia porque as pessoas estão comendo menos, ou comprando menos. Baixar a inflação por conta da fome do brasileiro é extremamente complicado, uma opção difícil e eu diria até perversa”, lamenta. “Este é um país que não cresce, não gera empregos e nem renda suficiente para que sua população, principalmente a mais pobre, possa comer. Esse é o país em que a gente vive hoje”.